Aluna: Sonia Regina Carneiro de Sant’Anna

Quais as possíveis consequências de um ambiente invalidante para a criança?

Sabe aquela velha historinha de que meninos não podem chorar, pois choro não é coisa de homem? Esse é um exemplo clássico de ambiente invalidante. Mas o que seria tal ambiente?

Um ambiente invalidante é aquele onde a comunicação de experiências privadas de crianças, emoções, ideias, sensações- é estabelecidas com respostas erráticas, inadequadas ou extremas. Em outras palavras, a expressão das experiências privadas não é validada. Pelo contrário, costuma ser punida e/ ou banalizada. A experiência de emoções dolorosas, bem como os fatores que, para a criança que sente a emoção, parecem ser a causa da pertubação emocional, é desconsiderada.

Imagina uma criança pequena que sente medo (emoção) porque acredita que tem um bicho embaixo da sua cama (causa) e os pais dizem que não tem nada ali e não é para ela fazer escândalo. Em outro exemplo, pense numa criança que sente tristeza (emoção) porque um animal de estimação morreu (causa) e os pais dizem que era só um bicho e é só comprar outro. Ou ainda, visualiza que criança que está feliz (emoção) porque tirou uma nota alta na escola (causa) e os pais dizem que não é para se sentir assim e que não fez mais do que a obrigação. Do mesmo modo, imagina uma criança que diz que gostou de uma roupa e os pais dizem que ela não sabe nada e quem escolhe são eles….

Todos esses são exemplos muito simples de um ambiente invalidante. A invalidação, tem duas características principais. Em primeiro lugar, ela diz ao indivíduo que ele está errado em sua descrição e em suas análises das suas próprias experiências, particularmente em suas visões sobre o que está causando suas emoções, crenças e ações. Em segundo lugar , atribui suas experiências a características ou traços de personalidade que são socialmente inaceitáveis (medroso, irritante, hiperativo, sonhador, etc). O que pode acontecer, se o ambiente for sistematicamente invalidante ao longo da infância e adolescência?

1. Inicialmente, por não validar a expressão emocional, o ambiente invalidante não ensina a criança a rotular suas experiências privadas (como dar nomes as suas emoções). A criança não aprende a modular a excitação emocional. Como os problemas da criança emocionalmente vulnerável não são reconhecidos, existe pouco esforço para resolvê-los. Fala-se que a criança deve controlar as emoções, ao invés de ensiná-la exatamente como fazer isso.

2. Em segundo lugar, simplificando a facilidade de resolver os problemas da vida (“é só comprar um animal de estimação novo”), o ambiente não ensina a criança a tolerar a tensão ou a formar objetivos e expectativas realistas.

3. Em terceiro lugar, dentro de um ambiente invalidante, normalmente são necessárias demonstrações emocionais extremas e/ou problemas externos para provocar uma resposta ambiental proveitosa (“Tipo, se chorar poque tenho um problema não adianta, vou fazer um escândalo”). Assim, o ambiente invalidante favorece o desenvolvimento de demonstrações emocionais extremas.

4. Por fim, esse ambiente não ensina à criança quando deve confiar em suas respostas emocionais e cognitivas. Ao invés disso, o ambiente invalidante ensina a criança a invalidar ativamente as suas próprias experiências e vasculhar seu ambiente social em busca de sinais de como agir, sentir e agir. (” SE tudo o que eu sinto é errado, melhor não confiar em mim mesmo”).

Quando as emoções primárias (medo, raiva, tristeza, nojo, surpresa e alegria) são sistematicamente invalidadas, é muito comum que entrem em ação as emoções secundárias ou sociais, como vergonha, culpa e inveja. Assim, uma pessoa pode sentir culpa por estar com raiva ou vergonha de sentir medo, por exemplo. Além disso, as crianças podem começar a interpretar (criar crenças) as emoções de modo disfuncional (Sou um fraco por estar triste; Sou uma pessoa má por sentir raiva, etc).

Deixo essa sugestão aos pais, portanto. Emoções, pensamentos e experiências infantis precisam ser aceitas, validadas. Caso os pais tenham dificuldade em nomear e lidar com suas próprias emoções e experiências, uma dica seria o auxilio de um(a) psicólogo(a).

Referências:

Linehan, M.M.(2010). Terapia Cognitivo-Comportamental para o Tratamento da Personalidade Borderline. Porto Alegre: Artmed.

Ambiente Invalidante