Aluna: Luzinete Pereira

O TOC, em relação à faixa etária, pode se apresentar de diferentes formas e é mais prevalente em algumas idades, sendo mais comum o aparecimento dos primeiros sintomas no final da adolescência. Algumas vezes, pode iniciar na infância, mas dificilmente após os 40 anos, ou seja, na meia idade. A prevalência do TOC, em relação à faixa etária, é de 0,7% na infância e adolescência e, nesta fase, tende a se manifestar mais no sexo masculino do que no feminino. Pode ser mais grave em meninos, quando inicia antes dos 10 anos e em meninas com aparecimento após essa idade (Kapczinski, Quevedo & Izquierdo, 2004).

Já nos adultos a prevalência é de 0,3% a 2,2% e tende a se manifestar mais nas mulheres do que nos homens, tendo as mulheres, muitas vezes, somente as obsessões (Torres & Lima, 2005). Além disto, nessa fase, a incidência do transtorno é maior em pessoas com con?itos conjugais, divorciados, separados e desempregados, podendo o estresse ser considerado um agravante para o TOC (Prazeres & cols., 2007).

Quando o transtorno se manifesta na infância e na adolescência as repercussões, geralmente, acontecem mais a nível escolar, ocasionando um declínio no rendimento devido a diminuição da capacidade de concentração e da atividade social, podendo levar o indivíduo a se distanciar de amigos e familiares (Bèdard, Joyal, Godbout & Chantal, 2009; Prazeres & cols., 2007). Segundo Lewin, Caporino, Murphy, Geffken e Storch (2010) os sintomas responsáveis pelo comprometimento funcional, nestas faixas etárias, são a baixa percepção, o excessivo senso de responsabilidade, a indecisão, a lentidão generalizada e um sentido de responsabilidade excessivo.

Estes sintomas, geralmente, são observados em casa, pois os indivíduos sentem vergonha de fazer os rituais na frente de estranhos. Portanto, é importante que os pais fiquem atentos a certas alterações de comportamentos, tais como: problemas dermatológicos ocasionados por inúmeras lavagens do corpo; utilização de tempo maior que o normal para a realização de tarefas rotineiras; gasto excessivo de sabão; arrumação excessiva de brinquedos ou outros objetos; buracos nos cadernos e livros ocasionados por apagar seguidamente e medo exagerado de que algo de ruim possa acontecer a alguém da família. Esses sintomas podem ser pistas importantes para detectar o TOC (Rangé, 2003).

Ainda assim, é importante salientar que, na infância, existem certos rituais, repetições e superstições que são comuns e característicos desta fase. Crianças de dois a quatro anos de idade, principalmente, costumam apresentar uma intensificação de comportamentos repetitivos. Os rituais mais comuns nestas fases acontecem, geralmente, na hora de dormir, comer e de tomar banho. As crianças costumam pedir a repetição de histórias, gostam dos alimentos organizados no prato, só tomam banho se estiverem com um determinado brinquedo, dentre outros. A partir dos seis anos, os rituais se manifestam nas brincadeiras em grupos, onde os jogos passam a ter regras rígidas e as coleções dos mais variados objetos aparecem com frequência, além das superstições que também são comuns desta fase (Campos & Mercadante, 2000).

Porém, esses rituais e superstições não são TOC, pois não interferem no funcionamento da criança e dão a ela uma sensação de controle sobre a imprevisibilidade dos eventos da sua vida. Entretanto, mesmo que não tenham a mesma frequência e intensidade dos sintomas obsessivo-compulsivos, estes comportamentos podem ser confundidos com o transtorno. Desta forma, é importante reconhecer, quando esses rituais e superstições tornam-se patológicos, ou seja, quando as crianças passam a precisar de ajuda. Para fazer essa diferenciação deve-se considerar a faixa etária, a duração dos comportamentos, a intensidade e a interferência ou não dos sintomas nas atividades e no desenvolvimento da criança (Campos & Mercadante, 2000). A identificação precoce do TOC é essencial para um bom funcionamento psicossocial e uma melhor qualidade de vida (Sturm, 2008).

Quando um adulto tem TOC, as repercussões podem se tornar mais prejudiciais, pois estes, muitas vezes, têm que trabalhar para sustentar uma família e possuem obrigações e responsabilidades que dependem do seu bem-estar mental. Sendo assim, devido ao tempo que os sintomas ocupam na vida do portador podem ocorrer demissões de empregos, separações e até mesmo dificuldades de sair de casa (Cordioli, 2004). Além do impacto na profissão do paciente, a família também sofre com os sintomas do TOC, pois chega a alterar rotinas e exigir adaptações aos sintomas. Os portadores do transtorno, normalmente, obrigam os demais membros da família a fazer o mesmo que eles, chegando a impedir o uso de sofás, camas, roupas, toalhas, louças e talheres, bem como o acesso a determinados locais da casa. Assim, os cuidados excessivos, as exigências e os medos exagerados nem sempre são compreendidos ou tolerados pelos demais, provocando discussões e atritos, fazendo com que a qualidade de vida da família diminua (Torresan, Smaira, Cerqueira & Torres, 2008).

Devido a proporção que estes sintomas ganham na vida de uma pessoa, algumas destas podem ficar totalmente impossibilitadas de sair de casa, ou perder a crítica em relação a si mesmos, diminuindo a probabilidade de aceitarem tratamento. A cronicidade do transtorno também favorece uma situação em que os familiares acabam se adaptando aos sintomas e exigências do paciente no dia a dia para evitar conflitos e por percebem que isso traz um alívio, pelo menos imediato, a eles (Torres & Prince, 2004). Mas, pelo fato de não conhecerem como os sintomas se estruturam e não saberem como lidar com esses, não percebem que isto reforça, cada vez mais, esses comportamentos. Portanto, a busca de ajuda especializada é de extrema importância (Niederauer, Braga, Souza, Meyer & Cordioli, 2007).

Fonte:
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-03942010000300012

O transtorno obsessivo-compulsivo nas diferentes faixas etárias