Aluna; Maria Aparecida Xavier Vieira.

O Transtorno de Acumulação (TA) se caracteriza pela dificuldade persistente em descartar
ou se desfazer de pertences, independentemente de seu valor real, associada à aquisição excessiva
de objetos desnecessários. Esse transtorno causa inúmeros prejuízos ao cotidiano e a vida social do
indivíduo, além de ocasionar riscos de saúde tanto para o acumulador quanto para os residentes
próximos. (APA, 2014).

O Acompanhamento Terapêutico (AT), por sua vez, se caracteriza como um dispositivo de
intervenção individualizada e singular, aliando a figura do acompanhante terapêutico (at) ao
usuário. O AT acontece em contextos cotidianos do indivíduo, sem se fixar em um único ambiente.
(SILVA; SILVA, 2006; FERRO et. al., 2014a; FIORATI, 2006). Segundo Reis Neto, Pinto e
Oliveira (2011, p. 31) “o AT é um atendimento que passa por lugares sem se fixar”, reafirmando
continuamente sua flexibilidade para compor ações junto aos diferentes cenários de vida do sujeito
atendido. Chauí-Berlinck (2011) aponta que o at deve estar disposto a adotar a flexibilidade desse
dispositivo, entendendo que, por mais que haja um acordo de tempo para as intervenções, os
imprevistos podem demandar ajuste nos horários e duração das mesmas.
Este trabalho foi elaborado a partir da experiência extensionista do projeto
“Acompanhamento Terapêutico em Saúde Mental – suporte para inclusão e (re)construção do
cotidiano”, elaborado em 2015, no qual o curso de Terapia Ocupacional, em parceria com os cursos
de Enfermagem e Psicologia, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), oferece AT para
acumuladores compulsivos de um distrito sanitário do município de Curitiba. Levando em conta o
atendimento que o acumulador compulsivo requer e as características singulares do dispositivo AT,
esta produção objetiva destacar as singularidades do trabalho interdisciplinar dentro da perspectiva
do AT oferecido a acumuladores compulsivos.
ressalta que o AT é desenvolvido junto a “uma equipe de trabalho qualificada, todos com uma
escuta privilegiada”. (p. 52).
Apesar dos desafios, advindos da sobrelotação de encargos dos profissionais da atenção
primária, destacam-se a necessidade de práticas interdisciplinares e a importância dos profissionais
do NASF e da estrutura provida pelo Acompanhamento Terapêutico para proporcionar cuidado a
pessoas com transtorno de acumulação.

 

REFERÊNCIAS
APA (American Psychiatric Association). DSM V: Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais. Porto Alegre: Artmed, 2014.
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Possibilidades de cuidados e questões de saúde pública. Revista Kairós Gerontologia, v. 18, n. 4,
p. 81-100, 2015.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica.
Saúde Mental – Cadernos de Atenção Básica, nº 34. Brasília: Ministério da Saúde, 2013.
CHAUÍ-BERLINCK, L. Andarilhos do Bem: os caminhos do Acompanhamento Terapêutico. 173
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2011.
COSTA, R. P. Interdisciplinaridade e equipes de saúde: concepções. Mental, v. 5, n. 8, p. 107-24,
2007.
FERRO, L. F. et al. Demandas, subjetividade e processo terapêutico: construções e limitações do
Acompanhamento Terapêutico. Cad. Ter. Ocup. UFSCar, São Carlos, v. 22, n. 3, p. 609-19,
2014a.
FERRO, L. F. et al. Interdisciplinaridade e intersetorialidade na Estratégia Saúde da Família e no
Núcleo de Apoio à Saúde da Família: potencialidades e desafios. O Mundo da Saúde, São Paulo,
FIORATI, R. C. Acompanhamento Terapêutico: uma estratégia terapêutica em uma unidade de
internação psiquiátrica. 145 f. Dissertação (Mestrado em Enfermagem Psiquiátrica) – Escola de
Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2006.
IAMIN, S. R. S. (Org.). Manual de Acompanhamento Terapêutico: contribuições teórico-
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SILVA, A. S. T.; SILVA, R. N. A. A Emergência do Acompanhamento Terapêutico e as Políticas
de Saúde Mental. Psicologia Ciência e Profissão, v. 26, n. 2, p. 210-21, 2006.

Transtorno de acumulação