Kátia Cristina M. de Moraes A. da Conceição

Introdução

Atualmente, a Organização Mundial de Saúde (OMS) considera o uso abusivo de drogas como uma doença crônica e recorrente. Para esta instituição, o uso de drogas constitui um problema de saúde pública, que vêm ultrapassando todas as fronteiras sociais, emocionais, políticas e nacionais, preocupando toda a sociedade.
Segundo dados do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas, muitos são os fatores que podem motivar o uso de drogas, como: a busca de prazer, amenizar a ansiedade, tensão, medos e até aliviar dores físicas. Quando a utilização dessas substâncias se dá de forma abusiva e repetitiva, sem que haja um controle do consumo, frequentemente instala-se a dependência
Em virtude de ser um problema bastante complexo, no qual estão envolvidas várias dimensões, deve-se entender a dependência química como sendo uma doença biopsicossocial.
Tais estratégias devem levar em conta ainda dois agravantes, a baixa adesão e a falta de motivação para o tratamento, os quais acarretam frequentes recaídas.
Em função disso, os modelos de tratamento necessitam de tipos de intervenções, que incluam diversas estratégias de abordagem do problema, considerando elementos biológicos, psicológicos e sociais.
Tais estratégias devem levar em conta ainda dois agravantes, a baixa adesão e a falta de motivação para o tratamento, os quais acarretam frequentes recaídas. É consenso na literatura mundial o alto índice de recaídas dos indivíduos dependentes, independentemente da modalidade e do número de tratamentos a que eles se submetem ao longo de suas vidas. Nesse sentido, a motivação mostra-se um fator de relevância em relação à adesão ao tratamento.

Mudança de Comportamento

A motivação é vista como um estado de prontidão ou avidez para a mudança, que pode flutuar de um momento (ou situação) para outro e pode ser entendido como uma condição interna influenciada por fatores externos. Ela pode ser conceituadaoa a prontidão para a mudança como um processo através do qual o indivíduo transita em quatro estágios bem definidos: Pré-contemplação, Contemplação, Ação e Manutenção. O primeiro é um estágio em que não há intenção de mudança, nem mesmo uma crítica a respeito do conflito envolvendo o comportamento-problema. É como se o sujeito estivesse usando a negação como mecanismo de defesa, sendo a existência do problema completamente recusada. A Contemplação é o estágio em que o indivíduo parece estar se conscientizando de que existe um problema, no entanto há uma ambivalência quanto à perspectiva de mudança. O estágio da Ação ocorre quando a pessoa inicia explicitamente a modificação de seu comportamento problema, escolhendo uma estratégia para a realização desta mudança, tomando atitudes com este objetivo. A ação é um período que exige muita dedicação e energia pessoal e as mudanças realizadas nesse estágio são muito mais visíveis do que as realizadas durante outros estágios.
Finalmente, a Manutenção é o estágio que constitui o grande desafio no processo de mudança. A estabilização do comportamento em foco é a marca deste estágio. É necessário um esforço constante do indivíduo para consolidar os ganhos conquistados nos outros estágios, principalmente no estágio de ação, além de um esforço contínuo para prevenir possíveis lapsos e recaídas. A mudança nunca é concretizada com a ação. Sem um forte compromisso no estágio de manutenção, a pessoa poderá ter recaídas, mais comumente encontradas nos estágios de pré contemplação e contemplação.

Conclusão

Adverte-se, entretanto, que nem sempre um indivíduo que busca tratamento encontra-se no estágio de Ação.
Por outro lado, o estágio de Manutenção pode e deve ser estimulado por toda a vida, mantendo os ganhos e evitando as recaídas. Trata-se de uma fase difícil, mas crucial no tratamento de qualquer dependência química.

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Fonte: pepsic.bvsalud.org/scielo

Dependentes Químicos em Tratamento: A lmportância da Motivação para Mudança