Aluna: Vera Lúcia

Introdução

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que a cada ano 8,8 milhões de pessoas morrem de câncer, sendo que dois terços dessas mortes são em países de baixa e média renda. No Brasil, estimativa para o biênio 2016-2017 aponta cerca de 600 mil casos novos de câncer, sendo os cânceres de próstata (61 mil) em homens e mama (58 mil) em mulheres os mais frequentes.

Progressos e fortalecimentos no diagnóstico precoce por meio da oferta de tratamento e diagnóstico básico para todos são algumas medidas para que os países enfrentem o avanço da doença. Mas, outro agente deve ser observado nesse contexto, uma vez que pode ser um aliado importante na prevenção: o consumo nocivo de bebidas alcoólicas. Afinal, o uso excessivo de álcool está associado a maior risco de desenvolvimento de determinados tipos de câncer; sendo inclusive apontado como responsável por 5,8% das mortes causadas pelo câncer no mundo em 2012.

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Segundo o presidente executivo do CISA, Dr. Arthur Guerra, esta relação é tema recorrente nas pesquisas científicas, sendo identificado que o consumo excessivo de álcool é fator implicado em maior risco de desenvolvimento de alguns tipos de câncer, como de cavidade oral, faringe, laringe, fígado, esôfago, mama e colorretal. “É consenso que quanto maior a quantidade de álcool ingerida, maior é o risco. Mas há outros fatores que, quando somados ao uso pesado de bebida alcoólica, potencializam esse risco, como o tabagismo e a influência genética”, explica o especialista em dependência química.

Estudos apontam que bebedores pesados de álcool (ingestão de três doses* ou mais por dia) apresentam aumento no risco total de câncer, sendo mais expressivo entre quem já fumou (ou fuma) do que entre não fumantes (que nunca fumaram).  Em relação à influência genética, pesquisas mostram que indivíduos com histórico familiar de câncer apresentam risco mais elevado para o desenvolvimento da doença quando há consumo excessivo de álcool. “A partir desta constatação, a indicação para quem tem predisposição genética para a doença seria a restrição ao consumo frequente e/ou pesado de álcool”, recomenda o Dr. Arthur Guerra.

O psiquiatra explica, ainda, que as evidências apresentadas em diversos estudos até o momento sugerem que o acetaldeído (produto da metabolização do álcool) é o principal responsável pela ação carcinogênica.

Confira outros resultados de pesquisas sobre o assunto:
– Para cada aumento de 10 g de álcool na ingestão diária (0,75 a 1 dose) houve um aumento de 9% no risco de câncer de mama. Mulheres com um consumo diário entre 2 a 5 doses foram as que apresentaram maior risco, com um aumento no risco em 41%. O estudo não mostrou diferença no risco entre os tipos de bebida analisados (cerveja, vinho e destilados).
– A cirrose hepática é um fator de risco muito importante para o desenvolvimento dos casos de câncer de fígado, e pode ser causada por hepatite viral crônica, álcool e doenças metabólicas. Em geral, um terço dos pacientes cirróticos desenvolverão carcinoma hepatocelular (o tipo mais comum de câncer primário de fígado) durante sua vida.

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Ainda, segundo estudo publicado este mês na revista JAMA Oncology, 30% dos casos de câncer de fígado no mundo são devidos ao uso de álcool.

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– Deficiências nutricionais comuns em pacientes dependentes de álcool também estiveram associadas a uma elevação do risco para o aparecimento de câncer nessa população.
– Beber pesado (50 g de álcool/dia ou mais) foi associado a um risco significativamente maior de câncer de próstata de alto grau de malignidade.

De acordo com o Panorama sobre Conhecimento, Hábitos e Estilo de Vida dos Brasileiros em relação ao Câncer, levantamento da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, 79% dos brasileiros reconhece que evitar o consumo de álcool é uma atitude importante para a redução do risco de câncer. Entretanto, nem todos colocam esse conhecimento em prática. “Precisamos engajar os brasileiros a converter conhecimento em atitude, em mudança de hábitos; por isso, o CISA reforça que evitar o consumo pesado de álcool é uma das medidas para reduzir o risco de desenvolvimento de câncer”, finaliza Guerra.

 

*Uma dose diária (10-12 g de álcool puro) segundo a Organização Mundial de Saúde equivale a 330 ml de cerveja/chopp, 100 ml de vinho ou 30 ml de destilado
Referência(s):

1 Addiction. 2017 Feb;112(2):222-228. doi: 10.1111/add.13477. Epub 2016 Jul 21. Alcohol consumption as a cause of cancer. Connor J.

2 J Hepatol. 2012 Apr;56(4):908-43. doi: 10.1016/j.jhep.2011.12.001. EASL-EORTC clinical practice guidelines: management of hepatocellular carcinoma. European Association For The Study Of The Liver1; European Organisation For Research And Treatment Of Cancer.

3 JAMA Oncol. 2017 Oct 5. doi: 10.1001/jamaoncol.2017.3055. [Epub ahead of print].The Burden of Primary Liver Cancer and Underlying Etiologies From 1990 to 2015 at the Global, Regional, and National Level: Results From the Global Burden of Disease Study 2015.

 

Disponível em:
http://www.cisa.org.br/artigo/8779/uso-nocivo-alcool-desenvolvimento-cancer.php

Uso Nocivo de Álcool e Desenvolvimento de Câncer