No mês do Dia Nacional de Combate ao Fumo (29/08), o psiquiatra Jorge Jaber, especializado em dependência química em Harvard, demonstra preocupação.

Para ele, o Estado deve exigir o cumprimento da lei que proíbe a venda de cigarros para menores de idade, inclusive porque o tabagismo está intimamente ligado ao uso de drogas ilícitas. “Persiste a venda ilegal de tabaco para jovens, apesar da legislação, como hoje acontece também com o álcool – mais da metade dos adolescentes declaram ter ingerido bebida alcoólica. Assim, podemos imaginar o que ocorrerá caso a maconha seja liberada: adolescentes terão acesso à droga sem maiores dificuldades, prejudicando cérebros em pleno desenvolvimento”.

Tabaco e cannabis têm forte ligação, segundo Jaber. A cannabis, a maconha, atualmente já é a droga ilícitamais consumida pelos adolescentes.

Estudos publicados no American Journal of Psychiatry revelam que usuários de maconha tenderiam a fumar tabaco com maior frequência.  ”

Eles misturam tabaco à maconha para fazer os ‘baseados’.

Cigarro causa 50 doenças, segundo o INCA, e o uso de maconha pode ser muito prejudicial porque o cérebro está amadurecendo através de  conexões sinápticas e nenhuma droga é bem-vinda nesse momento de formação, sob pena de haver limitações na capacidade cognitiva. A maconha ainda pode trazer à tona a doença da esquizofrenia quando consumida na adolescência”.

Dados gerais:

Pesquisa do Ministério da Saúde (2016) informa que 18.5% dos jovens entre 12 e 17 anos já experimentaram cigarro, o que revela uma queda no consumo por esta faixa etária. Em estudo anterior (PENSE 2005), 24% dos adolescentes de 13 a 15 anos declararam já ter fumado tabaco.

Em geral, o trabalho de prevenção ao tabagismo tem sido bem sucedido no Brasil.

Em 25 anos, a porcentagem de fumantes brasileiros diários despencou de 29% para 12% entre homens e de 19% para 8% entre mulheres, o que coloca o país entre os campeões no ranking de redução do tabagismo. Na própria Clínica Jorge Jaber, que interna pacientes de psiquiatria e dependência química no Rio de Janeiro, o programa Tabaco Zero, é pioneiro em hospitais em todo o mundo. Hoje ninguém fuma nas dependências da clínica, nem pacientes, nem funcionários, nem visitantes.

Os resultados do programa criado na clínica geraram um trabalho científico, apresentado internacionalmente este ano, sob o título “Avaliação de um programa anti-tabaco em clínica psiquiátrica” (trabalho da Clínica Jorge Jaber, apresentado no EPA 2018 – European Congress Of Psychiatry, em Nice, França, de 03 a 06 de março 2018).

Em um período de 12 meses, após a conclusão do programa, 48% dos pacientes avaliados mantiveram-se na abstinência do tabaco.

Outro exemplo de sucesso no combate ao tabagismo é a Noruega, que está comemorando um recorde na diminuição de jovens fumante,  a partir de uma campanha do governo que proíbe a publicidade e aumentou o preço dos cigarros. Na Noruega, o maço de cigarro custa quase 60 reais. É o terceiro mais caro do mundo, depois da Austrália e da Nova Zelândia. As empresas de tabaco são proibidas de  fazer publicidade ou mostrar o logotipo nas embalagens dos produtos.

O INCA lembra que o cigarro contém 4 mil substâncias químicas, das quais 43 são cancerígenas, aumentando a incidência do câncer de pulmão, boca, garganta (faringe, laringe, esôfago), pâncreas, rim, bexiga e colo do útero.

O cigarro causa pelo menos 50 doenças diferentes, 200 mil mortes por ano no Brasil, o equivalente a 23 pessoas por hora. Estimativas do INCA apontam que o cigarro levará a 7630 mortes em 2018 no Brasil. Pessoas entre 50 e 60 anos são as mais afetadas.

Dia Nacional de Combate ao Fumo