Luis Antonio da Silva Vieira

                                                               “A Espiritualidade modifica o prognóstico da doença”

Resumo

 Esta é uma proposta do programa espiritual de recuperação das Irmandades Anônimas que transforma o Ser e responde à necessidade de dar-se sentido à vida, restabelece a presença do espiritual e renova os valores do sujeito, se contrapondo às características culturais e do individuo às quais a drogadição se afinava.

Palavras chave: Espiritualidade, Sentido da Vida, Recuperação e Adicção.

Desenvolvimento

A doença adicção é reconhecida pelos grupos de mutua ajuda como doença espiritual, emocional e física e, na visão deles, a recaída tende a recorrer ocorrer nos três níveis. Em concordância com seu ponto de vista, o tratamento proposto pelos grupos de mútua ajuda vai além da mera abstinência da droga – do objeto da adicção – abrange aspectos emocionais e espirituais do adicto. A abstinência não é um fim em si mesmo, mas consequência de uma transformação íntima que pode processar através do programa de recuperação por eles proposto e definido como um programa espiritual (“nossa meta é o programa espiritual”).

Apenas no primeiro passo vê-se uma referência ao objeto da adição (álcool, drogas, jogo etc), porém, ele aparece como objeto e não como ator da ação, ou seja, a ação ou transformação é relegada ao adicto, a um reconhecimento de seus limites reais, no caso, a impotência perante o objeto de adicção.

A execução do programa de recuperação determina uma mudança nas crenças que norteiam a forma e o meio de se olhar para vida, na visão de mundo e nas atitudes perante a vida, por alterar e expandir a compreensão desta, e exige uma autoanálise honesta, pois reconhecer é um pré-requisito para qualquer mudança (fora da humildade, não há recuperação).

Os sentimentos (doença espiritual e emocional) que, através da compulsão, evita-se dar a devida atenção e elaborar por um movimento reflexivo e, mais do que evitados, eram temporariamente modificados pelas drogas, enquanto o drogadito ficava como se numa cápsula isolado de seu real sentimento atual, são considerados e valorizados pela programação e nas reuniões dos grupos como necessários ao processo de autoconhecimento e transformação íntima, na abordagem espiritual.

Nas reuniões, o sujeito tem a oportunidade de expressar os sentimentos e, quando faz o inventário moral, tem chance de identificar quais são os seus sentimentos e onde está origem deles. Pode identificar a origem de seus sentimentos numa qualidade que ele ressalta do mundo ou atribui ao mundo dependente de seu olhar.

“Muito frequentemente, o indivíduo pode observar como seus sentimentos, particularmente os desagradáveis, são decorrentes de seu ponto de vista egocêntrico sobre a vida. Executando a programação, entregando sua vida e sua vontade ao PS(Poder Superior), o sujeito necessariamente muda seu ponto de vista – em vez de ser norteado pelos interesses do ego, é por um PS ao ego, logo, seu sentimento muda”.

Ao entregar sua vida e sua vontade a um Poder Superior, este passa ter um sentido de sua vida e a nortear suas escolhas, as quais são evidenciadas exteriormente pela forma que vive e se comporta. Escolher é dar prioridade, pois tudo me é lícito, mas nem tudo me convém, portanto, reflete o valor que se dá a algo, tanto quantitativa quanto qualitativamente.

 

Quando o individuo coloca o PS, não mais o ego e muito menos a droga, como ponto de referência para realização de escolhas (vontade do PS) e de sua visão de mundo, há uma mudança nos seus sentimentos e na sua visão de mundo. Além disso, o sujeito readquire a liberdade de escolher e pode responsabilizar- se por suas escolhas, torna-se capaz de arcar com as suas consequências, e não simplesmente as sofre, desenvolve a moralidade e a espiritualidade, podendo assim desenvolver a sua singularidade.

No processo espiritual de recuperação, o indivíduo encontra sentido para sua vida; ocorre uma progressiva transformação e libertação interior no sentido de ampliação da consciência, com o exercício do livre arbítrio, dando lucidez e uma progressiva expressão da singularidade de cada um.

“Raramente temos visto fracassar uma pessoa que cuidadosamente seguiu nosso caminho. Os que não se recuperam é porque não podem ou não se recuperaram é porque não podem ou não querem se entregar completamente a este programa simples. Geralmente, homens e mulheres que, pelas suas constituições, são incapazes de ser honestos consigo mesmos. Existem tais desafortunados. Eles não têm culpa; parecem ter nascidos assim. São, por natureza, incapazes de desenvolver um modo de vida que requeira rigorosa honestidade. Suas “chances” são menores que o comum. Existem, também, aqueles que sofrem de graves desequilíbrios emocionais, mentais, embora muitos se recuperem por terem a capacidade de ser honestos”.

O importante é o desejo de se recuperar, ter honestidade, boa vontade e mente aberta, e pedir ajuda. É um programa simples, mas não simplista; precisa do indivíduo inteiro, de dedicação e de trabalho e é um trabalho para vida toda.

Considerações finais

O programa de recuperação espiritual dos grupos de mútua-ajuda transforma o Ser e responde à necessidade humana de dar-se um sentido à vida. Neste aspecto, não se restringe aos adictos e pode ser útil e benéfico a qualquer ser humano numa busca espiritual.

Bibliografia

J.Jaber – Medico indica menos remédio e mais espiritualidade contra depressão – Revista Prosa Verso e Arte.

Goulart, Elisa – Fora da Humildade, não há recuperação. Lições Espirituais para recuperar-se das dependências. Rio de Janeiro: Instituto Consciência & Cia. 2013

Alcoólicos  Anônimos – . 3ª  ed. São Paulo: CLAAB, 1994. 81.

Alcoólicos Anônimos –  1955. 73,

Benzecry Daniela – Drogadição, A recuperação em A.A. e N.A. e a Espiritualidade – à luz da psicologia de C.G. Jung.

A relação entre espiritualidade e sentido na vida no processo de recuperação de adictos