por Rosângela Suisso

RESUMO

 

O presente artigo consiste no estudo sobre o relacionamento familiar e a codependência. O codependente é aquele que deixou-se influenciar pelo comportamento de outra pessoa, e que vive obcecado em controlar o comportamento desse outro. É uma doença emocional e comportamental que desencadeiam doenças. A codependência consiste em viver em função da dependência do outro. É uma relação problemática e dolorosa, onde renunciar um vínculo perturbador pode ser ainda mais perturbador. A codependência não é um diagnóstico decisivo. Ela não é algo que limita o ser a uma série de comportamentos rígidos que não podem ser modificados ou a um destino predeterminado. É uma condição na qual o individuo sofre nos aspectos emocional, psicológico e comportamental, na forma em que suas ações são dirigidas ao outro.

 

Palavras-chave: Relacionamento familiar. Codependência. Tratamento.

 

 

1.INTRODUÇÃO

 

Os relacionamentos estão sempre ligados a uma percepção que você compõe do outro e respectivamente que o outro compõe de você. As pessoas tendem a formar conceitos uma das outras podendo, assim, gerar possíveis relacionamentos, sendo eles de amizade, de trabalho, familiar ou amoroso. As pessoas em geral, são constituídas pelas relações que estabelecem. Estar em contato, é estar vivo, pois as pessoas são seres de relação.

Os relacionamentos possuem múltiplas influências e apresentam uma dimensão cultural, pois são perpassados pela vida social e pelos valores do homem. A relação conjugal é um todo ou um grupo que possui limites ou fronteiras, pelas quais se dá o desmembramento ou a ligação com os outros sistemas da sociedade. Cada companheiro da relação tem fronteiras em sua volta que o determina como sendo uma pessoa, contudo, essas fronteiras não devem ser nem muito permeáveis e nem muito inflexíveis, sob pena de perturbar o equilíbrio relacional. Consequentemente, essa pesquisa faz um levantamento dos relacionamentos entre casais na dinâmica familiar, nomeadamente, ligados à “codependência”.

 

2.REFERENCIAL TEÓRICO

 

2.1.Codependência

 

A codependência se apresenta como uma condição emocional, psicológica e comportamental, que se manifesta a partir de uma longa exibição a práticas de regras dominadoras que impedem de manifestar abertamente sentimentos e de discutir diretamente problemas pessoais e interpessoais.

Nesta lógica, apesar de não existir atributos concretos ligados a um diagnóstico para o fenômeno da codependência, os referidos autores citados acima, destacam características frequentes que remetem aos objetivos gerais e específicos desta pesquisa. Busca-se compreender de acordo com a bibliografia concepções da codependência emocional na dinâmica familiar conjugal, verificando os comportamentos e sentimentos pertencentes a codependência, descrevendo no funcionamento familiar os padrões e papéis assumidos na relação conjugal e a conexão com o mecanismo neurótico.

São muito pequenas ou quase inexistentes as estatísticas oficiais apresentadas sobre a codependência. Os reflexos, que começam a aparecer aos poucos, são tão graves quanto os da dependência em si. Algumas pessoas são impactadas por uma extrema necessidade de ser útil a qualquer custo, sem medir nenhum esforço, estando assim sempre disponível para outro e bloqueado para si. Tais sintomas quando em excesso tornam-se patológicos e levam as pessoas a pedirem ajuda aos profissionais da saúde e recorrerem a vários tratamentos em busca de alívio a esse sofrimento.

Ademais, para algumas pessoas, a codependência ainda se apresenta impercebível, ou desconhecida, já que “elos” assim estão cada vez mais costumeiros e não chamam muito a atenção, pois se sabe que as pessoas estão emocionalmente comprometidas e não notam o fato de que elas têm sua própria vida, que devem cuidar primeiro de si para depois cuidarem dos outros e assim propiciar qualidade de vida para todos.

Em vista disso, a realização do presente estudo justifica-se frente a uma realidade que se apresenta cada vez mais atual no cotidiano, em casos clínicos nos consultórios psicológicos e em diversos contextos sociais, que despertam vastas inquietações, levando a buscar compreender melhor o que de fato se passa por trás daquele relacionamento tido como codependente.

A codependência é um termo atual na área da terapia, ainda com explicações indefinitas e em construção. De vez em quando é até vista como um transtorno, e por outras vezes como uma doença, não utilizada no meio científico, mas totalmente comum. Quando falada, percebe-se ainda que a codependência causa estranheza ou é temida, visto que se apresenta de formas distintas mediante algumas áreas.

 

2.2 Comportamentos e sentimentos comuns a um codependente

 

Pesquisas já realizada tem mostrado que o modelo de relações codependentes está infiltrado na população de forma acentuada, porém, muitas vezes ainda é imperceptível ou confuso entender como se dar essa construção. Acredita-se que supostamente o comportamento codependente exista desde o início dos relacionamentos humanos, pois desde o início da humanidade as pessoas já tinham problemas e se preocupavam com os problemas dos outros.

A codependência se apresenta como uma condição complexa e crônica, que é difícil delinear suas raízes e seus efeitos na vida do codependente. Padrões de comportamentos, pensamentos e sentimentos, são observados em todas as relações interpessoais, porém o codependente não os percebe e acaba prejudicando a si mesmo e aos outros que ele quer tanto ajudar.

Como qualquer outro indivíduo que apresenta e vive um comportamento disfuncional, não tem consciência de sua codependência e, quando essa disfuncionalidade se mostra, ele opõe-se em aceitar. Tais autores concordam que não é fácil tomar consciência de que se pode está vivendo de forma errada, pois muitas vezes, pode até parecer correto para quem está na situação, apesar de causar sofrimento, quem está passando por isso não consegue compreender o real cenário em que se encontra.

Infelizmente, quem convive com um codependente não consegue perceber esse estado emocional, visto que, ele se dedica fielmente para demonstrar que está tudo ocorrendo bem, que está sempre disponível para aquilo, que é confiável e seguro. Vale destacar que uma grande dificuldade em tratar indivíduos com esse perfil é exatamente esse, a falta de consciência do problema por parte da população e dos próprios profissionais. Assim, o indivíduo tende a procurar psicoterapia apenas quando o relacionamento acaba e com a finalidade de parar de sofrer por aquilo, chegando até a acreditar que pode voltar à relação e mudar algo. Muitas vezes, quando o paciente busca ajuda de outros profissionais, a queixa é normalmente abafada ou há um desleixo, já que alguns entendem que a codependência faz parte de qualquer relacionamento afetivo.

Para auxiliar nessa manifestação, Beattie cita alguns comportamentos típicos de codependentes, como: considerar-se e sentir-se responsável por outras pessoas, pelos sentimentos, pensamentos, ações escolhas, desejos, necessidades, bem-estar, falta de bem-estar e até pelo destino dessas pessoas. Sentem ansiedade, pena e culpa quando a outra pessoa tem um problema. Se acham compelidos, quase forçados a ajudar aquela pessoa a resolver o problema, seja dando conselhos que não pedidos, oferecendo uma série de sugestões ou equilibrando emoções, sentem raiva quando sua ajuda não é eficiente, comprometem-se demais, culpam outras pessoas pela situação em que ele mesmo está, dizem que outras pessoas fazem  com que ele se sinta da maneira que se sente, acham que a outra pessoa está deixando ele louco, sentem raiva, acham que estão sendo usados e que não estão sendo reconhecidos, acham que não são bons o bastante e contentam-se apenas em ser necessário aos outros.

 

2.3 A dinâmica familiar e o relacionamento conjugal

 

É necessária para na compreensão deste estudo levantar alguns conceitos de dinâmica familiar, visto que a família pode estar diretamente ligada a apego e afeto, de diversas particularidades.

A família é uma rede complexa de emoções e relações que não são passíveis de ser pensadas como instrumentos criados para o estudo dos indivíduos isolados.  O sistema familiar é um todo, uma globalidade, em que o todo é mais do que a soma das suas partes. A família é um sistema, à semelhança de um organismo vivo e por isso deve ser analisada como um todo onde cada membro é o que é por si mesmo e pelas relações que estabelece com os outros. Os membros procuram definir para si e para os outros membros da família significados, o poder, a formação e distribuição de afetos

A entidade familiar nuclear é constituída pela figura do marido e da mulher. Depois se amplia com o surgimento da prole. Sob outros prismas, a família cresce ainda mais: ao se casarem, os filhos não rompem o vínculo familiar com seus pais e estes continuam fazendo parte da família, os irmãos também continuam, e, por seu turno, casam-se e trazem os seus filhos para o seio familiar. A família é uma sociedade natural formada por indivíduos, unidos por laço de sangue ou de afinidade. Os laços de sangue resultam da descendência. A afinidade se dá com a entrada dos cônjuges e seus parentes que se agregam à entidade familiar pelo casamento. A família se define em um conjunto de normas, práticas e valores que têm seu lugar, seu tempo e uma história. É uma construção social, que vivenciamos.

A teoria sistêmica afirma que, todas as pessoas que compõem a unidade familiar têm um papel na maneira como funciona a família, como se relacionam os membros entre si e na forma como o sintoma aparece. A família do dependente químico geralmente apresentam essas características:

 

  • A comunicação não é saudável
  • Ambiente sem regras e sem limites
  • As pessoas se relacionam com ressentimentos
  • São ansiosas
  • Não suportam a pressão
  • Podem deprimir

 

Além disso, também apresentam:

 

  • NEGAÇÃO: Ocorre tensão e desentendimento e as pessoas deixam de falar sobre o que realmente pensam e sentem.
  • EXTREMA PREOCUPAÇÃO: Tentam controlar o uso da droga e as consequências físicas e emocionais. A regra é não falar do assunto.

 

 

 

2.4 Padrões e Papéis assumidos na relação conjugal de codependentes

 

Perante a interferência de condutas estabelecidas para caracterizar um codependente é pertinente apresentar alguns padrões e papeis assumidos dentro da relação conjugal. Os Codependentes Anônimos, CODA, que é um programa de recuperação de codependentes apresenta uma cartilha com os seguintes padrões e características como ferramenta para auxilio de se perceber um codependente. São eles:

  • Padrões de Negação: Apresenta dificuldade em identificar o que sente, minimizando, alterando ou negando como realmente se sente. Se percebe sem egoísmo algum e se dedica ao bem estar dos outros. Falta empatia pelos sentimentos e necessidades de outros. Rotula os outros com seus traços negativos. Cuida de si sem precisar de nenhuma ajuda dos outros. Mascara sua dor de várias formas como raiva, depressão e isolamento. Expressa negatividade ou agressão de forma indireta e passiva. Não reconhece que outros pelos quais se sente atraído possam não estar disponíveis.
  • Padrões de baixa autoestima: Tem dificuldades em tomar decisões. Julga tudo o que pensa ou diz duramente, como se nunca fosse bom o suficiente. Fica envergonhado ao receber reconhecimentos, elogios ou presentes. Nunca pede aos outros que reconheçam seus desejos ou necessidades. Valoriza mais a opinião dos outros do que a sua sobre o que pensa, sente e como age. Não se ver como alguém que mereça amor ou atenção. Constantemente busca reconhecimento que acha que merece. Tem dificuldades em admitir que errou. Tem que parecer correto aos olhos dos outros e até mente para parecer melhor. Acha que é superior aos outros. Precisa de outros para me sentir seguro. Tem dificuldades em começar atividades, completar prazos e projetos. Tem dificuldades em estabelecer prioridades mais saudáveis.
  • Padrões de Evitamento: Age de forma convidativa a outros para se rejeitar. Julga duramente o que os outros pensam, sentem, falam e fazem. Evita intimidade emocional, física ou sexual como forma de se distanciar. Permite que suas dependências a pessoas, lugares e coisas se distraiam de atingir real intimidade nos relacionamentos. Usa comunicação indireta e evasiva para evitar conflitos ou confrontações. Atrai as pessoas, mas quando elas estão próximas, as evita. Acredita que demonstrações de emoção são sinais de fraqueza.
  • Padrões de cumplicidade: Compromete seus próprios valores e integridade para evitar rejeição por parte de outros. É muito sensível com os outros e espera que eles sejam o mesmo É extremamente leal, permanecendo em situações danosas por muito tempo. Valoriza mais a opinião dos outros do que a própria e tem medo de expressar opiniões, crenças e sentimentos diferentes. Deixa de lado seus próprios interesses e hobbies para fazer o que os outros querem. Aceita sexo ou atenção sexual quando procura amor. Toma decisões sem pensar nas consequências.
  • Padrões de Controle: Acredita que a maioria das pessoas é incapaz de cuidar de si mesma. Diz aos outros sobre o que “deveriam” sentir ou pensar. Fica ressentido quando os outros não se deixam ajudá-los. Oferece conselhos abertamente, sem ter sido convidado a isso. Gasta com presentes luxuosos e favores para aqueles que são importantes. Utiliza o sexo para ganhar aprovação e aceitação dos outros. Necessita que “precisem” dele para se relacionar com outros. Exige que suas necessidades sejam acolhidas pelos outros. Usa seu charme e carisma para convencer os outros da sua capacidade de compaixão e cuidado. Usa culpa e vergonha para explorar emocionalmente os outros. Recusa-se a cooperar, comprometer ou negociar. Adota uma atitude de indiferença, desesperança, autoridade ou raiva para manipular resultados. Finge concordar

com outros para conseguir o que quer.

 

2.5.Estágios do Familiar

 

  • DESORGANIZAÇÃO: É comum ocorrer uma inversão de papéis e funções. Seus membros servem de facilitadores.
  • EXAUSTÃO EMOCIONAL: Podem surgir graves distúrbios de comportamento e de saúde em todos os membros. A situação fica insuportável gerando desestruturação familiar.

 

 

 

 

 

 

2.6. Tipos de tratamento

 

É importante que o codependente faça algum tipo de acompanhamento:  Psicológico: situação que envolve grande sofrimento e muito difícil de ser resolvida sem ajuda; Psiquiátrico: em alguns casos também é recomendado.

 

  • Grupos de Mútua-ajuda
  • Terapia de Grupo Familiar
  • Terapia Individual
  • Acompanhamento psiquiátrico

 

 

CONCLUSÃO

 

Ante ao exposto pode-se concluir que a codependência tem cura, porém codependente precisa procurar auxílio e orientação para a sua própria situação;  evitar fazer o papel de coadjuvante; compreender que a DQ é uma doença progressiva, incurável e de terminação fatal.

 

REFERÊNCIAS

 

BEATTIE M. Co-dependência nunca mais. 10ª ed. Rio de Janeiro: Nova Era; 2007.

 

JABER, Jorge. Codependência. Disponível em https://clinicajorgejaber.com.br/novo/wp-content/uploads/2018/06/jun_23.pdf acesso em 06 de set. 2018.

 

ZAMPIERI MAJ. Padrão de Co-dependência e Prevalência de Sintomas Psicossomáticos. São José do Rio Preto [dissertação]. São José do Rio Preto: Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto; 2004

http://psiquiatriaetoxicodependencia.blogspot.com.br/2011/06/dependencia-emocional-e-codependencia.html acesso em 06 de set. 2018.

 

 

 

 

Relacionamento familiar e a codependência