fonte: blog Vida & Ação/O Dia
No Carnaval o problema chama ainda mais atenção. Vemos pelas ruas, atrás dos blocos, muitos adolescentes visivelmente alterados pelo consumo excessivo de bebida alcoólica. Esta constatação revela um drama: cada vez mais é o álcool, e não a maconha como muitos supõem, a principal ameaça para crianças, adolescentes e jovens, que começam desde cedo no mundo das drogas.
Cerca de três quartos dos adolescentes entre 13 e 15 anos já experimentaram álcool, cerca de um quarto bebeu regularmente nos últimos 30 dias com episódios de embriaguez e 9% relatam ter tido problemas com o álcool, apontava, em 2009, a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE).
Neste sábado (18), Dia Nacional de Combate ao Alcoolismo, especialistas destacam que este é um dos principais problemas de saúde pública no Brasil, onde cerca de 15% da população é dependente do álcool, a maioria homens jovens entre 18 e 29 anos. Considerado pela Organização Mundial da Saúde como uma doença, o alcoolismo vem cada vez mais preocupando os médicos porque o álcool é a substância psicotrópica considerada droga legal mais utilizada por adolescentes no Brasil e no mundo.
De acordo com o Manual de Orientação do Departamento Científico de Adolescência, publicado este mês pela Sociedade Brasileira de Pediatria, pesquisas recentes observaram prevalência elevada de uso de álcool pelos adolescentes, assim como o início precoce, antes mesmo dos 12 anos de idade. Para o psiquiatra Jorge Jaber, o fato é grave, considerando que o consumo de bebidas alcoólicas só está legalmente autorizado no Brasil para indivíduos maiores de 18 anos.
Porta de entrada para outras drogas
Segundo ele, o consumo de álcool por pré-adolescentes e adolescentes prejudica o desenvolvimento do cérebro, órgão que se desenvolve normalmente até os 25 anos. “O álcool, e não a maconha, é a grande porta de entrada para o uso das demais drogas. E pode causar dependência em 15% dos usuários, atingindo por tabela o grupo sócio-familiar ao redor.
O psiquiatra realiza todo ano, há 13 anos, o bloco Alegria Sem Ressaca, que quer lembrar que ninguém precisa beber ou se drogar para se divertir no Carnaval. “Saímos sempre antes do Carnaval para tentar evitar abuso de álcool e uso de drogas durante a folia. Fazemos a nossa parte, no que diz respeito à prevenção. É assustador o número de adolescentes que vemos pelas ruas neste período bebendo álcool, no gargalo ou em forma de sacolés”, diz o médico. O bloco este ano saiu dia 12 de fevereiro e teve José Aldo como padrinho.
Pesquisas vêm desde a década de 80
Estudos sobre o uso de álcool no Brasil com amostras de estudantes começaram em meados da década de 1980 têm mostrado o consumo de bebidas alcoólicas por uma parcela importante de adolescentes no país. Uma revisão sistemática de 28 estudos populacionais com adolescentes entre 10 e 19 anos encontrou prevalências de consumo de bebidas alcoólicas (segundo diferentes definições) variando de 23,0% a 68,0%. A prevalência em 2009 era de 27,3% e em 2012, de 26,1% de consumo de álcool entre adolescentes.
Estes dados mostram a extensão e gravidade do problema tão frequente entre adolescentes brasileiros. O sexto Levantamento Nacional sobre o Consumo de Drogas Psicotrópicas entre Estudantes do Ensino Fundamental e Médio das Redes Pública e Privada, realizado nas 27 capitais brasileiras (dados de 2010) ouviu 50.890 estudantes, e 15,4% dos com idades entre 10 e 12 anos declaram ter consumido álcool no ano da pesquisa. A proporção subiu para 43,6% entre aqueles entre 13 e 15 anos, e para 65,3% entre os adolescentes com 16 a 18 anos.
Números são assustadores
De todo o universo pesquisado, 60,5% dos estudantes declararam ter consumido álcool. Mais que um quinto dos estudantes (21,1%) tinha consumido álcool no mês da pesquisa (11,12). Em 2016, o Estudo de Riscos Cardiovasculares em Adolescentes (Erica), estudo transversal, multicêntrico, nacional e de base escolar, avaliou 74.589 adolescentes de 1.247 escolas em 124 municípios brasileiros. Veja alguns resultados deste estudo e outros relacionados ao tema:
– Cerca de 20% dos adolescentes consumiram bebidas alcoólicas pelo menos uma vez nos últimos 30 dias e, desses, aproximadamente dois terços o fizeram em uma ou duas ocasiões no período.
– Entre os adolescentes que consumiam bebidas alcoólicas, 24,1% beberam pela primeira vez antes de 12 anos de idade, e os tipos de bebidas alcoólicas mais consumidas pelos adolescentes foram os drinques à base de vodca, rum ou tequila e a cerveja.
– A experimentação pela primeira vez costuma ocorrer precocemente, em idade inferior a 12 anos. Em muitos casos, o consumo acontece junto à família, em casa e com os amigos, em festas, bares e shoppings.
– Além disso, sabe-se que o uso de substâncias psicoativas costuma produzir um efeito multiplicador, em que o consumo de uma substância aumenta o risco do consumo de outras.
– Estudo longitudinal com adolescentes finlandeses observou que o uso de álcool na adolescência aumentava o risco de tabagismo na vida adulta.
– No Canadá, o uso de bebida alcoólica por adolescentes foi de 59,1%. Na Espanha, 84% dos alunos adolescentes entrevistados já tinham experimentado um ou vários tipos de bebida alcoólica. Em Madri, os resultados apontaram que 85% dos adolescentes haviam experimentado álcool.
Alcoolismo e as mortes no mundo
Segundo dados apresentados pela Organização Mundial de Saúde (OMS,2014), o consumo de álcool excessivo no mundo é responsável por 2,5 milhões de mortes a cada ano.
O percentual equivale a 4% de todas as mortes (no mundo), o que faz com que o álcool se torne mais letal que a Síndrome de Imunodeficiência Adquirida (Aids) e a tuberculose. A OMS também estima que 76,3 milhões de pessoas possuam diagnóstico de consumo abusivo de álcool.
O relatório publicado pelo Escritório Regional da Organização Mundial de Saúde (OMS) para as Américas / Organização Pan-Americana da Saúde nas Américas aponta que a América é a segunda maior região em consumo per capita de álcool de todas as regiões analisadas depois da Europa. O consumo excessivo de álcool é um dos responsáveis pelo aumento dos acidentes e dos óbitos por causas externas, principalmente na adolescência.
Fonte: Clínica Jorge Jaber, com Redação