fonte: UOL
Existem muitos mitos relacionados ao suicídio e o desconhecimento atrapalha a prevenção, assim como tratar o tema como tabu ou pecado. A pessoa que pensa em se suicidar pode estar pedindo ajuda e isso é feito de diversas formas antes que ela acabe por tirar a própria vida. Portanto, é um mito dizer que quem vai se suicidar nunca diz que vai fazê-lo, dizem os especialistas ouvidos pelo UOL. É preciso perceber sinais ou mudanças de comportamento, o que pode ser muito difícil.
Segundo Humberto Correa, professor de psiquiatria da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e vice-presidente da Associação Latinoamericana de Suicidologia, “a maioria das pessoas dá sinais, expressa desejo de morrer. Desde casos muito planejados em que a pessoa deixa testamento e conta bancária preparada até pessoas que não falam diretamente, mas dizem que a vida está muito difícil”. Claro, há aqueles que não expressam o desejo, e provavelmente tomam a decisão em um momento de impulsividade.
“Geralmente, uma pessoa que pensa em se matar faz algum comentário com alguém próximo, diz que não está aguentando, que está cansado”, diz Teng Chei Tung, psiquiatra da Universidade de São Paulo. “Também começa a preparar bens pessoais para distribuir, por exemplo. O mais importante a desconfiar é o discurso de falta de esperança.”
De modo geral é possível notar mudanças no padrão de comportamento. Pode haver isolamento social, ou mesmo haver menção a ideias de por fim à vida. Mas isso nem sempre é levado a sério, destaca o professor Neury Botega, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). “Quando se pensa em suicídio, devemos considerar que “cão que ladra morde”. É incorreto pensar tão somente que a pessoa que ameaça só quer chamar a atenção. Isso pode ser até uma dimensão, mas não a totalidade do comportamento.”
Valor do desabafo
Alexandrina Meleiro, professora da Universidade de São Paulo (USP) e coordenadora da Comissão de Estudos e Prevenção de Suicídio da Associação Brasileira de Psiquiatria, ressalta que, segundo a Organização Mundial da Saúde, 70% das pessoas se sentem aliviadas quando compartilham pensamentos e desejos suicidas.
“Nosso trabalho é atender sem preconceito, respeitar a dor, que é única, sem fazer comparações ou dar conselhos, estamos lá para a pessoa desabafar, conversar”, diz Jorge Brandão, um dos fundadores do CVV (Centro de Valorização da Vida) de Santa Maria. “O importante é ouvir a pessoa, sem interromper, sem comparar, encarar com atenção. Ter tempo para o outro está cada dia mais raro.” No Brasil, o Rio Grande do Sul é o Estado com maior taxa de suicídios.