Nota Oficial da Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul
A Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul (APRS) vem a público prestar alguns esclarecimentos sobre a questão do suicídio na adolescência. O tema vem sendo bastante discutido, especialmente nas últimas semanas, devido às diversas notícias veiculadas em várias mídias envolvendo o “Jogo da Baleia Azul” e o seriado “13 Reasons Why”.
Sobre o assunto suicídio na adolescência, destacamos o que segue:
- Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), depressão é o transtorno mental que mais gera prejuízos e incapacidades entre os adolescentes, sendo o suicídio a terceira causa de morte nessa faixa etária;
- Recomenda-se que não se postem, nas redes digitais sociais e aplicativos de mensagens instantâneas, fotos de pessoas com cortes ou qualquer outra lesão, bem como imagens de indivíduos prestes a se machucar ou em uma situação de risco, como no parapeito de um prédio, por exemplo. Isso pode aumentar o risco de outros jovens cometerem tais atos;
- O ato de machucar-se propositalmente é um dos principais fatores de risco da progressão de uma ideação suicida para um comportamento potencialmente suicida;
- Alterações comportamentais devem ser consideradas como possíveis indícios de transtornos mentais, principalmente de depressão. Essas alterações são: isolamento social, perda de interesse por coisas que gostava, problemas com o sono, cansaço, piora no rendimento escolar, mau humor, choro fácil, alterações no peso e no apetite;
- Não se deve tratar do assunto suicídio como “uma opção”. As pessoas, nessas situações, estão doentes (depressão é o transtorno mais frequente) e precisam de ajuda. Esse é um problema de saúde pública;
- As causas da depressão na adolescência são múltiplas: história familiar, traumas infantis, bullying, drogas, doenças físicas, conflitos familiares, entre outros. Não se deve atribuir, ao comportamento suicida, uma causa isolada;
- Ninguém escolhe ficar deprimido. Portanto, culpar, cobrar em excesso e humilhar o indivíduo que está em sofrimento mental não é uma atitude adequada;
- Ao identificar alguém que esteja apresentado os comportamentos listados, é importante buscar ajuda profissional, mesmo que a pessoa não se reconheça com o problema. Prorrogar esse auxílio agrava o quadro clínico. Psiquiatras e outros profissionais de saúde devem ser procurados, a fim de guiar o tratamento e de prevenir complicações;
- Em casos de urgência, existem, em Porto Alegre, os seguintes serviços de pronto-atendimento psiquiátrico com plantões de Emergência em Saúde Mental com atendimento 24 horas: Centro de Saúde Vila dos Comerciários (Rua Professor Manoel Lobato, 151) e Centro de Saúde IAPI (Rua Três de Abril, 90). Nas demais cidades do Estado, sugere-se a busca de atendimento em Serviços de Emergência em Saúde Mental no próprio município ou, na falta deste, na cidade mais próxima com esse tipo de atendimento;
- A APRS possui um Comitê de Prevenção do Suicídio, coordenado pelo Dr. Rafael Moreno, e composto por diversos especialistas na área do suicídio, inclusive na adolescência. Tal Comitê está aberto a colaborar com ações educativas sobre o tema, em especial na rede escolar pública e privada do Estado, assim como à disposição para colaborar na disseminação de conhecimento preventivo sobre o assunto.
- Com o intuito de contribuir e alertar a comunidade sul-rio-grandense, em especial pais e professores, a APRS promoverá, juntamente com a Associação Médica do Rio Grande do Sul (AMRIGS), o painel “Comportamentos de risco e suicídio na infância e adolescência: o papel das redes sociais, causas e medidas protetoras”. O evento é gratuito e ocorre no sábado, dia 29 de abril, das 9h às 12h, na AMRIGS, sob a coordenação do Departamento de Psiquiatria da Infância e Adolescência da APRS, contando com a participação do Comitê de Prevenção do Suicídio. As inscrições devem ser feitas no endereço https://goo.gl/ZTxMd6.
Essa nota oficial tem como objetivo servir como alerta a pais, professores, órgãos de segurança e da Justiça, entre outros profissionais que trabalham direta ou indiretamente com adolescentes, para que sejam identificados jovens em situação de vulnerabilidade psíquica de imediato, a fim de evitar desfechos trágicos como o do suicídio.
Flavio Milman Shansis
Presidente da Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul