Fonte : htt://www.abp.org.br/portal/
ABP Associação Brasileira de psiquiatria.

Aluna: Luciana Maria Soares.

A abordagem clínica de qualquer paciente usuário de drogas não é tarefa fácil. No entanto, as dificuldades aumentam quando as pacientes são mulheres grávidas, período reconhecidamente de alta vulnerabilidade para a eclosão e piora dos transtornos mentais.

Historicamente, o estudo das dependências químicas era restrito a pacientes do sexo masculino, que respondiam pela grande maioria do consumo de drogas ilícitas e de álcool. Com a possibilidade de uma vida fora da esfera doméstica, o uso das drogas também passou a ser relevante em pacientes do sexo feminino1.

Apesar de o uso de substâncias psicoativas não ser um fenômeno novo (ao contrário, sempre existiu), o padrão de consumo de diversas drogas vem sendo modificado ao longo das últimas décadas, sempre vinculado a movimentos culturais. Em particular, a maconha (Cannabis sativa) tem sido erroneamente avaliada como uma substância de pouco impacto negativo para quem a consome. A atual discussão sobre a liberação da droga para uso medicinal confunde o leigo e cria uma falsa sensação de inocuidade. Além disso, a cannabis passou por um processo de glamourização na mídia, e seus efeitos nocivos são minimizados pelos que abusam da substância, principalmente adolescentes.

A cannabis é a droga ilícita de maior consumo entre as grávidas, com uma prevalência em torno de 4%. O tabaco chega a uma prevalência de 16%2,3. Entretanto, sabemos que esses dados são, na grande maioria das vezes, subestimados – na verdade temos uma epidemia do uso de maconha no mundo. A forma de consumo mais comum da maconha é associada ao uso de tabaco e álcool, seguida pelo consumo isolado. A associação com drogas mais pesadas é mais rara, uma vez que, quando ocorre uma migração nesse sentido, usualmente a maconha é abandonada.

Consideramos fundamental a ampliação da discussão deste tema, com a intervenção de uma equipe multidisciplinar visando à diminuição e/ou interrupção do consumo de maconha pelas gestantes. Sabe-se que a gravidez se apresenta como um período crítico em relação à ativação dos receptores canabinoides tipo 1 (CB1), o que reforça ainda mais a necessidade de explorar mais profundamente esse tópico4.

Cruzando os termos dependência de cannabis, efeitos neurobiológicos da cannabis, aspectos subjetivos e sociais da dependência de cannabis e guarda de filhos nas bases de dados PubMed, SciELO e LILACS, com foco em artigos publicados nos últimos 5 anos, discute-se a dependência de Cannabis sativa como droga única ou associada a outras drogas no período gestacional e seus efeitos na gestação e na capacidade materna para cuidados neonatais.

Abordagem clínica em usuárias de drogas grávidas