Aluna: Eliana Dias Perpétuo
O suicídio é um problema de saúde pública, gerando impactos financeiros, econômicos e sociais e mata aproximadamente 1 milhão de pessoas por ano no mundo. Sendo, atualmente, a terceira maior causa de morte no país. Houve um aumento no número de eventos entre 2000 e 2012 em todas as faixas etárias.
Suicídio é definido como o ato deliberado, executado pelo próprio indivíduo, cuja intenção, mesmo que de forma ambivalente, seja a morte. Representa muitas vezes o desfecho de uma série de fatores que se acumulam na história do indivíduo, resultado de uma psicodinâmica complexa, na qual há influência de fatores psicológicos, biológicos, inclusive genéticos, culturais e socioambientais. O sentimento de ter de lidar com algo intolerável, inescapável e interminável domina o funcionamento mental daquele que atenta contra a própria vida.
Esse evento ocorre em todas as idades e acomete ambos os sexos. Entre os fatores de risco para a tentativa de suicídio estão: uso de drogas, doenças mentais e tentativa prévia, sendo estes dois últimos os principais.
Estima-se que 50% daqueles que se suicidaram já haviam tentado previamente e possuem cinco a seis vezes mais chance de tentar suicídio novamente. Entre as comorbidades, a doença mental é a mais comum, porém nem sempre ela foi diagnosticada ou tratada de forma adequada.
Ainda há muita deficiência na detecção e prevenção precoce do suicídio, porém, ressalta-se que ele pode ser prevenido a parti r do reconhecimento de seus fatores de risco, principalmente pelos profissionais de saúde, e da intervenção precoce e adequada.
Entre 1980 e 2006, a taxa de suicídio subiu 30%, e o número de jovens que o cometeram chegou a 3.590 em 2015.
Houve um aumento total entre 2000 e 2012 em todas as faixas etárias, sendo:
• 22,7% entre pessoas de 25 a 59 anos,
• 21,8% entre jovens de 10 a 24 anos
• 16,2% em maiores de 60 anos.
A maior incidência ocorreu na Região Sul, e o maior crescimento ocorreu nas regiões norte e nordeste.
A frequência do uso de álcool foi maior entre homens (55,8%) do que entre mulheres (44,2%). Dos indivíduos em tratamento psiquiátrico, 31,4% dos que estavam em abstinência de drogas (exceto tabaco) já tentaram tirar a própria vida, assim como 41,7% dos que estavam em uso de álcool e 46,2% em uso de outras drogas.
Os métodos para o suicídio foram:
1. Lesões autoprovocadas em 86,9% das vezes
2. Autointoxicação em 13,1%.
Entre os primeiros:
75% foram por enforcamento,
11% por armas de fogo,
5% por precipitação de lugar elevado
3% por lesão com objetos cortantes ou contundentes.
Referente às intoxicações: Os pesticidas predominaram, com 40% das causas de óbitos, seguidos por medicamentos diversos, com 32%.
A ingestão de medicamentos e venenos foi identificada como método mais frequente nas tentativas entre os dois sexos e como método efetivo de suicídio pelas mulheres em 71,2% das vezes. Os métodos mais violentos, como enforcamento e armas de fogo, foram mais utilizados por homens. A frequência do uso de álcool foi maior entre homens (55,8%) do que entre mulheres (44,2%), e 9,3% das tentativas registradas em pronto-socorro ocorreram sob a influência de álcool.
A decisão de se suicidar tem relação com a organização e as interações sociais. A sua taxa diminuiu com o aumento da população, o que sugere que contatos e interações sociais podem funcionar como um antídoto para o ato. Além disso, a diminuição da desigualdade de renda na Região Sul e na Região Centro-Oeste do Brasil teve relação com a tendência de diminuição das suas taxas nas mesmas regiões.
O suicídio também tem se revelado um importante problema financeiro de saúde pública. As médias de custos por tentativa de suicídio em um hospital universitário público do Brasil se assemelham às dos custos por atendimento da síndrome coronariana aguda.
Em relação ao Brasil, o número de eventos aumentou nos últimos 30 anos. Esse aumento ocorreu em todas as faixas etárias.
No país, o sexo masculino tem maior prevalência de suicídio, porém no sexo feminino há maior taxa de tentativas, correspondendo a 66,65% do total.
Em relação aos fatores socioambientais, o menor número de anos na escola foi mais associado com o suicídio, sendo que, no país, 63% dos indivíduos que o cometeram possuem até 7 anos de estudo, enquanto apenas 10,5% frequentaram a escola por 12 anos ou mais.
Estudos mostram que no Brasil os indígenas foram os que apresentaram maior taxa de mortalidade, 8,6/100.000 habitantes, e os brancos ficaram em terceiro, com taxa de 5,4/100.000 habitantes.
Os resultados também demonstraram que os métodos mais utilizados diferem entre o suicídio e as suas tentativas e a ingestão de medicamentos e venenos foi identificada como método prevalente entre os dois sexos.
CONCLUSÃO:
O perfil nacional em relação ao grau de instrução, presença de comorbidades psiquiátricas e preferência pelo uso de medicamentos como método de tentativa no sexo feminino. Os estudos epidemiológicos dos grupos de risco, bem como os meios utilizados nas tentativas de suicídio, são importantes para definir estratégias de ação na prevenção, intervenção em grupos de risco e mobilização social. Propõe-se a realização de uma pesquisa sobre o perfil epidemiológico das ocorrências de suicídio, pois não há nenhuma publicação com tal objetivo.
Artigo submetido em 06/12/2016, aceito em 15/02/2017.
Fonte: http://www.abp.org.br/rdp17/02/rdp02.pdf
Os autores informam não haver conflitos de interesse associados à publicação deste artigo.
Fontes de financiamento inexistentes.
Correspondência: Rayssa Gabriele Vieira, Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), Rua Padre
Cassemiro, 1621, CEP 78200-000, Cáceres, MT. Tel: (65)99639.9494 E-mail: rayssagv.96@hotmail.com
Referências
1. Machado DB. Santos DN. Suicídio no Brasil, de 2000 a 2012. J Bras Psiquiatr. 2015;64:45-54.
2. Machado DB, Rasella D, Santos DN. Impact of income inequality and other social determinants on suicide rate in Brazil. J Plos One. 2015;10:e124934.
3. Faria NMX, Fassa AG, Meucci RD. Association between pesticide exposure and suicide rates in Brazil. Neurotoxicology. 2014;45:355-62.
14 revista debates em psiquiatria – Mar/Abr 2