Aluno: Pedro Madsen Andrade
No campo da psicopatologia, historicamente, o conceito de ‘normalidade’ é causador de grandes controvérsias. Há uma extensa gama de casos limítrofes, nos quais a delimitação entre comportamentos e formas de sentir normais e patológicas é bastante difícil.
Por este motivo, alguns autores apresentam sugestões diferentes de Critérios de Normalidade e Anormalidade, a serem adotados conforme as opções filosóficas, ideológicas e pragmáticas do profissional da saúde. Os principais critérios são:
1. Normalidade como ausência de doença
Segundo este critério, normal é o indivíduo que não é portador de um transtorno mental definido. Para a maioria dos especialistas, trata-se de um critério falho, pois, define a normalidade por aquilo que ela ‘não é’, pelo que lhe falta.
2. Normalidade ideal
A normalidade ‘utópica’. Aqui é estabelecido, arbitrariamente, uma norma ideal do que supostamente seria ‘sadio’. Esta norma é socialmente construída e referendada, portanto, dependente de critérios socioculturais e ideológicos.
3. Normalidade estatística
A regra aqui é a frequência. O normal passa a ser aquilo que se observa com mais frequência. Os indivíduos situados no limite ou fora de uma curva de distribuição, são considerados doentes. Para especialistas, é um critério bom para fenômenos quantitativos, como peso, pressão arterial e horas de sono; porém falho em saúde geral e mental. O que é raro não é necessariamente patológico, nem o contrário. Bons exemplos são as altas taxas de ocorrências de cáries dentárias e sintomas ansiosos e depressivos leves. A grande incidência desses pathos não os faz normais.
4. Normalidade como bem-estar
Critério adotado pela OMS desde 1946. No entanto, muitos especialistas criticam este critério alegando que o bem-estar é algo difícil de se medir objetivamente, sendo vasto e impreciso.
5. Normalidade funcional
Este critério procura ser objetivo. Algo é considerado patológico a partir do momento em que se torna disfuncional, i.e., quando começa a gerar sofrimento para o indivíduo e/ou para seu grupo social.
6. Normalidade como processo
Aqui são considerados os aspectos dinâmicos do desenvolvimento psicossocial. Considera-se as estruturações e reestruturações ao longo do tempo, dando grande importância a esses acontecimentos durante crises e mudanças próprias a certos períodos etários. É um critério que recebe particular simpatia da psiquiatria infantil, de adolescentes e geriátrica.
7. Normalidade subjetiva
Usando este critério, o avaliador dá maior ênfase à percepção subjetiva do próprio indivíduo em relação ao seu estado de saúde. A principal crítica a este critério é que, alguns sujeitos em fase maníaca, e.g., sentem-se ‘saudáveis e felizes’, apesar de apresentarem um transtorno mental grave.
8. Normalidade como liberdade
Para alguns autores de orientação fenomenológica, a doença mental seria a perda da liberdade existencial. Desta maneira, a saúde mental se vincularia às possibilidades de transitar com graus distintos de liberdade sobre o mundo e sobre o próprio destino. Aqui a saúde mental pode ser vista como a possibilidade de dispor de senso de realidade, senso de humor e um sentido poético perante a vida.
9. Normalidade operacional
Este é um critério assumidamente arbitrário, com finalidades pragmáticas explícitas. É definido, a priori, o que é normal e o que é patológico e busca-se trabalhar operacionalmente com esses conceitos.
Pode-se concluir que os critérios de normalidade e doença variam consideravelmente. Portanto, esta é uma área da psicopatologia que exige postura permanentemente crítica e reflexiva do profissional.
Fonte: DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais. Porto Alegre: Artmed, 2008. p. 31-34