fonte: Extra
Antes de chegar à semifinal da Copa do Brasil e virar tendência da moda no futebol carioca, o Botafogo comeu poeira das obras de um Engenhão fechado e sentiu a dor de um de seus heróis, o goleiro Jefferson, com voo interrompido por duas cirurgias. Sua reconstrução, porém, é um sucesso. E a volta por cima, guinada da arte da bola, é imitada na vida por um dos ídolos do Alvinegro, o ex-jogador Mendonça.
Ele foi à lona. Quase morreu. Há uns dois meses, Mendonça, de 60 anos, busca também sua reconstrução, mas na Clínica Jorge Jaber, em Vargem Pequena. O alcoolismo levou-a à internação. Hoje, mesmo com o raciocínio mais lento que o normal, o ex-craque consegue narrar o gol que ficou na memória da torcida alvinegra em substituição ao troféu jamais ganho naquela fase de jejum entre os anos 70 e 80.
Foi em 1981, sobre o rival da noite desta quarta-feira, o Flamengo. Júnior dançou, no drible batizado mais tarde de Baila Comigo.
– Quem cruzou foi o Mirandinha, que eu não esperava que fizesse aquilo, por ser um jogador de pouca habilidade. O passe me deixou na cara do gol e eu dominei bem. Júnior estava cobrindo, mas veio muito cansado. Deu o bote, mas não conseguiu acertar. Tem até torcedor do Flamengo que admite que foi um golaço e pede para eu autografar a camisa do Flamengo! – lembra Mendonça, em entrevista intermediada pela assessoria da clínica em que está internado.
O drible maior de Mendonça, porém, é bem mais recente. O alcoolismo teve o pontapé inicial há oito anos e, agora, vencê-lo virou questão de tempo. E de vontade.
– Me separei da minha mulher há uns oito anos e fui morar com a minha mãe. Foi quando comecei a beber mais. Quatro meses atrás, comecei a me tratar porque estava mal de saúde e tive que passar dois meses no Hospital de Acari. Três semanas no CTI… Cheguei aqui na cadeira de rodas. Agora, já estou dando minhas corridinhas. Estou melhorando, ganhando peso, acompanhando os jogos pela televisão.
‘Fiquei sem nada. Não tenho plano de saúde’
Fã do goleiro Jefferson e entusiasta de Jair Ventura, Mendonça estará hoje na frente da televisão. Qualquer que seja o resultado, com o Botafogo avançando ou se despedindo, é certo que o jogo de vida ou morte do ex-meia seguirá. Para sempre.
– Eu dei sorte de ir ganhando meu dinheiro e virei o sustento da casa. Jogando no profissional, acabei tendo muitos bens. Hoje, ninguém mais precisa de mim: dei casa para a ex-mulher, para a filha e o filho. Fiquei sem nada. Não tenho nem plano de saúde — revela o ex-craque.
A vida provou a Mendonça que a tática para vencer está na persistência. Os exemplos estão por aí, até mesmo no reconstruído Botafogo.
– Jefferson tinha tudo para estar na seleção, mas teve uma lesão, e o goleiro que entrou fez bom trabalho. Mas ele é meu ídolo – diz, sofrendo com o drama alheio.
Mendonça apita os jogos dos pacientes no campo de futebol da clínica. E, quando olha o passado, não vê somente o gol Baila Comigo:
– Há seis meses, toda quarta-feira eu ia para o Botafogo jogar pelada com os masters.
O time anda desfalcado.