ALUNA: Marinez Rimoli
O luto do suicídio descreve o período de ajustamento à uma morte por suicídio que é experimentado por membros da família, amigos, colegas de trabalho e pessoas vinculadas a quem morreu. Nos Estados Unidos, os indivíduos afetados são descritos como “sobreviventes de suicídio” ou “sobreviventes da perda por suicídio”. Sobreviventes são todas as pessoas afetadas por um suicídio: pais, filhos, irmãos, familiares, amigos, colegas etc. Além disso, pessoas que perderam alguém significativo por suicídio e aquelas que tiveram a vida afetada ou mudada por causa dessa morte são consideradas sobreviventes.
Cerca de 7% da população é exposta ao luto por suicídio a cada ano. Dados de pesquisas estimam que 60 pessoas sejam intimamente afetadas em cada morte por suicídio, incluindo família, amigos e colegas de classe. Como a OMS estima que 800 mil pessoas morram por suicídio a cada ano, cerca de 48 milhões e 500 milhões de pessoas podem ser expostas ao luto do suicídio em um ano.
A posvenção (o ajustamento à uma morte por suicídio) inclui as habilidades e estratégias para cuidar de si mesmo ou ajudar outra pessoa a se curar após a experiência de pensamentos suicidas, tentativas ou morte. Deste modo, o próprio paciente e a família devem ser acompanhados para evitar novas tentativas, bem como ajudar no processo do luto em caso de suicídio ocorrido.
O seguimento mais próximo desses “sobreviventes do suicídio” com um processo adequado de luto pode, no entanto, ser benéfico. Estratégias com foco no suporte aos familiares parecem ser as mais promissoras, tanto por meio de recrutamento ativo dos familiares “sobreviventes do suicídio”, como abordagens de grupo de apoio ao luto, conduzidas por facilitadores treinados. Tais ações mostraram aumento do uso de serviços projetados para ajudar no processo de luto e redução em curto prazo do sofrimento psíquico associado ao luto.
A maioria dos sobreviventes não conta com nenhuma ajuda para lidar com o luto. Por ser uma perda que envolve preconceito e estigma social, por vezes torna-se uma perda não reconhecida,podendo intensificar o véu de silêncio que se forma em torno dos enlutados. Estudos demonstram diferenças significativas na intensidade, duração do luto, aumento de sintomas depressivos e impacto no sistema familiar nos sobreviventes do suicídio, se comparado com outras mortes violentas.
Culpa, vergonha, busca incessante do motivo, sentimentos intensos de responsabilidade, rejeição e abandono, maior dificuldade em dar sentido para a morte, auto acusações, isolamento, mudanças na dinâmica familiar são alguns dos sentimentos e comportamentos usualmente experienciados pelo sobrevivente.
Muitas vezes, amigos e familiares que habitualmente dariam apoio ao luto motivado por outros tipos de perdas, afastam-se e não sabem o que fazer, contribuindo ainda mais para a sensação de isolamento e abandono vivenciados pelos sobreviventes Infelizmente ainda é frequente que as famílias sobreviventes sejam rotuladas como desajustadas, desequilibradas, desestruturas, sem capacidade de amar e cuidas sendo julgadas socialmente.
Os sobreviventes, incluindo crianças e adolescentes, podem experienciar um luto traumático e complicado. A posvenção oferece serviços de acesso aos cuidados especializados para o manejo do processo de luto, minimizando, dentre outras coisas, o risco de suicídios dentro desse grupo vulnerável.
Pode ser por meio de grupos de apoio ao luto ou psicoterapia.
É importante cuidar dos fatores de proteção ao luto: a religiosidade, o apoio profissional, o apoio social, a arte, a construção de significados, o compartilhar, entre outros recursos de enfrentamento, podem contribuir positivamente. Cabe ressaltar que não há uma receita única para o enfrentamento do luto.
Cada enlutado precisa encontrar o seu próprio caminho em seu próprio tempo.
FONTE(S): Suicídio: informando para prevenir*. Associação Brasileira de Psiquiatria, Comissão de Estudos e Prevenção de Suicídio. Brasília: CFM/ABP, 2014. Instituto Vita Alere de Prevenção e Posvenção do Suicídio – www.vitaalere.com.br Silva, Daniela Reis e. Na trilha do silêncio: múltiplos desafios do luto por suicídio. In Casellato, G. O resgate da empatia: suporte psicológico ao luto não reconhecido. São Paulo: Summus, 2015, pp.111-128.Silva, Daniela Reis e. E a vida continua… O processo de luto dos pais após o suicídio de um filho?. 138 p. Tese (mestrado). São Paulo. 2009. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
REFERÊNCIA: Silvia Helena Koller
Currículo Lattes
Professora Titular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Orientadora de Doutorado e Mestrado do Programa de Pós-graduação em Psicologia, Professora Honorária da Universidade de Chiclayo, Peru e da Universidade Autónoma de Peru; Coordenadora do Centro de Estudos Psicológicos CEP-Rua desde 1994, Professora Associada na North-West University, Vanderbijlpark, África do Sul. Atualmente em estágio senior na Harvard Graduate School of Education. Foi presidente da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Psicologia (ANPEPP) (2004-2006) e da Sociedade Brasileira de Psicologia do Desenvolvimento (2000-2002); Consultora da European Research Council Executive Agency desde 2014, Consultora ECD para a África do Sul (Conselho de Pesquisa de Ciências Humanas) e da UNICEF na Zâmbia. Conselheira da SBPC (2011-); Representante Latino Americana no Children´s Rights University Network (2005-2011); Consultora World Bank (2004); World Childhood Foundation (2004 -); EveryChild (2007); Kellogg Foundation Grantee (2003-2004); Editora da Revista Temas em Psicologia (2012-2013); Interamerican Journal of Psychology (SIP) (2003 2010) e Psicologia: Reflexão e Crítica/Psychology(1996-2002, 2008 2009); Editora Associada International Journal of Behavioral Development (ISSBD) (2005-2008) e do Child Development Abstracts and Bibliography (SRCD) (1997-2001); Membro International Affairs Council of SRCD (1999-2000, 2008-2012) e coordenadora do International Affairs Council of SRA (2013- ); Representante ad hoc América Latina no Comitê Executivo da ISSBD (2000-2011) e Membro atual eleito (2013-2018); Membro do European Research Council (2014- ). Parecerista de revistas e agências nacionais e internacionais (Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Peru, Portugal e USA). Coordenadora do GT ANPEPP Juventude, resiliência e vulnerabilidade. Publicações em revistas e livros internacionais e nacionais. Membro titular e Coordenadora do Comitê de Assessoramento de Psicologia e Serviço Social do CNPq (CA-PS, 2009-2011). Membro da Comissão de Assessoramento Técnico-Científico do CNPq (CATC, 2009-2010), do Comitê de Editoração Científica (2013-) e do Comissão Nacional de Avaliação da Iniciação Científica do CNPq (CONAIC, 2012-). Sua pesquisa tem foco na Psicologia Positiva de desenvolvimento e aplicada, desenvolvimento ecológico, direitos das crianças e adolescentes, resiliência e pró-socialidade. Lecionou em diversas universidades ao redor do mundo. Participou de vários programas de dimensão internacional, incluindo programa para prestar serviços a crianças vítimas de violência e suas famílias, implementado no Rio Grande do Sul (ver em www.ceprua.org) e Peru (http:/www.everychild.org.uk) e um programa que visa ao combate à violência sexual contra crianças e jovens dentro dos países do Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai; PAIR http://pair.ledes.net). Seus estudos têm sido foram usados para desenvolver programas de capacitação e promoção dos direitos e políticas sociais dentro dos Ministérios da Saúde, Educação, Habitação, Assistência Social e Justiça. Exemplos dessas iniciativas incluem um programa nacional de juventude preparação profissional (http://siteresources.worldbank.org/BRAZIL/3817166.pdf) e um programa nacional de combate à exploração sexual infantil nas estradas do país, trabalhando com motoristas, empresas de transporte, postos de gasolina, e outros envolvidos (Na Mão Certa; http://namaocerta.org.br). (Texto informado pelo autor)