Aluna: Kátia Cristina M. de Moraes A. da Conceição

Introdução

A religiosidade atua como protetora ao consumo de drogas, entre pessoas que freqüentam regularmente e praticam os preceitos da religião professada, crêem na importância da religião em suas vidas ou tiveram educação religiosa formal na infância.
Independentemente da religião professada, facilita a recuperação da dependência de drogas e diminui os índices de recaída de pacientes.
A ida aos cultos e missas contribui para diminuição do consumo de drogas, como a cocaína, sem que haja necessariamente, um tratamento formal nesses locais.
A religiosidade pode auxiliar no processo de recuperação de dependentes de drogas pelas seguintes vias: aumentos do otimismo, percepção do suporte social, resiliência, ao estresse e diminuição dos níveis de ansiedade.

Busca do Tratamento Religioso

A droga não gera mais prazer, mas sim a angústia de ter perdido a referenciais de vida.
A conscientização da crise não é imediata, levando até dois anos, a partir do momento em que se vinculam ao grupo religioso, e ocasionada por motivos distintos de acordo com o grupo.

Elementos Comuns no Tratamento Religioso

Dentre as técnicas de “tratamento” comuns aos grupos são relatadas: oração, conscientização da vida após a morte e a fé como promotora de qualidade de vida. O “tratamento” tem como objetivo a abstinência total, não sendo admitida a possibilidade de sucesso por meio de redução de danos por nenhum grupo. A questão da conscientização da vida após a morte e da estruturação da fé são tratadas nos cultos semanais religiosos.
O maior consenso entre as religiões é a proposta de orações freqüentes e, principalmente, no momento de desejo incontrolável de consumir a droga. As religiões incentivam essa prática como um dos artifícios no controle da recaída e sugerem que seus adeptos orem, no mínimo: ao acordar, pedindo proteção para o dia e antes de se deitar, agradecendo a proteção recebida. Para todas elas, a prece, ou oração, seria a forma de contato direto com Deus, como um diálogo entre pai e filho. Em relação ao tratamento da dependência, a oração é considerada o substituto da terapia farmacológica e teria função ansiolítica semelhante a um fármaco para esse fim.
Além de tranqüilizar o usuário de drogas, por meio de um estado meditativo e de alteração da consciência, a oração também promove a fé, dividindo a responsabilidade do “tratamento” com Deus.
A adoção de referenciais da religião faz com que o fiel confie na proteção de Deus e respeite as normas e valores impostos pela religião, melhorando a qualidade de vida dos adeptos. Esse comportamento levaria ao afastamento natural das drogas, à falta de interesse impulsionada pelo medo ou apenas pela conscientização da degradação moral associada ao abuso destas substâncias.
O enfrentamento das dificuldades, a partir da perspectiva espiritual apoiado na fé, acaba proporcionando afastamento natural de atitudes contrárias a moral difundida pela religião. Além disso, o fato de se contar com a ajuda irrestrita de Deus gera um amparo constante, conforto e bem-estar.
Independentemente da religião, a fé é tratada como elemento chave da vida espiritual ou religiosa, razão pela qual os encontros assumem fundamental importância.

Conclusão

A religião não apenas promove a abstinência do consumo de drogas, mas oferece recursos sociais de reestruturação: nova rede de amizades, ocupação do tempo livre em trabalhos voluntários, valorização das potencialidades individuais, coesão do grupo, apoio incondicional dos líderes religiosos, sem julgamentos.
Parte considerável do sucesso dos “tratamentos” religiosos está no acolhimento oferecido àqueles que buscam ajuda, no respeito que lhes é transmitido, auxiliando na recuperação da auto estima e reinserção social por meio de novas atividades e vínculos sociais. Esta estrutura alicerça-se na fé religiosa, que promove o vínculo ao grupo por oferecer respostas religioso filosóficas para as questoes da vida.

REFERÊNCIAS

1. Barrett ME, Simpson D, Lehman WE. Behavioral changes of adolescents in drug abuse intervention programs. J Clin Psychol. 1988;44(3):461-73. [ Links ]

2. Biernarcki P, Waldorf D. Snowball sampling-problems and techniques of chain referral sampling. Sociol Methods Res. 1981;10(2):141-63. [ Links ]

3. Blum RW, Halcon L, Beuhring T, Pate E, Campell-Forrester S, Venema A. Adolescent health in the Caribbean: risk and protective factors. Am J Public Health. 2003;93(3):456-60. [ Links ]

4. Carlini EA, Galduróz JCF, Noto AR, Nappo SA Levantamento domiciliar sobre o uso de drogas psicotrópicas no Brasil: estudo envolvendo as 107 maiores cidades do Brasil: 2001. São Paulo: CEBRID/SENAD; 2001. [ Links ]

5. Coruh B, Ayele H, Pugh M, Mulligan T. Does religious activity improve health outcomes? A critical review of recent literature. Explore (NY). 2005;1(3):186-91. [ Links ]

6. Dalgalarrondo P, Soldera MA, Correa Filho HR, Silva CAM. Religião e uso de drogas por adolescentes. Rev Bras Psiquiatr. 2004;26(2):82-90. [ Links ]

7. Day E, Wilkes S, Copello A. Spirituality is not everyone’s cup of tea for treating addiction. BMJ.2003;326(7394):881. [ Links ]

8. Dermatis H, Salke M, Galanter M, Bunt G. The role of social cohesion among residents in a therapeutic community. J Subst Abuse Treat. 2001;21(2):105-10. [ Links ]

9. Galanter M. Healing through social and spiritual affiliation. Psychiatr Serv. 2002;53(9):1072-4. [ Links ]

10. Galanter M. Spirituality and the health mind: science, therapy, and the need for personal meaning. New York: Oxford University Press; 2005. [ Links ]

11. George LK, Ellison CG, Larson DB. Explaining the relationship between religious involvement and health. Psychol Inq. 2002;13(3):190-200. [ Links ]

12. Hodge DR, Cardenas P, Montoya H. Substances use: spirituality and religious participation as protective factors among rural youths. Soc Work Res. 2001;25(3):153-60. [ Links ]

13. Jacob CRD, Hees DR, Waniez P, Brustlein V. Atlas da filiação religiosa e indicadores sociais no Brasil. Rio de Janeiro: Loyola, 2003. [ Links ]

14. Miller L, Davies M, Greenwald S. Religiosity and substance use and abuse among adolescents in the national comorbidity survey. J Am Acad Child Adolesc Psychiatry. 2000;39(9):1190-7. [ Links ]

15. Neff JA, Shorkey CT, Windsor LC. Contrasting faith-based and traditional substance abuse treatment programs. J Subst Abuse Treat. 2006;30(1):49-61. [ Links ]

16. Pardini DA, Plante TG, Herman A, Stump JE. Religious faith and spirituality in substance abuse recovery: determining the mental health benefits. J Subst Abuse Treat. 2000;19(4):347-54. [ Links ]

17. Patton MQ. Qualitative evaluation and research methods. London: Sage; 1990. [ Links ]

18. Pullen L, Modrcin-Talbott MA, West WR, Muenchen R. Spiritual high vs high on spirits: is religiosity related to adolescent alcohol and drug abuse?. J Psychiatr Ment Health Nurs. 1999;6(1):3-8. [ Links ]

19. Richard AJ, Bell DC, Carlson JW. Individual religiosity, moral community, and drug user treatment. J Sci Study Relig. 2000;39(2):240-6. [ Links ]

20. Silva LVER, Malbergier A, Stempliuk VA, Andrade AG. Fatores associados ao consumo de álcool e drogas entre estudantes universitários. Rev Saude Publica. 2006;40(2):280-8. [ Links ]

21. Sanchez ZVM, Oliveira LG, Nappo SA. Fatores protetores de adolescentes contra o uso de drogas com ênfase na religiosidade. Cienc Saude Coletiva. 2004;9(1):43-55. [ Links ]

22. Taylor SJ, Bodgan R. Introduction to qualitative research methods. New York: John Wiley & Sons; 1998. [ Links ]

23. World Health Organization. Qualitative research for health programmes. Geneva: Division of Mental Health; 1994. [ Links ]

Fonte
Site: scielo.br

Intervenção Religiosa na Recuperação do Dependentes Químicos