Aluna: Denise Ferreira de Souza Ribeiro
Introdução
O uso de substâncias psicoativas, que altera o estado mental, já acontece há milhares de anos e possivelmente ainda se fará presente por muito tempo no seio da humanidade. Seja por motivos culturais, recreativos, religiosos ou como uma fuga de seus problemas sócio emocionais, até mesmo como forma de isolamento, o ser humano poderá vir a buscar nestas substâncias o resultado então desejado.
Este relacionamento do indivíduo com uma determinada substância psicoativa, dependendo da ocasião pode se tornar inofensiva, não causando grandes riscos, porém quando assumido com padrões elevados de consumo, pode oferecer sérios danos, sejam eles biológicos, sociais ou psicológicos. Contudo, se justifica o grande esforço em difundir informações confiáveis sobre este problema que afeta a saúde pública nos tempos atuais, prejudicando a qualidade de vida de tantos indivíduos.
O julgamento moral com relação ao consumo de drogas foi bastante modificado quando se percebeu a relação do indivíduo com o álcool, o qual é uma das drogas mais difundidas na humanidade. Os aspectos desta dependencia correlacionados à saude ao seu consumo foi se modificando nos últimos dois séculos através dos estudos e pesquisas associados à saúde mental. A visão que antes se demostrava preconceituosa, de falta de caráter ou até mesmo atribuída a força do mal, hoje já se adquire claramente conceitos e diagnósticos relacionados à dependência química.
E.M. Jellinek foi, talvez, dentre os cientistas do século XX, um dos precursores na realização de estudos sobre alcoolismo nos Estados Unidos, obtendo apoio de vários grupos de autoajuda recém-criados em 1935 como os Alcoólicos Anônimos (AA), que posteriormente apoiaram e influenciaram nos estudos e pesquisas realizados pela OMS (Organização Mundial de Saúde) e pela AMA (Associação Médica Americana).
A partir de 1960 o Programa de Saúde Mental da Organização Mundial de Saúde alterou o diagnóstico e a classificação de transtornos mentais, definindo claramente termos relacionados. A partir de encontros promovidos para discutir e pesquisar juntamente com as escolas de psiquiatria, representantes de diversas disciplinas puderam estabelecer critérios para classificação e confiabilidade de diagnósticos. Vários procedimentos de avaliação foram relacionados a partir de uma metodologia aplicada nos diagnósticos pesquisados.
Na 8ª Revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID-8), muitos destes estudos de pesquisa e avaliação foram utilizados para melhorar a classificação de transtornos mentais.
Atualmente o nosso Sistema de Saúde Pública utiliza a classificação da 10ª Revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID-10ª), no que se refere as descrições clínicas e diretrizes diagnósticas das doenças que conhecemos.
O Manual Diagnóstico e Estatístico Transtornos Mentais (DSM-IV), da Associação Psiquiátrica Americana também é um outro sistema classificatório muito utilizado.
Quando nos referimos ao uso de drogas estamos nos referindo a autoadministração de qualquer substância psicoativa. O abuso desta substância é compreendido como um padrão que aumenta a possibilidade de consequências e prejuízos graves para o usuário.
Segundo a Classificação Internacional (CID-10), o termo “uso nocivo” é conceituado como aquele que resulta em dano físico ou mental. Já no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV), o termo utilizado como “abuso” engloba também consequências sociais importantes.
SÍNDROME DA DEPENDÊNCIA DO ÁLCOOL
Na década de 1970, segundo os cientistas Edwards e Gross, os principais sintomas da Dependência do Álcool foram conceituados da seguinte forma:
1- Estreitamento do repertório de beber – Ato de fazer o uso do álcool em situações constantes com menos variação em termo de escolha da companhia, horário, local, motivos, ficando cada vez mais exposto à dependência.
2- Saliência do comportamento de busca pelo álcool – O comportamento passa a ser em função da bebida, onde e como vai obtê-la, postergando as atividades importantes do dia a dia para segundo plano.
3- Sensação subjetiva da necessidade de beber – Perda de controle, desejo compulsivo pela bebida.
4- Desenvolvimento da tolerância ao álcool – O desejo cada vez maior de conseguir o efeito alcançado no início faz com que o organismo suporte cada vez mais, maiores quantidades de álcool.
5- Sintomas repetidos de abstinência – Juntamente com a tolerância adquirida, surgem sintomas desagradáveis quando diminuída a dose habitual ou na interrupção da mesma. Podendo ocorrer tremores, taquicardia, enjoos, convulsões, podendo levar à morte.
6- Alívio dos sintomas de Abstinência ao aumentar o consumo – O diagnóstico da dependência adquirida feito por um profissional muitas vezes é tardio, pelo fato da negação do sujeito quando ele se torna tolerante ao álcool reduzindo o intervalo de uso e aumentando o consumo para não adquirir as sensações desagradáveis da abstinência.
7- Reinstalação da síndrome de dependência – Mesmo tendo paralisado o uso da substância por um longo período, o antigo padrão de uso poderá se restabelecer rapidamente quando volta a fazer o consumo da mesma.
CONCLUSÃO
Embora tenha se referido ao álcool, a síndrome da dependência poderá vir a ser instalada com qualquer outra droga quando o potencial de abuso for adquirido.
Os transtornos adquiridos pelo uso de substâncias psicoativas, apresentam características e consequências graves, tornando-se um grave problema de saúde pública. Quanto antes for diagnosticada e tratada a dependência, maior será a chance de restabelecimento da saúde e o bem-estar do sujeito.
Autores: Cláudio Elias Duarte e Rogério Shigueo Morihisa
Fonte: Integração de competências no desempenho da atividade judiciária com usuários e dependentes de drogas / organização de Paulina do Carmo A. Vieira Duarte e Arthur Guerra de Andrade. Brasília: Ministério da Justiça, Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas, 2011.
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