Rosangela Suisso de Oliveira
RESUMO
Trata-se de estudo aprofundado sobre a dependência química da cocaína, cujo objetivo é analisar sua abordagem no tocante ao tratamento e o efeito da mesma no organismo. Atualmente, o consumo de substâncias psicoativas está disseminado por todas as classes sociais, faixas etárias e culturas, tornando-se um grave problema de saúde pública em todo o mundo. A classificação e os critérios diagnósticos da dependência ou do uso nocivo de substâncias são necessários para a uniformização e uma linguagem própria para compreender os fenômenos envolvidos nesses transtornos, objetivando melhores abordagens e tratamentos. Portanto, é fundamental que os profissionais conheçam esses conceitos e os apliquem na prática. A presente pesquisa se reveste de relevância, haja vista que seu uso indiscriminado causa dependência química que é caso de saúde pública. Para o desenvolvimento do estudo foi utilizada a metodologia bibliográfica, utilizando como referências: livros, artigos científicos e revistas periódicas sobre o assunto.
Palavras-chave: Dependência química. Cocaína. Efeitos.
INTRODUÇÃO
É o conjunto de fenômenos comportamentais, cognitivos e fisiológicos que se desenvolvem após repetido consumo de uma substância psicoativa, tipicamente associado ao desejo poderoso de tomar a droga, à dificuldade de controlar o consumo, à utilização persistente apesar das suas consequências nefastas, a uma maior prioridade dada ao uso da droga em detrimento de outras atividades e obrigações, a um aumento da tolerância pela droga e por vezes, a um estado de abstinência física.
Hodiernamente, é um dos temas mais presentes em diversos meios, dada a sua grande relevância de cunho mundial. Porém, abordado de maneira equivocada pela mídia, distorcendo fatos e demonstrando uma realidade obscura e travada de preconceitos, o que acaba por muitas vezes, não auxiliando em seu tratamento específico.
DEPENDÊNCIA
A toxicodependência pode ser definida como o consumo repetido, permanente e compulsivo de uma droga. Embora o fenómeno da dependência das drogas compreenda quatro componentes ou manifestações bem distintas, como a dependência psíquica, a dependência física, a síndrome de abstinência e a tolerância, a sua presença e intensidade variam de acordo com a substância que as provoca e o grau de dependência.
Dependência psíquica. A dependência psíquica pode ser definida como um desejo compulsivo de estar e manter-se sob o efeito de uma determinada droga e costuma manifestar-se através de um estado de agitação e ansiedade provocado pela ausência dos efeitos. Embora a dependência psíquica seja uma componente constante da dependência, a rapidez com que se desenvolve varia consoante as características químicas das drogas e os aspectos psicológicos e socioculturais do indivíduo que as consome. No entanto, a dependência psíquica de drogas como a heroína, a cocaína ou determinados medicamentos com efeito tranquilizante é muito mais rápida do que a provocada pelo álcool ou pela marijuana.
Dependência física. Como as drogas alteram e desequilibram o funcionamento orgânico, o seu excesso e repetido consumo costuma provocar uma dependência física, ou seja, para se adaptar e poder funcionar de forma adequada, o organismo é obrigado a desenvolver uma série de mecanismos, fazendo com que o organismo não consiga funcionar corretamente sem o consumo da droga, depois de se estabelecer a dependência física.
Síndrome de abstinência. Designa o conjunto de problemas provocado quando um indivíduo dependente de uma droga interrompe a sua administração. No caso de algumas drogas, como os derivados do cânhamo ou os alucinogénios, esta síndrome é muito pouco evidente ou praticamente inexistente. Por outro lado, no caso de outras drogas, como o álcool e a heroína, a síndrome pode ser muito grave. Na maioria dos casos, quanto maior for a dependência física, mais intensa será a síndrome de abstinência.
Tolerância. A tolerância é um fenómeno através do qual um indivíduo dependente de uma droga necessita de doses cada vez mais significativas para conseguir os efeitos desejados. Este fenómeno, semelhante ao da dependência física, é provocado pela progressiva adaptação do organismo à droga. É preciso referir que a tolerância tem um limite, já que a denominada “dose letal” (overdose), ou seja, a dose de uma droga que provoca a morte do indivíduo, não é necessariamente superior para os dependentes do que para a população em geral.
COCAÍNA
A cocaína, benzoilmetilecgonina ou éster do ácido benzoico, denominada também por coca, é um alcaloide, estimulante, anestésica, usada principalmente como uma droga recreativa. Ela pode ser inalada, fumada ou injetada. Os efeitos mentais abrangem a perda de contato com o que ocorre na realidade, promovendo uma grande emoção, tanto de felicidade como de agitação. Os sintomas geralmente são: aceleração do ritmo cardíaco, transpiração e dilatação das pupilas.
A cocaína tem sua metabolização através do fígado, assim como a maioria das drogas,. A cocaína age como um inibidor da enzima MAO (monoamina oxidase), da recaptação e estimulante da liberação de noradrenalina e dopamina, que existem nos neurônios. A dopamina e a noradrenalina são neurotransmissores cerebrais que são secretados à sinapse, aonde são recolhidos outra vez para dentro dos neurônios por esses transportadores inibidos pela cocaína.
PADRÕES DE UTILIZAÇÃO DA COCAÍNA
A cocaína tem a aparência de pó branco e puro, podendo ser utilizada de diversas maneiras, tais como: Pasta, pó; crack, merla, óxi, pitilo ou mesclado. Todavia, a forma mais corriqueira é pela inalação/aspiração da mesma, que geralmente se expõe sob o formato de pó. Também pode ser administrada: diretamente na corrente sanguínea, mastigação da folha de coca ou ingerido por meio de chá das folhas.
EFEITOS DA COCAÍNA
A cocaína estimula o sistema nervoso central e age de forma inibidora da fome. Atua através da supressão da recaptação de serotonina, noradrenalina e dopamina; ou seja, manifesta-se em grandes concentrações destes três neurotransmissores cerebrais, podendo ultrapassar com certa facilidade o obstáculo da hematoencefálica, lesionando-a.
A cocaína está presente nas folhas da coca (Erythroxylum coca), no qual é cultivada especialmente na América do Sul. A maior parte dos seus efeitos são relativos diretamente à estimulação dos sistemas simpático e dopaminérgicos. A cocaína enseja danos/ lesões cerebrais microscópicos significativos em cada dose consumida. Os danos tornam-se irreversíveis quando o consumo torna-se regularmente. A duração dos efeitos variam de 30 a 40 minutos. Entre os efeitos descritos da droga, estão:
- Efeitos psicológicos: euforia, sensação de poder, ausência de medo, ansiedade, agressividade, excitação física, mental e sexual, anorexia (perda do apetite), insônias, delírios.
- Efeitos no organismo: taquicardia, aumento na frequência dos batimentos cardíacos (sensação do coração bater mais rápido e mais forte contra o peito), hipertensão arterial, vasoconstrição, urgência de urinação, tremores, midríase (dilatação da pupila), hiperglicemia, suor e salivação intensa e com textura grossa, dentes anestesiados.
É bastante complexo deduzir a dose avaliada alta, haja vista que varia de pessoa a pessoa, como também conforme a quantidade de pureza da cocaína consumida. As vezes até mesmo com a utilização de 1g, ou um papelote, os efeitos já começam a surgir. Geralmente, os efeitos em altas doses, são: convulsões, depressão neuronal, alucinações, paranoia (geralmente reversível), taquicardia, mãos e pés adormecidos, depressão do centro neuronal respiratório, depressão vasomotora e até mesmo coma e morte em uma overdose. A overdose de cocaína são ligeiras e letais, tendo como principais sintomas: arritmias cardíacas, convulsões epilépticas generalizadas e depressão respiratória com asfixia.
A cocaína apresenta uma tolerância bem determinada e de estabelecimento rápido. A fim de que os efeitos sejam obtidos, o consumidor utiliza doses cada vez mais altas. Tais efeitos, com o passar do tempo, abancam uma menor durabilidade e menor intensificação com o tempo de consumo. Para tanto, o consumidor passa a utilizar cada vez mais a droga para se satisfazer em intensidade semelhante a anterior. Gera danos cerebrais amplos em um ínfimo espaço de tempo de consumo.
Efeitos a longo prazo: Perda de memória; perda da capacidade de concentração mental; perda da capacidade analítica; falta de ar permanente, trauma pulmonar, dores torácicas; destruição total do septo nasal; perda de peso até níveis de desnutrição; cefaleias; síncopes; distúrbios dos nervos periféricos; silicose.
Efeitos tóxicos agudos: Estes efeitos podem ocorrer ou não após uma única dose baixa, mas são mais prováveis com o uso continuado e em doses altas: Arritmias cardíacas; complicação possivelmente fatal; trombose coronária com enfarte do miocárdio; trombose cerebral com AVC; outras hemorragias cerebrais devidas à vasoconstrição simpática. Necrose (morte celular) cerebral; Insuficiência renal; Insuficiência cardíaca; Hipertermia com coagulação disseminada potencialmente fatal.
TRANSTORNOS PSIQUIÁTRICOS
A cocaína não apresenta síndrome física bem determinada, durante o tempo os efeitos da sua carência não são subjetivos. Posteriormente ingestão no tempo apenas alguns dias, há universalmente: depressão (muitas vezes profunda), disforia (ansiedade e mal estar), degradação das funções motoras, abrangente dano da capacidade de aprendizagem, perda de comportamentos aprendidos. A síndrome psicológica da cocaína é muito poderosa.
Há constatações obtidas pelo meio de estudos epidemiológicos de que a cocaína é extremamente mais viciante que a maconha (cannabis), o álcool ou o tabaco. A longo prazo (alguns meses) acontecem constantemente múltiplas hemorragias cerebrais com morte ampla de neurônios e dano progressiva das funções intelectuais superiores. São corriqueiras síndromes psiquiátricas como esquizofrenia e depressão profunda unipolar.
Tratamento da toxicodependência em cocaína
Por enquanto ainda não houve uma conclusão sobre qual o melhor tipo de tratamento, mesmo havendo diversos estudos acerca do assunto. A maioria dos tratamentos bem sucedidos incluem o perfil psicológico do dependente, doenças associadas, estrutura e apoio familiar, vontade de parar o uso da droga, entre outros. Insta acentuar que há uma gama de tratamento para o mesmo tipo de toxicodependência.
Tipos de tratamento
- Formais: Atendimento no Sistema Único de Saúde – SUS: implementam iniciativas de prevenção, promoção e tratamento, chamados de Centros de Atenção Psicossocial – CAPS e CAPS AD; utilização de farmacoterapia (medicamento para tratamento da síndrome de abstinência; medicamentos para tratamentos aversivos; medicamentos para tratar a compulsão pelo uso); psicoterapia; internação.
- Informais: Alcoólicos Anônimos (AA), Narcóticos Anônimos (NA), comunidades terapêuticas análogas, como: Al-Anon (AA); Nar-Anon (NA). Ambos grupos tem por embasamento o método dos doze passos, tomando por base a experiência e aceitação da doença.
CONCLUSÃO
Ante a todo o exposto, a realização desse trabalho procurou analisar acerca da problemática da dependência em cocaína no tocante aos seus efeitos e tratamento. Procurou-se demonstrar diversos fatores desencadeadores da dependência na referida droga na vida do indivíduo, os tipos de dependência existentes, além de suas consequências no próprio usuário.
Assevera ser a dependência química em cocaína uma doença tratável, apontando-se as diversas maneiras de se tratar os pacientes dando destaque à importância da atuação do profissional frente a esse problema. Como foi evidenciado no desenvolvimento da pesquisa, não existe, por enquanto, um melhor tratamento. Sendo de suma importância para a eficácia do mesmo, a vontade de se livrar do vício e a identificação dos fatores associados à dependência.
REFERÊNCIAS
DIEHL, Alexandre. CORDEIRO, Daniel Cruz. LARANJEIRA, Reinaldo. Dependência Química. Prevenção, Tratamento e Políticas Públicas. Porto Alegre, Artmed: 2011.
SENAD – Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas. Disponível https://www.supera.senad.gov.br/ocursosupera/ Acesso em 28 de maio de 2018.
ZANELATTO, Neide A; LARANJEIRA, Reinaldo. O Tratamento da Dependência Química e as Terapias Cognitivo-Comportamentais. Porto Alegre, Artmed: 2013.