Iaraçu Teixeira dos Santos

A família é o primeiro e principal sistema afetado pela dependência química de um
de seus membros, o que acarreta consequências na saúde dos familiares envolvidos,
fragilização de suas relações e necessidade de intervenções terapêuticas. Objetivo:
Descrever as consequências da dependência química no âmbito familiar e identificar as
dificuldades enfrentadas pela família durante o tratamento do dependente químico. Os
resultados aqui descritos vão apontar que as famílias vivenciam problemas legais,
econômicos, de interações sociais, violência e adoecimento físico e psíquico, o que as leva
à dificuldade de engajamento no processo terapêutico e de como lidar com os sentimentos
emergentes durante o tratamento.

PALAVRAS-CHAVE: Terapia familiar; Relações familiares; Família

INTRODUÇÃO

O relacionamento entre o uso das drogas e o homem acompanha a história
da humanidade, independente da classe social, passando do consumo de
substâncias psicoativas em situações ritualísticas para a busca do “alívio imediato
de desconforto físico, psíquico ou de pressão social”.
A concepção de abuso de álcool e outras substâncias químicas têm evoluído
e sofrido transformações gradativas, decorrentes dos avanços científicos.
Dados epidemiológicos nacionais apontam que o padrão de consumo de
algumas drogas vem aumentando na população brasileira, considerando-se as
especificidades das regiões do país, gênero, faixa etária, classe socioeconômica e
tipo de drogas. O aumento abusivo e a dependência química elevam o risco de
problemas sociais, de trabalho, familiares, físicos, legais e de segurança pública, o
que acentua a necessidade de atenção.

DESENVOLVIMENTO

Visando a uma possível efetividade e eficácia do processo terapêutico para o
indivíduo que consome álcool e outras substância psicoativas, o profissional da
área da saúde precisa atentar ao cuidado, não só desse indivíduo, mas também de
sua família, possibilitando-lhe inclusive uma participação na terapia.
A família é um sistema aberto, cujos membros se relacionam, criam laços
emocionais e compartilham suas histórias e experiências. Nessa dinâmica
relacional, seus integrantes objetivam a uma estabilidade familiar e convivem com
os desafios constantes das mudanças próprias das transições presentes no ciclo
vital da família.

Ao se definir família, consideram-se as múltiplas funções reguladoras dos
papéis assumidos por seus membros, contradições de seus comportamentos,
afetos, tensões, conflitos presentes no ambiente e que, simultaneamente,
contribuem para que esse sistema se mantenha dinâmico e em constante
transformação, cumprindo seu papel social de gerador e transmissor de crenças,
valores e tradições culturais.

Assim, compreende-se que é no interior da família que ocorrem as interações
e os conflitos, os quais possibilitam a sua organização e reorganização,
influenciando diretamente na saúde de seus integrantes. A família é o primeiro e
principal sistema afetado quando um dos membros familiares passa a fazer uso de
drogas lícitas e/ou ilícitas, e tal comportamento acarreta consequências para a
saúde de todos os envolvidos e a fragilização da relação dos mesmos.

Outro fator importante é a compreensão da família como cenário de risco
e/ou de proteção diante das complexidades do abuso de drogas.
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Nesse caso, a família assume o papel de criadora de possibilidades de saúde
para seus membros e oferece um cenário para transformações ou resoluções de
problemas.

No enfoque da família como cenário de risco para tal problemática, os fatores
de risco podem estar associados como, por exemplo, às relações afetivas
conflitantes entre seus membros, situações de violência física de pais diante de
seus filhos, entre outros.

Dessa forma, é de grande relevância pensar-se na importância da família do
dependente e do papel fundamental que ela exerce no processo de recuperação da
pessoa que faz uso de substâncias psicoativas. A literatura aponta que, no processo
de adoecimento do dependente químico, um dos fatores, mas não o único, que o
motiva ao uso de álcool e de outras drogas e às possíveis recaídas tem relação com
a inabilidade da família em lidar com o comportamento de seu familiar dependente,
necessitando também ela de acolhimento e acompanhamento.

Os integrantes da família enfrentam situações de angústia, conflitos, dúvidas,
medos e outros sentimentos durante a terapêutica do seu ente ou entes adoecidos,
portanto requerem um espaço terapêutico para serem ouvidos e ajudados.

Dessa maneira, este estudo tem como objetivos descrever as consequências
da dependência química no âmbito familiar e identificar as dificuldades enfrentadas
pela família durante o tratamento do dependente químico, tendo por base a
produção científica nacional produzida.

Consequências da dependência de substâncias psicoativas na família

As famílias veem as consequências do uso de substâncias psicoativas, como
problemáticas no âmbito dos relacionamentos interpessoais e sociais, dificultando o
estabelecimento e a manutenção dos laços afetivos. Os familiares reconhecem a
necessidade do seu membro dependente parar de usar drogas ilícitas ou lícitas
quando surgem sintomas físicos que afetam a realização de atividades de vida
diária ou as instrumentais de vida do cotidiano. Tais situações conflitantes
possibilitam a emersão de sentimentos paradoxais nos familiares e causam-lhes
marcas físicas, sociais, morais, legais e psicológicas intensas.

A família sofre o impacto que o uso álcool e de outras drogas causa em um
de seus membros, conforme esse reage durante o processo de uso. Segundo
apontaram a pesquisa, a família passa por quatro estágios sob a influência das
drogas que, devido à singularidade e subjetividade de cada uma, podem não se
apresentar no mesmo processo em todas elas.

No 1º estágio , há predomínio do mecanismo de defesa da negação. A família
e o usuário vivenciam situações de tensão e conflitos, porém não verbalizam os
seus sentimentos e pensamentos em relação a tal problemática.

Durante o 2º estágio , a família desperta para o problema, preocupa-se com
tal questão, tenta controlar o uso da droga. Neste momento, evita abordar o assunto
e mantém a ilusão de que as drogas não são as causadoras dos problemas
familiares.

No 3º estágio , os membros familiares assumem papéis rígidos, previsíveis e
realizam uma inversão de papéis. As famílias assumem responsabilidades de atos
que não são seus, impedindo que o dependente químico perceba os problemas
advindos do consumo de substâncias psicoativas (SPA).

Finalmente, o 4º estágio é caracterizado pelo desgaste emocional dos
familiares e podem surgir alterações comportamentais entre os seus integrantes. A
situação fica insustentável, ocorre um distanciamento entre os membros, o que gera
uma desestruturação familiar. A análise detalhada desse estudo possibilitou
identificar seis categorias temáticas relacionadas às consequências da dependência
de SPA na família, veja abaixo:

1. Emersão de sentimentos paradoxais nos familiares.
2. Problemas econômicos e legais.
3. Adoecimento físico e psíquico.
4. Interação social comprometida.
5. Violência doméstica, física e psicológica.
6. Sintomas de co-dependência.
1. Emersão de sentimentos paradoxais nos familiares

Estudos apontaram que os sentimentos mais comuns que afloram no seio da
família, diante do usuário de SPA ou de situações vivenciadas. São eles: raiva,
vergonha, humilhação, ressentimento, impaciência, sofrimento emocional,
impotência, medo do futuro, solidão diante do resto da sociedade. Os familiares
também perceberam a necessidade de impor limites para o membro dependente,
porém houve conflito entre o conhecimento deles sobre a doença e os seus próprios
conceitos já internalizados. A família apontou o descrédito às promessas de
abstenção às drogas expostas pelo dependente e sentiram culpa e vergonha pelo
estado em que ele se encontra. Muitas vezes, tal sentimento esteve relacionado à
demora familiar em identificar e/ou admitir o problema, o que retardou a procura de
ajuda externa e profissional e colaborou para agravar o desfecho do caso.

O medo foi um dos sentimentos mais evidenciados e marcantes na vida
familiar. Muitas vezes, associado à violência contra o outro ou contra si mesmo, às
situações de abandono, de cometer erros, de não ter uma vida própria, em virtude
da obsessiva preocupação com o membro dependente, bem como o receio de que
algo de ruim aconteça ao familiar doente.

Os sentimentos experiência dos pela família são semelhantes, ou
praticamente iguais aos que o usuário de drogas sente. Portanto é preciso que, no
processo terapêutico, o profissional da saúde os identifique e perceba as reações dos integrantes da família diante do usuário, auxiliando-a na percepção e
ressignificação de tais sentimentos.

2. Problemas econômicos e legais

É muito comum a família apresentar problemas econômicos derivados de
gastos efetuados pelo dependente químico, tais como dívidas em bares, alto gasto
com tratamento médico, inclusive com situações críticas, como falência de
empresas pertencentes à pessoa doente ou da família. Os problemas legais
vivenciados pela família envolveram agressões físicas, psicológicas ou morais,
divórcios entre pares e roubos, tanto no contexto familiar como exterior a ele.

3. Adoecimento psíquico e físico

O tema do adoecimento psíquico e físico surgiu em alguns estudos.
Dificuldades na fala, na aprendizagem e na convivência social podem ocorrer em
filhos de dependentes químicos, ocasionados pela violência, principalmente a
doméstica. Outras respostas físicas e emocionais identificadas foram: cefaleias,
alterações da pressão arterial e dos valores glicêmicos, alterações do sono, humor
deprimido, pensamentos suicidas, prostração, letargia, ansiedade, distúrbios
alimentares e diminuição ou interrupção do contato sexual. Estudo apontou que
93,53% das mulheres companheiras de dependentes alcoólicos apresentaram-se
estressadas, e 67,70% delas se encontraram numa fase de resistência, 12,90% na
fase de exaustão e de alerta, e 6,45% de quase exaustão. Geralmente, as mulheres
de usuários de drogas são os primeiros membros a sinalizar estresse no sistema
familiar, devido a conflitos, intensas brigas, baixa tolerância e adaptação social em
função das consequências da droga.
4. Interação social comprometida
A literatura salientou que a dependência química ocasiona problemas no
sistema familiar, tais como: desintegração das relações, separações entre o
membro que faz uso de drogas e seu companheiro (a) ou filhos/filhas e outros
entes. Pode, também, desencadear um isolamento social da família, para evitar
constrangimentos e sentimentos de vergonha, raiva e humilhação. Uma das
justificativas do isolamento e afastamento do familiar em relação ao dependente
químico foi o sentimento de perda de esperança de recuperação deste ou a
possibilidade de modificação das interações familiares e sociais. Há evidências de
que esse isolamento apareça também em alguns membros familiares na tentativa
de viver em um mundo à parte, para se proteger de algo doloroso oriundo de fora do
sistema familiar. O isolamento familiar leva ao comprometimento da recuperação e
da manutenção da abstinência de drogas, além de dificultar a ação do profissional
envolvido no processo de prevenção, promoção e tratamento do problema. A
dependência química de um ou mais membros da família causa um impacto
importante nas relações afetivas interpessoais e sociais, dificulta a aproximação e
manutenção de laços de intimidade, de confiança, com reflexos na interação do
familiar com a sua rede social e com o dependente. Porém, é muito importante que
o profissional de saúde dirija o seu olhar para a família na dimensão de sua
resiliência, ou seja, para a capacidade da família de suportar as crises, as
adversidades e superá-las, buscando recuperar-se.
6. Violência doméstica, física e psicológica
Estudos apontaram que entre os tipos de violência presentes, a mais
recorrente foi a doméstica que atinge pais, cônjuges e filhos. Estes últimos podem
sofrer graves distúrbios em seu desenvolvimento, como dificuldades na fala, na
aprendizagem cognitiva e na convivência social. As mães e esposas de
dependentes químicos demonstram grande medo de serem agredidas fisicamente
por eles. Tais agressões são ocasionadas, muitas vezes, quando o parceiro ou os
filhos estão sob o efeito do álcool. Com isso, evidenciou-se que o cotidiano
demonstrado pelos familiares é instável, permeado por diversos conflitos, ameaças,
desqualificações, ciúmes, violência física e psicológica. Outro dado importante
constata que crianças criadas em famílias onde outros membros abusam ou são
dependentes de drogas ou de outras substâncias, também apresentaram risco
elevado para abuso físico e sexual. As situações de violência, expressas nas
agressões físicas e/ou emocionais vivenciadas pelas crianças e adolescentes, são
consideradas estressores familiares, portanto fatores de risco para que essa
população também passe a fazer uso de substâncias psicoativas.
7. Sintomas de co-dependência
Os problemas causados pela utilização de drogas, ilícitas ou lícitas, afetam o
cotidiano da família, o que lhe torna possível o surgimento de diversos sintomas,
sentimentos e atitudes, característicos da codependência tais como: medo,
desconfiança, culpa, excesso de cuidado/controle para com o outro, descuido para
consigo, mudanças no estilo de vida. Além desses, podem surgir: sobrecarga física
e emocional, baixa autoestima, sentimentos de impotência, fracasso, sensação de
vazio, o que leva as famílias à necessidade de suporte terapêutico.
O termo codependência pode ser entendido como a dependência emocional
de uma mãe com seus filhos e/ou filhas, da esposa em relação ao esposo, de
filhos/filhas com seus pais ou irmãos, que assumem uma atitude de
cuidador/cuidadora obsessiva com o (a) outro (a), preocupam-se e tentam controlar
excessivamente o comportamento do outro, levando-o a esquecer-se de si próprio.
Consideram-se a dependência química e a codependência como doenças, com
características de negação, obsessão, compulsão e perda de controle. Seus
comportamentos são socialmente aprendidos e afetam a saúde física e mental,
tanto das pessoas que consomem substâncias psicoativas como daqueles que
convivem cotidianamente com o dependente.
No Brasil, a influência da abordagem patológica ou de doença é muito forte
entre os profissionais da saúde e também abrange o conceito de codependência.
Atualmente, esse termo é questionável, pois apresenta uma visão estigmatizada
tanto do comportamento do dependente como da família.
Há um predomínio de culpar o dependente como causador do sofrimento dos
familiares: busca-se identificar as vítimas (familiar ou dependente) e o culpado (o
dependente químico ou familiar), sustenta-se uma visão do “bem” versus o “mal” e
mantém-se a simbiose. A família se culpa pelos comportamentos do dependente
químico, que julga ser a família a causadora do seu comportamento inadequado.
Atualmente, busca-se responsabilizar o dependente e a família separadamente.
Cada um se responsabiliza por si e trabalha com a ambivalência familiar, ou seja,
sentimentos coexistentes e conflitantes a respeito de algo, caracterizados por
posturas que oscilam da vulnerabilidade aos desafios e vice-versa.
A partir dessa pesquisa, foram identificadas quatro categorias temáticas
relacionadas às dificuldades enfrentadas pela família durante o acompanhamento
terapêutico do dependente químico:
– Falta de engajamento da família;
– Necessidade de lidar com os sentimentos emergentes;
– Predomínio da visão do modelo moral;
– Acesso à rede de atendimento à saúde.
Falta de engajamento da família
A inserção familiar no processo terapêutico a corresponsabiliza, pois o
dependente químico necessita de ser assessorado, considerando-se as suas
dificuldades de relacionamento com os membros familiares e pessoas do ambiente
externo. Além disso, o apoio familiar favorece a adesão do usuário ao tratamento e
ao serviço de saúde. Geralmente, a família compreende que somente o serviço de
atendimento à saúde mental é responsável pelo cuidado do dependente de álcool e
de outras drogas, além de depositar na equipe e no serviço a expectativa de cura.
Tal pensamento pode ser considerado um dos motivos do não engajamento
da família no processo terapêutico, bem como de sua resistência em compreender
que alguns de seus problemas podem ser fatores determinantes de risco para o
consumo de SPA do membro doente. Dessa maneira, é necessário oferecer
informações para a família, com melhor explicação sobre a situação e o tratamento
atual do alcoolista, bem como de dependentes de outras substâncias. A interação
da família no tratamento do dependente é um fator que merece investimento, seja
em relação ao atendimento individualizado, principalmente com entes diretamente
afetados pelo problema, seja através de intervenções no âmbito comunitário para a
integração social da família. O envolvimento de famílias que compartilham do
mesmo problema torna-se de grande relevância para a terapêutica, por criar um
espaço de trocas de vivências, angústias e informações para a compreensão da
dependência química. Estudos demonstraram a relação entre tempo de
permanência de um paciente em tratamento com maior número de sessões
frequentadas pelo familiar. As mulheres, especialmente as mães, foram a presença
mais constante e em maioria, o que confirma que há uma questão de gênero no
aspecto do cuidar, ou seja, como em outras doenças, as mulheres são as mais
envolvidas com o dependente e o tratamento. O engajamento de um familiar pode
ser facilitado quando esse estiver motivado para ajudar o membro dependente e for
bem acolhido por toda a equipe de saúde, tornando-se importante a não
identificação de culpados e evitando-se atitudes de pré-julgamento. Os profissionais
de saúde precisam investir na informação aos familiares inclusive psicoeducativa),
proporcionar condições de acesso das famílias ao serviço através de suporte
financeiro ou vale transporte e a certeza de que o seu membro dependente químico
será bem acolhido nos serviços de saúde, além de ofertar apoio familiar, através de
outros recursos. Há uma forte tendência em considerar que todo o empenho da
família está relacionado à construção ou à reconstrução de relações.
Necessidade de lidar com sentimentos emergentes durante a terapêutica
A família precisa de um espaço em que possa compartilhar informações,
receios, segredos, cuidados específicos e preventivos da recaída, habilidades
pessoais do dependente químico na mudança de hábitos e rotinas. Para o cuidador
do dependente químico, tal tarefa é desgastante, humilhante, geradora de
frustrações, e desencadeia dificuldades emocionais, as quais podem surgir no
contexto geral de vida do dependente químico. A família também vivenciam
sofrimentos nos momentos de recaída, pois sente-se limitada diante das
dificuldades do outro, bem como quando o alcoolista volta ao estágio de
pré-contemplação (primeira fase de estágio de motivação para a mudança, em que
o indivíduo nega que a droga é o fator de risco ou causador de sua dependência).
Diante de tal fato, a família apresenta sentimentos de descrença em relação
ao tratamento e à manutenção da abstinência pelo dependente químico, assim
como é difícil para ele entender que está doente e necessita manter-se abstinente.
Estudo com familiares de um CAPS-ad apontou que a “convivência entre familiares
e usuários é representada por um movimento de ir e vir, um continuum de
sofrimento, angústia, impotência e violência, no contexto do lar e/ou na rua”.
CONCLUSÃO
A partir da análise dos dados e considerando-se os objetivos propostos neste
estudo, observou-se uma maior publicação sobre a temática da participação da
família no tratamento do dependente químico, demonstrando ser essa uma
preocupação nacional. Porém, considera-se esse aumento ainda insuficiente para o
aprofundamento das consequências do uso abusivo e dependência química no
âmbito familiar e a identificação das dificuldades da família no tratamento do
dependente. A análise das publicações possibilitou apontar que as consequências
da dependência química no âmbito familiar permeiam os problemas econômicos,
bem como os legais, relacionados a agressões físicas, roubos e divórcios. Os
sentimentos que mais emergiram dos familiares foram: o medo, relacionado à
violência, principalmente a doméstica, que envolve agressões físicas e psicológicas,
como também, raiva, culpa e vergonha pela existência de um membro dependente.
Muitos desses sentimentos foram provenientes da relação de codependência.
Além disso, devido aos cuidados exigidos pelo dependente, foi identificado o
desgaste físico e emocional, o qual pode gerar um quadro de adoecimento da
família. Outras consequências envolveram adoecimento psíquico e físico, tais como:
cefaleias, alterações da pressão arterial e dos valores glicêmicos, distúrbios do
sono, ansiedade, nervosismo, depressão, pensamentos suicidas, entre outros. A
dependência química causa um impacto importante nas relações afetivas
interpessoais e sociais, identificadas nas separações, afastamentos e isolamento
entre o membro dependente e seus familiares e vice-versa. Apesar da identificação
dessas consequências na família, a falta de seu engajamento no processo
terapêutico do dependente químico constitui-se numa dificuldade, pois se torna
difícil a compreensão de certos problemas familiares que podem ser determinantes
de risco para o consumo de substâncias psicoativas. O modelo explicativo para o
uso abusivo de drogas predominante ainda é o moral, em que a família acredita que
os dependentes são responsáveis pelo surgimento da problemática do consumo da
droga, bem como pela sua solução, e que a dependência resulta da falha moral
deles busca de mudança de comportamento. No referente ao acesso à rede de
atendimento à saúde, ainda há uma precariedade de recursos públicos, além do
desconhecimento dos familiares sobre os apoios sociais, aqui considerados o AA,
AL-Amon, NA, Nar-Anon, e Amor Exigente. No delineamento das consequências da
dependência química na família e das dificuldades vivenciadas durante o processo
terapêutico do seu membro doente, compreendeu-se a importância do papel do
profissional de saúde, enquanto potencializador do engajamento da família ou de
seu membro motivado. Além disso, é importante que esse profissional busque
capacitação na área de acompanhamento familiar e, principalmente, reveja e amplie
seus conceitos para instrumentalizar a família no cuidado e tratamento da
dependência química.
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Dependência Química no campo familiar: dificuldades e consequências