Andréa Beatriz Veiga Coelho Aluna do curso de formação de terapeutas da clínica Jorge Jaber
Resumo
Através de uma consulta bibliográfica, esse artigo tem o objetivo de discorrer sobre a adicção sexual, um assunto que vem na atualidade ganhando notoriedade. Diversos autores (ex.: Irvine,2005; Russo, 2009…) estão promovendo estudos nesse campo e suas formas de tratamento, onde incluísse a medicalização e os grupos de apoio. A patologização do sexo e dos relacionamentos amorosos abusivos vem ocupando um lugar importante nos grupos anônimos, onde seus frequentadores com compulsões de toda ordem por sexo, amor e\ou relacionamentos são considerados adictos sexuais.
Palavra-chave: Sexo, Amor, Relacionamentos Abusivos, Adicção
Introdução
Atualmente tem-se constantemente abordado o tema da adicção sexual e de relacionamentos afetivo-sexuais abusivos, bem como de práticas ¨sexualmente perigosas¨. Em todo o mundo, a mídia vem ajudando a propagar a causa e seus métodos de tratamento. Onde inclui-se a ajuda de grupos anônimos, nesse caso o DASA ( Departamento de Amor e Sexo Anônimos ), fundado no Brasil em1993. Seus frequentadores são tidos como pessoas que tem graves problemas afetivos e são viciados em sexo. E como qualquer outro vício, acaba trazendo dificuldades na sua vida cotidiana, como no emprego, nos relacionamentos familiares e amorosos e com outras pessoas. E também tem a dependência amorosa, que segundo Schaeffer, ¨é um estado instável caracterizado pela compulsão de negar tudo o que a pessoa é, ou foi, a favor de uma experiência nova e extática¨.
Desenvolvimento
Alguns autores que se dedicam ao estudo da dependência amorosa, descobriram 3 elementos contidos nesse fenômeno.
_ Comportamento continuado apesar das adversas consequências físicas ou psicológicas;
_ Obsessão ou preocupação;
_Sensação de que a qualquer momento as coisas podem fugir ao controle.
Já a tolerância e os sintomas de privação, podem ou não intervir na dependência.
A dependência reúne 3 sensações constantes: Excitação, Saciedade, Fantasia
Assim, a dependência amorosa é o desenvolvimento maligno da nossa tendência para a excitação, para a fantasia e para a saciedade. Quanto mais baixa for a autoestima, e maior for a dificuldade de amar, maior é a vulnerabilidade para se tornar um dependente. Essa dependência pode ficar muito doentia, até chegar à violência. No que diz respeito ao amor físico (caracterizado pela atração sexual), a dependência surge quando o sexo se torna a única experiência onde a excitação, a saciedade e a fantasia estão satisfeitos.
Algumas situações que são características de quem vive uma relação de dependência:
_ Sentem-se muitas vezes consumidas (se consomem psiquicamente, caso o desejo de ver o objeto amado não se concretize),
_Dificuldade em definir as fronteiras do ego (dominança do ego, pensamento e sentimento),
_Podem apresentar comportamentos sadomasoquistas (um gosta de ferir\magoar\desiludir e o outro gosta de ser ferido\magoado\desiludido, isso tudo pode ser inconsciente),
_Tem dificuldade em se liberar (tamanha é a dependência),
_Temem a mudança e\ou desconhecido (onde existe uma aparente segurança),
_Evoluem pouco a nível individual,
_A dependência amorosa é condicional e nada altruísta,
_Tentam alterar a personalidade do parceiro,
_Recusar o compromisso ou abusam dele …
Também existem aqueles comportamentos ligados a práticas sexuais, em que não se percebe no sujeito um esforço para assumir uma relação amorosa séria\estável. Assim sendo, são considerados fontes de constrangimentos e\ou sofrimentos e são identificados como sexo anônimo, dentre outras noções que podem representar idéias de promiscuidades, e comportamentos inadequados.
O conceito de adicção sexual surgiu pela 1ª vez nos A.A. (em Boston, 1977), onde alguns membros descobriram sua condição em relação às suas inabilidades sexuais; com suas masturbações frequentes, sexo impessoal, dependência emocional e relações fora do casamento. Foi a percepção de uma sexualidade fora de controle. Assim, esses membros se motivaram a procurar pessoas com problemas similares para compartilhar seus sofrimentos e se ajudarem a se manterem sóbrios.
O conhecimento profissional sobre adicção sexual estava pautado na teoria da adicção do início da década de 70, onde qualquer excesso em termos de comportamento pode se transformar em dependência. Essa teoria teve outras áreas de representação, como o workaholic (trabalhador compulsivo), shopaholic (comprador compulsivo) e compulsive gambler (jogador compulsivo), só para citar alguns.
Alguns tratamentos com propostas intervencionistas para a adicção sexual definiu-a como: ¨atração por comportamentos sexuais compulsivos obsessivos os quais causam muito estresse ao adicto individualmente e para sua família¨. Também foi incluído ideias de ¨perda de controle¨ e ¨incapacidade de manejar o comportamento ¨.
Onde se incluem: Masturbação compulsiva, heterossexualidade compulsiva, relações homossexuais, pornografia, prostituição, exibicionismo, voyeurismo, telefonemas indecentes, abuso sexual infantil (pedofilia), incesto, estupro e violência.
Também existe a anorexia social, emocional e sexual. Ela é considerada o outro lado da moeda da adicção. É definida como a evitação compulsiva de comida. Na área de amor e sexo, a anorexia tem uma definição similar: é a evitação compulsiva de dar e receber nutrição social, sexual e emocional. Contudo também é uma forma de dependência, consiste em não fazer algo, não se entregar, e não mesmo. Seus sintomas são obscuros, não ativos, os anoréxicos não agem para fora, eles agem para dentro, se recusando a agir. A anorexia sexual está ligada a falta de desejo em manter e\ou buscar por relações sexuais e emocionais, a um suposto medo de intimidade.
O programa de 12 passos e 12 tradições, fora adaptado para outros grupos que não necessariamente estão ligados ao alcoolismo, com a
permissão do chamado escritório de serviços mundial de A.A. (Mota,2004).
Assim, a partir do A.A. outras denominações começaram a surgir, e nesse caso foi o DASA.
DASA = Irmandade que deve ser frequentada por homens e mulheres que desejam evitar as consequências destrutivas de um comportamento adicto relacionado à dependência por sexo, amor, relacionamentos românticos, emocionais e anorexia sexual, social e emocional. Para os dependentes de amor e sexo anônimos, há um denominador comum em seus padrões compulsivos e obsessivos que torna qualquer diferença pessoal de sexo, gênero ou orientação sexual irrelevante.
Atualmente no Brasil, funcionam aproximadamente 21 tipos de grupos de ajuda mútua anônimos, onde o 1º foi o A.A. em 1947, a partir da década de 90, um leque variado passou a existir, dentre estes, os identificados com noções de adicção relacionada ao sexo e\ou amor e de descontrole emocional.
Também não podemos deixar de mencionar os grupos de ajuda aos codependentes .
CODA = Uma irmandade de homens e mulheres, que tem como finalidade desenvolver relacionamentos saudáveis. Foi fundado no Brasil por iniciativa de pessoas participantes de outras duas irmandades (Al-Anon e Nar-Anon).
Conclusão
Segundo Russo (2004), revelou-se um aumento significativo nos números destas desordens, e o modo como elas transformaram em novos tipos de desvios que fazem parte do repertório de diagnósticos.
Mesmo no campo especialista, existem desacordos sobre como considerar uma adicção sexual\amorosa e a codependência, no sentido médico e psiquiátrico.
Porém, depois de reconhecer um sujeito como adicto sexual, como mencionado antes, existe a real necessidade de um tratamento similar aos outros vícios. Com a frequência nos grupos de auto ajuda (a utilização dos 12 passos), e os cuidados de uma equipe multidisciplinar.
Bibliografia
Desejos Regulados: grupos de ajuda mútua, éticas afetivo-sexuais e produção de saberes CBC Ferreira – 2012 – repositório.unicamp.br
A emergência da adicção sexual, suas apropriações e as relações com a produção de campos profissionais CBC Ferreira – Sexualidad, Salud y Sociedad (Rio de …, 2013) – repositório.unicamp.br
Quando amar é um problema: os significados de amar demais a partir do MADA JBB Silva – 2008 – lume.ufrgs.br
Discursos sobre a afetividade feminina: falando e aprendendo a amar M da Luz Olegário, M de Albuquerque Aquino – fg 2013.wwc2017 – eventos.dype.com…
A patologia do amor – da paixão à psicopatologia TL Lino – o portal dos psicólogos, 2009 – psicologia.pt