Nome: Bianca de França Ribeiro

 

INTRODUÇÃO

Apesar de muitas vezes parecer inofensivo boa parte das pessoas não considerar o álcool como uma droga psicotrópica, mas sabemos que ele é um psicotrópico, pois atua no sistema nervoso central (SNC), causando mudança no comportamento de quem o consome, além de ter um grande potencial para o desenvolvimento de dependência.

O álcool é uma das poucas drogas psicotrópicas que tem seu consumo liberado e regulamentado no Brasil, e é em muitas vezes incentivado pela sociedade e pela rede midiática. Esse é um dos principais motivos pelo qual é encarado de forma diferenciada, quando comparado com as demais drogas, reduzindo a significação da droga ao objeto de consumo, apenas; como diz Birman, “[…] as drogas se transformaram numa indústria poderosa e num comércio afluente. Existem, assim, interesses imensos e incalculáveis inscritos nos circuitos da produção, circulação, distribuição e consumo de drogas” (1998, p. 235)

O consumo de bebidas alcoólicas no contexto sociocultural, apesar de sua grande aceitação social por diversos motivos, quando excessivo passa a ser um problema para a sociedade. Além dos inúmeros acidentes de transito e da violência associada a episódios de embriaguez, o consumo de álcool a longo prazo, dependendo da dose, da frequência e das circunstancias pode provocar um quadro de dependência conhecido como alcoolismo hoje classificado como F-10 pelo CID10 (classificação internacional de doenças).

Como afirma o autor e psiquiatra Dr. Jorge Jaber “[…]O alcoolismo deve ser considerado em primeiro lugar quando se fala em dependência química. Trata-se de problema grandemente difundido na sociedade, devendo se desfazer, logo de início, a noção prevalecente de que o álcool é um mal menor.” (2002)

 

METODOLOGIA

Pesquisa bibliográfica sobre o alcoolismo como dependência química e análise de fatores atuais através de artigos cientificos.

 

O ÁLCOOL E SEUS EFEITOS COLATERAIS

O sujeito que é dependente de álcool pode vir a desenvolver vários tipos de co-morbidades. Porem as mais frequentes são as doenças que prejudicam o funcionamento do fígado, órgão mais afetado pelo consumo efetivo de álcool, sendo assim, podendo acarretar em doenças como Hepatite, cirrose e esteatose hepática. São comuns também complicações digestivas, como gastrite, síndrome de má absorção e pancreatite. O sistema cardiovascular também pode ficar comprometido, levando ao aparecimento de doenças como a hipertensão e problemas no coração. Muitos casos também aparecem as polineurites alcoólicas, caracterizadas por dor, formigamento e câimbras nos membros inferiores.

A ingestão excessiva de álcool vem seguida por vários efeitos que aparecem como estágios diferenciados ao longo do consumo; a fase estimulante e a fase depressora.

No primeiro estágio, os primeiros momentos após a ingestão podem ser acompanhados por uma sensação de euforia, desinibição e loquacidade. Já na segunda etapa o sujeito começa a experimentar os efeitos depressores, dificuldade em articular a fala, falta de coordenação motora, descontrole e sono. E quando o consumo é exacerbado, o efeito depressor é ainda mais agudo, podendo levar ao estágio de coma.

A intensidade dos efeitos do álcool no organismo varia de acordo com características pessoais de cada indivíduo, pessoas que consomem bebida alcoólica com mais frequência poderão sentir menos efeito do que uma pessoa que não está acostumada a beber. Outro fator pode ser a estrutura física que também tende a ser levado em consideração. Como observado também que a intensidade dos efeitos dessa substância no organismo das mulheres é mais exacerbada em comparação aos homens dados de um estudo feito pelo National Institute on Alcohol Abuse and Alcoholism (NIAAA).

Outros efeitos desagradáveis que o consumo excessivo de álcool acarreta são, dor de cabeça, mal-estar e enrubescimento da face, podendo ser mais intensos em pessoas cujo organismo tem mais dificuldade de metabolizar o álcool.

 

O ALCOOLISMO

É pouco provável uma definição absoluta sobre os fatores que podem levar ao alcoolismo, pois estes são diversos e variam de acordo com cada indivíduo, podendo ele ser por fatores biológicos, psicológicos e sociocultural. A dependência de álcool é frequente na população adulta brasileira e atingi cerca de 10%, segundo dados do I Levantamento Domiciliar Sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil – 2001

Acontecendo na grande maioria dos casos na transição do beber “socialmente” ao compulsivamente, tendo uma interface que levam alguns anos.

Alguns dos alertas do consumo problemático são, resistência a bebida, quando o sujeito sente a necessidade de consumir cada vez mais bebidas para alcançar o nível “desejado de satisfação” sendo esse feito de maneira inconsciente, o álcool passa a ocupar uma importância muito grande na vida do sujeito. Perda de interesse por atividades que não envolvam o consumo de bebida alcoólicas.

A Síndrome de abstinência também começa a aparecer quando o sujeito fica algumas horas sem beber, podendo experimentar sintomas desagradáveis, logo há um aumento da ingestão de bêbedas alcoólicas para o alivio destes sintomas.

Essa síndrome conhecida com síndrome de abstinência alcoólica é um quadro que surge pela redução ou interrupção brusca do consumo de álcool após um período crônico, o aparecimento dos sintomas tem início 6-8 horas após a parada da ingestão de álcool, sendo caracterizada por tremor nas mãos, distúrbios gastrointestinais, distúrbio de sono, estado de inquietação e em casos mais severos desorientação e delirium tremens.

 

CONSUMO DE ÁLCOOL NA GESTAÇÃO

As mulheres que abusam de álcool durante a gestação podem gerar consequências para o recém-nascido, aumentando a chance de prejuízos para o feto com a quantidade de consumo, sendo de suma importância a recomendação para todas as gestantes que evitem o consumo de bebidas alcoólicas durante o período de gestação e amamentação, pois no segundo caso o álcool pode passar para o bebê através do leite materno. Estudos comprovam que o uso do álcool na gestação provoca no feto a SAF (Síndrome de Álcoolismo Fetal), que já aparece após o parto, provocando no recém-nascido crise de abstinência, que se manifesta através de irritabilidade, inquietude e choro.

TRATAMENTO

Segundo o psiquiatra Dr. Jorge Jaber existem várias características psicológicas importantes que definem o alcoolismo e também ajudam a compreender a complexidade da doença. Entre os mecanismos de defesa que frequentemente impedem o paciente de aderir voluntariamente ao tratamento, destacam-se a negação (da própria doença, de seus efeitos lesivos sobre o organismo ou das perdas pessoais resultantes); a projeção (ex. Da baixa autoestima ao meio social e familiar); a racionalização e a arrogância. Ao longo do tratamento, mecanismos progressivamente mais sofisticados, tais como intelectualização, euforia reativa (reacional), repressão e sublimação, vem misturar-se ou substituir essas formas mais primitivas de defesa.

Muitos são os tipos de tratamento atualmente para os alcoólicos, entre eles os grupos de mútua-ajuda que são constituídos por dependentes em recuperação e não comportam a presença de um terapeuta propriamente dito. Eles visam o trabalho de aceitação da impotência perante a substância. A ajuda mútua e o desenvolvimento da espiritualidade por meio de 12 passos.

Outra opção é o hospital dia é um excelente equipamento de tratamento para dependentes químicos, porque possibilita a melhora dos sintomas com a vantagem de oferecer maiores perspectivas de reinserção social e organização de vida, mantendo o paciente ligado a família, no contexto de inclusão social.

A rede pública atualmente oferece os CAPS AD (centro de atenção psicossocial para dependentes químicos).

Por sua vez a internação é reservada para uma porcentagem muito pequena de casos. Ela deve tratar os sintomas agudos e vincular o indivíduo a uma proposta de tratamento posterior, como por exemplo, hospital dia e grupos de mútua ajuda. Se estes critérios não são observados a internação pode ser totalmente ineficaz.

Importante ressaltar a importância de toda uma equipe multidisciplinar que pode auxiliar a melhora integral do sujeito, com o apoio de médicos, psicólogos nutricionistas, profissionais da educação física e fisioterapeutas.

 

A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA NO TRATAMENTO

A família tem papel fundamental para o sucesso no tratamento do alcoólico, pois deve atuar com entendimento, sensibilidade e atitude. Entendimento porque é uma doença grave; sensibilidade porque adotar uma postura de acusação prejudica o diálogo e não ajuda o indivíduo; atitude porque deve- se buscar, o mais rapidamente possível, aconselhamento e tratamento com equipe especializada.  Os grupos de mútua ajuda (ex. Alcoólicos Anônimos) oferece tratamento também para familiares de alcoólicos, o AL-ANON para os adultos e AL-TEEN para os adolescentes.

 

CONCLUSÃO

Por trata-se de uma droga licita, de alto valor industrial e comercial para a economia do pais, e de consumo muito incentivado, tradicionalmente ligado a todos os eventos sociais, o álcool é sem dúvida uma droga muito perigosa principalmente pela falta de informação sobre o risco de dependência.

O uso abusivo que geralmente começa na juventude, ligado a fatores psíquicos, socioculturais, pode levar alguns indivíduos a desenvolverem o alcoolismo como doença, atualmente catalogada na classificação internacional de doença CID10 como F-10.

O alcoolista nega a sua dependência, motivo que torna difícil aceitar o tratamento, sendo assim o alcoolista é responsável por acidentes de transito, tragédias familiares, doenças mentais e físicas, pondo em risco o alcoolista e as pessoas ao seu redor.

O consumo de álcool por mulheres que vem aumentando muito como estudos epidemiológicos sugerem haver novas tendências no padrão de uso de álcool entre as mulheres, com possível aumento de uso entre as mulheres de países da América Latina e nos EUA.  É sabido também que a intensidade dos efeitos dessa substância no organismo das mulheres é mais acentuada em comparação aos homens. Isso ocorre em especial devido a menor quantidade de água presente no organismo das mulheres, o que faz com que o álcool seja distribuído e metabolizado mais rapidamente, e devido também a menor presença entre as mulheres de enzimas hepáticas que metabolizam essa substância. Assim, o impacto causado pelas bebidas alcoólicas no organismo das mulheres é maior do que no organismo masculino mediante a ingestão de quantidades iguais de álcool (NIAAA, 1999).

Esse fato se torna ainda mais preocupante durante a gestação, tendo como consequência o desenvolvimento Síndrome Fetal Alcoólica (SFA), que é caracterizada por anomalias faciais distintas, déficit intelectual, problemas cognitivos e problemas comportamentais como: hiperatividade, déficit de atenção entre outros.

Atualmente existem vários métodos de tratamento desde internações para desintoxicação e acompanhamento psiquiátrico e psicológico, bem como grupos de ajuda mutua, que oferecem a possibilidade de uma vez controlada a compulsão pela bebida, a oportunidade de refazer a vida que o alcoolismo transformou em caos.

 

 

 

 

 

 

REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS:

 

ALCOOLISMO – Jorge A. Jaber Filho/Charles André – Editora Revinter, 2002

ALMEIDA, A.R.B de. Toxicomanias : uma abordagem psicanalítica / Alba Riva Brito de Almeida. – Salvador : EDUFBA : CETAD/UFBA, 2010. 138 p. – (Drogas : Clínica e Cultura)

BIRMAN, Joel. Mal-estar na atualidade: a psicanálise e as novas formas de subjetivação. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1998.

CARLINI, E. A; GALDURÓZ, J.C.F; NOTO, A.R; NAPPO, S.A. Levantamento Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil: estudo envolvendo as 107 maiores cidades do país – 2001 – Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID) – Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) – 2001

NAPPO,S & CARLINI, E.A. – “Preliminary findngs: consumptin of benzodiazepines in Brazil during the years 1988 and 1989”. Drug and alcohol dependence 33:11-17, 1993

NAPPO, S; CARLINI,E.A; GALGUROZ J.C.F; NOTO, A.R. – “Drogas Psicotrópicas – o que são e como agem”. Revista IMESC n° 3, 2001. pp.9-35

TAVARES L.A.; ALMEIDA A. R. B. de; FILHO A.N. – Drogas: tempos, lugares e olhares sobre seu consumo (Orgs.) … [et al.]. – Salvador: EDUFBA; CETAD/UFBA, 2004. 222 p.: il.

National Institute on Alcohol Abuse and Alcoholism (NIAAA). Are Women More Vulnerable to Alcohol’s Effects?Alcohol Alert No 46, 1999

CISA – Centro de Informações sobre Saúde e Álcool – http://www.cisa.org.br/artigo/253/alcool-mulheres.php
 

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