SIDNEI NOGUEIRA DE SOUZA JUNIOR

 

Rio de Janeiro – RJ

2018

 

 

Resumo:

 

O presente trabalho tem por objetivo enfatizar os efeitos, tanto psicológicos como fisiológicos, que a atividade física tem no processo de tratamento do dependente químico.

 

Esse artigo demonstra de que modo os exercícios físicos se tornaram aliados de pessoas que sofrem de doenças crônicas como hipertensão, cardiopatia, diabetes, e, principalmente, de dependência química. De acordo com médicos especialistas, em alguns casos, a atividade física pode fazer com que o paciente diminua a quantidade de remédios ingeridos ou até mesmo deixe de tomá-los, o que funciona perfeitamente no tratamento com adictos, visto que um dos objetivos principais é fazer com que a sua necessidade compulsiva pelas drogas seja superada, de alguma forma, por atividades saudáveis como a atividade física, dentre outras. Por isso, a clínica Jorge Jaber insere também em seu modelo de tratamento exercícios físicos devidamente acompanhados por um profissional da área treinado exatamente para acompanhar esse tipo de tratamento e, dependendo do quadro de cada paciente.

 

Além disso, durante as atividades físicas os pacientes, também tem a oportunidade também de vivenciar os princípios espirituais do programa de 12 passos (modelo Minesota): honestidade, esperança, fé, coragem, integridade, boa vontade, humildade, autodisciplina, amor ao próximo, perseverança, espiritualidade e serviço.

 

Hoje, portanto, o objetivo das atividades físicas no tratamento da dependência química,

 

  • o de capacitar o paciente a superar os impulsos de comportamentos adictos que o levariam à recaída ao uso de substâncias psicoativas.

 

Palavras-chave: Fobia social; Terapia cognitivo-comportamental; Timidez; Ansiedade; Transtornos relacionados ao uso de substâncias.

 

Introdução

 

O uso de substâncias psicoativas pode desencadear em diversos outros tipos de alterações psiquiátricas como a ansiedade e depressão, além de doenças cardiovasculares, pulmonares, gastrointestinais, miálgicas, renais e etc.

 

As doenças cardíacas, por exemplo, podem apresentar melhoras significativas quando há a prática de exercícios. “No caso da hipertensão, durante o treinamento físico os vasos se dilatam para melhorar a captação de oxigênio fazendo a tensão no sistema diminuir e a pressão cair”, explica a médica e professora da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da Universidade de São Paulo (USP), Taís Tinucci.

 

Portadores da diabetes tipo 2 podem diminuir as doses de insulina até a metade, ou até mesmo deixar de tomar esse hormônio em alguns casos, devido ao efeito positivo que atividade física exerce sobre a sensibilidade desse hormônio. Isso ocorre porque essa doença está normalmente associada com um estado de inflamação subclínica no organismo que prejudica a sinalização que a insulina passa a célula para que a glicose seja captada.

 

O colesterol pode diminuir quando se prática exercícios. “As atividades aeróbicas geram o aumento da quantidade do colesterol bom, HDL, e a diminuição do ruim, LDL”, conta Taís

 

 

Tinucci.

 

Pacientes com doenças renais crônicas também podem apresentar melhora no quadro quando passam a se exercitar. Diversas pesquisas á comprovaram que as atividades físicas podem diminuir quadros de depressão e de demência e que o efeito antiinflamatório das atividades contribui na prevenção de alguns tipos de câncer.

 

Por fim, no tratamento da dependência química, as atividades físicas específicas também ajudam a resolver a problemática do ganho de peso ponderal do paciente, que pode ser atribuído à compulsão alimentar e pelo uso de antipsicóticos, antidepressivos e estabilizadores de humor. Por isso, a Clínica orge Jaber desenvolve um programa específico que consiste em: mudanças de hábitos alimentares; controle semanal de peso; cálculo de percentual de massa gorda e magra; palestras três vezes por semana conduzida pelo médico clínico, nutricionista e fisioterapeuta; utilizando também a terapia cognitivo comportamental e, considerando as limitações impostas pelas restrições clínicas e físicas.

 

 

Desenvolvimento

 

O presente trabalho tem por objetivo enfatizar através da revisão de literatura os efeitos, tanto psicológicos como fisiológicos, que a atividade física tem no processo de tratamento do dependente químico.

 

Atividade física no processo de tratamento

 

  • extremamente difícil quantificar, exatamente, a dimensão dos prejuízos psicológicos e fisiológicos decorrentes do uso crônico de uma substância psicoativa, entretanto, levando em consideração o tipo e o tempo de uso, de acordo com a literatura, é possível prever as alterações que elas podem causar ao organismo humano.

 

Tem-se conhecimento de que praticar atividade física ajuda na melhora da qualidade de vida do indivíduo, pois além de proporcionar ganhos fisiológicos também contribui para o seu bem estar mental.

 

A atividade física faz com que o organismo adapte-se a um patamar maior de exigência e de capacidade de resposta. Se observarmos as pessoas em tratamento para dependência química, existe um processo contínuo desde a fase inicial, que se caracteriza pela limitação, pela perda progressiva da capacidade de adaptar-se, de responder a uma sobrecarga física ou mental, seja do cotidiano, seja uma sobrecarga artificial ou incomum, como sua exposição a doenças provenientes do uso de substâncias psicoativas. Ela varia de intensidade e duração respeitando a individualidade biológica de cada indivíduo, causando-lhes um estado de relaxamento tanto psíquico quanto somático.

 

 

Nessa linha, o corpo humano se adapta ao estresse provocado pelo exercício através de um rápido ajuste metabólico, que é coordenado pelo sistema nervoso e endócrino necessários para a manutenção da homeostase nos diferentes graus de exigência metabólica da atividade.

 

A prática de atividade física está associada á liberação de substâncias, uma delas é a endorfina, ela age no cérebro proporcionando-lhe estado de prazer e relaxamento.

 

Diante deste fato, tanto o uso de drogas como a prática de diferentes atividades produzem sensações de prazer, representada pela liberação de adrenalina. A adrenalina

 

  • como a droga, ela vicia e isso faz com que o indivíduo busque cada vez mais sentir essa sensação, repetindo assim as atividades que suprem tal necessidade. Logo após a sensação de adrenalina entram em cena as endorfinas, que trazem uma sensação de relaxamento e bem-estar.

 

Ao usar uma substância psicoativa, podem ocorrer alterações tanto agudas, ou seja, logo após o uso, como crônicas, nesse caso ocorrem durante um tempo da utilização da droga.

 

Os danos fisiológicos causados ao organismo são inúmeros e seu grau de intensidade varia de acordo com a substância usada. Doenças respiratórias tais como rinite, sinusite, asma e síndrome pulmonar aguda acompanhada de outras alterações como aumento da freqüência cardíaca, da pressão arterial, tosse sanguinolenta e transtornos dos movimentos são algumas das alterações sofridas pelo uso da droga.

 

Visto que o consumo de substâncias psicoativas traz consigo enormes alterações fisiológicas ao organismo é de suma importância que ao iniciar um programa de atividades o indivíduo passe por uma bateria de questionários, a fim de estruturar melhor de acordo com a necessidade e limitações apresentadas por cada um.

 

Os estudos nessa área ainda são carentes de informações sobre a verdadeira relação entre a dependência e a atividade física. Levando em consideração os benefícios que a mesma proporciona, a atividade não deve ser realizada de maneira exaustiva, e sim de forma recreativa, pois o objetivo é fazer com que o individuo no mínimo que seja sua intensidade, pratique algum tipo de atividade, a fim de proporcionar-lhe mais do que ganhos fisiológicos, como manutenção da PA e da FC, melhora da capacidade funcional respiratória, da vascularização e diminuição da fadiga central, fazer com que o mesmo tenha momentos de prazer e lazer.

 

 

Relacionando à prática de atividade ao tratamento de dependentes químicos MIALICK, FRACASSO E SAHDM (2010) realizaram um estudo com o intuito de analisar os efeitos da atividade fazendo parte de um programa de tratamento para dependentes químicos entre 18 e 35 anos. A amostra do trabalho realizado foram 30 jovens do sexo masculino que estavam em tratamento em uma comunidade terapêutica no interior de São Paulo – SP.

 

No estudo, 30% dos indivíduos praticavam caminhadas, jogos recreativos e alongamentos, 17% fizeram apenas alongamentos, outros 17% participaram de caminhadas e alongamentos, 13% optaram pelos jogos, yoga e alongamentos, ainda nessa mesma porcentagem teve o grupo que optou por realizar todas as atividades propostas e o grupo mais velho, que representou 10% da amostra, optou por caminhadas, alongamentos e yoga.

 

Um fator importante que pôde ser observado nesse estudo foi que ao iniciar o programa apenas 7% se mostravam altamente motivados e no término do programa 30% estavam motivados para continuar a prática das atividades. Ao final do estudo pode-se concluir que a atividade física auxilia de forma contundente no tratamento de dependentes, as autoras afirmam que sem as substâncias químicas no organismo, o dependente precisa suprir a falta das mesmas, nada melhor do que a pratica de atividade física, já que esta gera uma sensação de prazer, bem-estar físico e mental e ainda ajuda na manutenção sobriedade dos usuários.

 

Evidências apontam para uma relação positiva da atividade física com a qualidade de vida e vitalidade. Além disso, a atividade física parece estar associada com melhoras no bem estar, auto-estima, auto-eficácia, encorajando e gerando pensamentos, sentimentos positivos que servem para contrariar o humor negativo. No entanto, o conhecimento sobre a atividade física e humor é ainda limitado, não sendo possível definir a relação de causa e efeito ou descrever em detalhes os mecanismos psicológicos e fisiológicos subjacentes a esta associação.

 

Segundo um estudo realizado por SALGADO et al (2009) com pacientes fumantes, mostrou que aqueles que eram instruídos a se absterem do cigarro por um dia tiveram rápidas reduções na vontade urgente de fumar quando faziam caminhadas “de baixa intensidade” ou seja, eles mesmo estipulavam seu próprio ritmo, por pelo menos 15 minutos. Esse estudo mostrou que caminhadas não apenas reduziram a vontade de fumar como também diminuíram os sintomas de abstinência, além de aumentarem o tempo em que o paciente deixava de fumar.

 

 

Os autores afirmam que o exercício tem sido recomendado como suporte para parar de fumar, principalmente devido ao ganho de peso e o medo de ganhar peso após a cessação do uso.

 

Infelizmente, os estudos que procuraram avaliar os efeitos do exercício com o propósito de ajudar na recuperação mostraram efeitos diversos no parar de fumar, além de que também apresentou um papel importante no enfrentamento de sintomas decorrentes da retirada do tabaco, como o aparecimento da depressão, ansiedade, irritabilidade e déficit de atenção.

 

Os resultados dos estudos realizados por SALGADO et al (2009) mostraram uma diminuição significativa no desejo intenso de fumar durante ou até mesmo após a atividade física.

 

TAYLOR, USSHER E FAULKNER (2006) também realizaram um estudo com tabagistas e puderam concluir que andar de bicicleta com um índice de frequência cardíaca de reserva de 40 a 60% durante 5 minutos reduz o desejo de fumar comparado com andar de bicicleta com uma frequência de 10 a 20%. Comparando indivíduos em condição passiva e em atividade física mostraram diminuição em pelo menos dois dos sintomas de abstinência durante a após a atividade. Os autores ressaltam que os efeitos do exercício físico são perceptíveis após períodos breves ou mais longos de abstinência. Em relação ao estado de humor concluíram que há uma redução importante na ansiedade e melhora do humor no período de abstinência após a prática de atividades físicas e também é capaz de diminuir afetos negativos (tristeza, raiva, angústia), mas não ocorre o mesmo com os afetos positivos.

 

MIALICK ET AL (2010) afirma que a atividade física pode auxiliar de forma contundente no tratamento para a dependência química, pois sem as substâncias psicoativas no organismo, o dependente precisa suprir a falta desta, e nada melhor do que a prática da atividade física que é uma ação que gera sensação de prazer, bem-estar físico e mental, possibilitando ainda ao indivíduo reiniciar um ciclo de amizades saudáveis, tendo sempre em mente a manutenção de sua sobriedade. O sucesso desta mudança poderá ser observado no decorrer do tempo à medida que a pessoa estruturar um novo estilo de vida, integrando a mudança em nível de missão e valores.

 

A atividade física trabalha diretamente no treinamento do autocontrole, onde o individuo irá aprender a se controlar (sem ajuda externa) nas situações extremas e difíceis do tratamento e da vida diária, a fim de evitar reações psicofísicas exageradas e comportamento social inadequado e agressivo (MIALICK, FRACASSO E SAHD, 2010).

 

Considerações Finais

 

A atividade física proporciona inúmeros benefícios à saúde do praticante, além de contribuir para as melhoras fisiológicas, como diminuir frequência cardíaca de repouso, pressão arterial, melhorar a vascularização, diminuir a fadiga central e a capacidade funcional ela também é importante no controle da ansiedade e da depressão.

 

Existem poucas referências na literatura acerca dos benefícios da atividade física na melhora dos prejuízos causados pelo uso de drogas psicotrópicas ao nível do sistema nervoso, mas sabe-se que a sensação de bem estar e relaxamento que a atividade gera influência de maneira positiva no estado psicológico dos usuários.

 

Cabe ressaltar que a participação de equipes de saúde na prevenção do uso de substâncias psicoativas na comunidade, no tratamento da dependência e na orientação a usuários ou familiares vem crescendo a cada dia. Uma vez que esses profissionais têm contato direto com os usuários de drogas que buscam tratamento e informações atualizadas sobre as diferentes substâncias psicoativas. Nesse sentido, é importante conhecer a situação de uso, abuso ou dependência de drogas, bem como o perfil dos usuários que procuram atendimento, para que se possa planejar e executar programas que contemplem as reais necessidades de cada usuário.

 

Referências bibliográficas:

 

ABU-OMAR, K; RUTTEN, A; LEHTINEN, V. Mental health and physical activity in the European Union. Soz Praventivmed. 2004.

 

BRUM, P.C., et al. Adaptações agudas e crônicas do exercicio fisico n sistema cardiovascular. Revista Paulista de Educação Física, 2004.

 

CAILLOIS, R. Los juegos y los hombres: la máscara y el vértigo. México: Fondo de Cultura Económica, 1994.

 

CEBRID (online). Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas. Apresenta trabalhos brasileiros relacionados ao uso de substâncias psicoativas. São Paulo; 2006 (citado 2006 Abr 08). Disponível em: URL: http://www.cebrid.epm.br

 

GIGLIOTTI, A; BESSA, M. A. Síndrome da dependência do álcool: critérios diagnósticos. Revista Brasileira de Psiquiatria, 2004.

 

LARANJEIRA, R. et al. Usuários de substâncias psicoativas: abordagem, diagnóstico e tratamento. 2ed. São Paulo: Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo/ Associação Médica Brasileira, 2003.

 

MIALICK, E.S., FRACASSO. L., SAHD. S.M.P.V. A importância da pratica da atividade física como auxílio no processo de tratamento para a dependência química em pessoas de 18 a 35 anos. São Paulo, 2010.

 

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da CID-10: descrições clínicas e diretrizes diagnósticas. Porto Alegre: Artes Médicas, 1993.

 

PELUSO, M.A; ANDRADE, L.H. Physical activity and mental health: the association between exercise and mood. Clinics, 2005.

 

ROEDER, M.A. Benefícios da atividade física para pessoas com transtornos mentais. Rev Bras. Atividade física e saúde. 1999.

 

SALGADO, J.V. et al. Neuropsychological assessment of impulsive behavior in abstinent alcohol – dependent subjects. Vol.3. Revista Brasileira de Psiquiatria [online], 2009.

 

SANTOS, D.L. Influência do Exercício Físico Intenso de Curta Duração sobre a Memória Recente. Dissertação de Mestrado, Escola Superior de Educação Física, UFRGS, 1994.

 

SHER, L. Role of endogenous opioids in the effects on light on mood and behavior. Med. Hypoth. v.57, n.5, p.609-11, 2001.

 

SERRAT, S. M. Drogas e Álcool: prevenção e tratamento. Campinas: Editora Komedi, 2001.

 

TAYLOR, USSHER, FAULKNER. Atividade física e tabagismo. ABEAD, 2006.

Importância das atividades físicas no tratamento da dependência química