fonte: O Dia

Quando se trata de suicídio, não há tempo a perder. Literalmente: a cada 45 minutos, uma pessoa tira a própria vida no Brasil, o que representa cerca de 12 mil mortes anuais, numa alta de 43% entre 2010 e 2019, na contramão da queda de 36% a nível global. No mesmo período, entre adolescentes, os casos pularam de 606 para 1.022, ou 81% – quase o dobro, portanto, do aumento na população geral. No mundo, a porcentagem de mortes por essa causa a cada ano chega a 1% do total, ou seja, cerca de 700 mil existências interrompidas precocemente, com efeito devastador sobre os que ficam.

Outros dados mostram a urgência de uma reflexão sobre o tema. No Brasil, entre os 15 e 29 anos, o suicídio só é menos fatal do que acidentes de trânsito, tuberculose e violência. Nos Estados Unidos, entre a população adulta, aparece em terceiro lugar na lista de causas externas – ou seja, não geradas por doenças – de mortes, atrás apenas das overdoses por drogas e ocorrências diversas provocadas pelo uso de álcool. Perdas muitas vezes evitáveis, o que só aumenta a dor dos que ficam e reforça a necessidade de aproveitar espaços como esse para transmitir algumas informações.

A prevenção passa pela identificação das potenciais vítimas. O suicídio, evidentemente, ocorre entre homens e mulheres, jovens e idosos, pobres e ricos, enfim, não se restringe a padrões específicos, mas algumas condições podem indicar um risco mais elevado. Antes, porém, de descrevê-las, é bom lembrar que nem toda pessoa com tais características quer realmente se matar. O preconceito sobre o tema é forte, e uma avaliação precipitada pode gerar reações desagradáveis de quem desejamos ajudar. Isto posto, vamos aos, digamos, perfis mais comuns de indivíduos em ideação suicida.

A ocorrência de distúrbios mentais é um ponto que merece cuidado, tanto pelos sintomas das doenças e seu reflexo na vida dos enfermos quanto pela complexidade do tratamento. A depressão, por exemplo, provoca uma tristeza profunda e um sentimento de inutilidade que não raro desembocam no suicídio. O mesmo ocorre nos casos de alucinações e delírios, típicos da esquizofrenia, e nos episódios impulsivos e autodestrutivos que marcam o transtorno de personalidade. Indivíduos nesta condição, portanto, precisam de atenção redobrada de parentes e amigos.

Problemas econômicos e sentimentais também podem ser gatilhos. Assim, pessoas solteiras ou separadas, principalmente sem filhos, desempregadas ou já aposentadas, que passaram por perdas recentes ou diagnosticadas com uma doença terminal se enquadram no grupo de risco. A maior parte dos casos ocorre entre idosos e na faixa entre 15 e 29 anos, e a existência de casos na família, isolamento social e uso abusivo de álcool e outras drogas são, da mesma forma, ameaças ao equilíbrio emocional do ser humano, não raro desembocando em gestos extremos e muitas vezes fatais.

Vale ressaltar que as informações acima são fornecidas por instituições como a OMS e o IBGE – têm, portanto, lastro científico –, mas não devem ser base para conclusões apressadas, muito menos para diagnósticos de leigos. Elas podem, entretanto, servir de alerta para quem convive com pessoas nestas situações ou com estas características, e, somadas a alguns sinais e sintomas – que abordaremos em outro artigo –, muitas vezes são o primeiro passo para a busca por apoio, inclusive em organizações como o Centro de Valorização da Vida, que atende gratuitamente, 24 horas por dia, pelo telefone 188, ou pelo https://cvv.org.br. Vale a pena procurar ajuda.

* Jorge Jaber é psiquiatra pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), membro da Academia Nacional de Medicina
Artigo do Dr. Jorge Jaber em O Dia: Suicídio: não há tempo a perder