fonte: NewMag

Louvada em prosa e verso, a chamada sabedoria popular muitas vezes nos mostra os caminhos mais curtos e as respostas mais simples para algumas questões, mas não raro dissemina e reforça crenças falsas ou distorcidas a respeito de outras, o que pode ter impactos extremamente negativos sobre o bem-estar geral da população. É, por exemplo, o caso do suicídio: como se não bastasse o estigma que o envolve, muitas vezes impedindo a busca por tratamento, ele é cercado por uma série de mitos que acabam criando novos obstáculos ao já difícil trabalho de prevenção a esse gesto extremo.

A desinformação começa sobre o próprio alcance dessa tragédia. Ela não é um fato raro ou isolado, como muitos parecem querer acreditar: para cada caso fatal – de acordo com a Organização Mundial da Saúde, quase 800 mil por ano –, há cerca de 20 tentativas, boa parte delas exigindo atendimento de urgência. O problema tem uma faceta silenciosa: a ideação. Um estudo do psiquiatra Neury Botega mostra que, num grupo de 100 pessoas, 17 já pensaram pelo menos uma vez em suicídio e cinco chegaram a planejar o ato, o que ajuda a olhar o problema em sua real dimensão.

Outro equívoco comum é acreditar que o gesto esteja necessariamente associado a dificuldades financeiras ou deficiências na educação formal. Na verdade, ele acontece em todos os níveis socioeconômicos, em países ricos e pobres, e não escolhe gênero, idade, cultura ou orientação sexual e religiosa. O contexto ambiental e familiar, evidentemente, deve ser levado em conta como fator de risco, mas é importante ter em mente que não há qualquer grupo livre da possibilidade de ver um amigo, parente ou colega de trabalho ou escola envolvido em um episódio do gênero.

Num tema sério como esse, chavões ou frases-feitas podem esconder erros perigosos. Afirmar que “quem fala em suicídio não quer realmente fazê-lo” ou que “tentar e não conseguir se matar é só vontade de chamar a atenção” é repetir um bordão sem qualquer lastro na ciência, além de um desrespeito profundo aos que passam por essa situação. Grande parte dos suicidas em potencial emite sinais ou toca no assunto em algum momento, e a tentativa, mesmo desastrada ou espalhafatosa, já indica uma dor emocional profunda. Essas manifestações, portanto, merecem ser encaradas com atenção.

Nesse momento – novamente contra a falsa convicção de que falar sobre suicídio pode aumentar o risco –, uma conversa aberta, empática e sem juízo de valor é uma ótima medida. A mesma estratégia vale para os que sobreviveram a uma tentativa, ou para aqueles que dizem ou parecem ter superado o período mais difícil: ao contrário do que se diz, elas continuam sob ameaça. O problema, infelizmente, não vai embora com tanta rapidez, e acreditar numa solução quase milagrosa é mais um erro, frequente e até compreensível, mas ainda assim potencialmente danoso ao enfermo.

Sim, o suicídio é uma doença, definida pela OMS como “ato deliberado de autodestruição, em que uma pessoa escolhe intencionalmente terminar sua própria vida”. Isso inclui, ainda de acordo com o órgão, qualquer ação com este objetivo, “independentemente do grau de letalidade, resultando ou não na morte”. Portanto, até a ideação suicida – ou seja, a mera intenção de se matar – deve ser vista e tratada como uma enfermidade, nunca como falta de caráter ou “de vontade”, como tantos ainda acreditam e, pior, agem ou deixam de agir baseados nesse velho mas resistente engano.

Vale reforçar esse ponto. O suicídio não surge do egoísmo, preguiça ou tibieza, mas de uma série de fatores como traumas, estresse, dificuldades financeiras, solidão e, principalmente, distúrbios mentais como ansiedade e depressão e uso abusivo de álcool e outras drogas, que respondem por cerca de 90% dos casos fatais e 40% das tentativas de suicídio. Estamos, como se vê, diante de uma questão de saúde, não moral ou ética. Isso não significa, claro, que somente os portadores desses transtornos possam se matar: esse é mais um mito que só dificulta a prevenção dessa verdadeira epidemia.

Combater a difusão dessas e de outras falsas crenças é um dos objetivos do Setembro Amarelo, do qual todos podem participar. A prevenção é um esforço coletivo, e pode começar em casa: pessoas em risco normalmente emitem sinais, visíveis até para leigos, e a identificação precoce incentiva a busca por tratamento – disponível, aliás, de forma gratuita na rede pública. Na próxima coluna, mostraremos como reconhecer esses “recados” e, a partir deles, abordar o assunto da melhor maneira com o potencial suicida. Mais uma tentativa de colaborar com essa campanha fundamental.

Jorge Jaber, psiquiatra e grande benfeitor da Academia Nacional de Medicina

Mitos e tabus

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