fonte: NewMag

Quase três anos e meio depois de ser oficialmente classificada como “sob controle” no Brasil, a pandemia da Covid-19 continua fazendo estragos, e não somente sob a forma de doenças provocadas pelo coronavírus. Além da queda na procura por vacinas consagradas como a contra a pólio e a tríplice viral, a campanha de desinformação sobre a saúde que enfrentamos naquele período provocou uma redução na busca por exames e procedimentos de rotina para a detecção e controle de problemas como alterações na pressão arterial, glicemia e colesterol, fundamentais para o controle da saúde geral.

Um dos grandes impactos é no combate ao câncer de mama, o mais comum e letal entre a população feminina. O índice de mamografias em mulheres entre 50 e 69 anos – a faixa que concentra mais de 60% dos diagnósticos – foi de 26% em 2019 para 15% em no ano seguinte, e só voltou aos níveis pré-pandemia em 2023. O que não é necessariamente uma boa notícia, pois ainda estamos longe da meta de 90% estabelecida pelo Ministério da Saúde para esses exames. Um quadro em parte explicado pela errônea descrença nos métodos de prevenção, alimentada criminosamente pelas fake news.

Outros dados mostram o tamanho do problema. Quase 25% das mulheres nunca fizeram uma mamografia e, entre as que tiveram essa oportunidade, 40% não repetem o exame com a frequência adequada, ou seja, bienal. A baixa cobertura é um dos principais fatores da incidência e letalidade do câncer: entre 2013 e 2023, tivemos cerca de 730 mil casos – quase um terço deles, fatais. São, portanto, cerca de 210 mil vítimas da doença, muitas no auge da produtividade, que deixam um vazio ainda maior quando se sabe que, com diagnóstico precoce, a probabilidade de cura ultrapassa os 90%.

O problema não se restringe às vidas perdidas. Ao atingir um dos símbolos da feminilidade e maternidade, o câncer de mama é particularmente sofrido para a mulher. Ela enfrenta, principalmente quando tem o seio retirado, um abalo considerável na saúde mental, muitas vezes desenvolvendo distúrbios como depressão e ansiedade, gatilhos potenciais para a ideação suicida. Um cenário que afeta a própria estrutura familiar, pois todos que convivem com a enferma ficam mais vulneráveis a esses transtornos, comprometendo até sua capacidade de ajudá-la a superar esses momentos difíceis.

A chave para escapar desse círculo vicioso é a prevenção. A mamografia, evidentemente, é fundamental, e cabe às autoridades, além de oferecê-la a todo o público-alvo, trabalhar também na conscientização – inclusive dos homens – sobre sua importância. A oferta de mamógrafos no Brasil ainda é baixa – centenas de municípios não têm sequer um aparelho disponível – e concentrada em grandes centros, o que obriga moradoras de certas regiões, especialmente no Norte e Nordeste, a longos e dispendiosos deslocamentos para uma consulta ou exame. Esse panorama precisa de mudança urgente.

O autocuidado também é crucial, tanto para reduzir o risco de desenvolver a doença quanto para detectá-la o mais cedo possível. Manter um estilo de vida saudável, com atividade física regular e alimentação equilibrada, rica em frutas, legumes e fibras, é um belo primeiro passo, assim como evitar ou reduzir o uso de álcool e tabaco. O uso de contraceptivos ou terapias de reposição hormonais deve ser sempre acompanhado por um médico e, para as que pretendem ser mães, é bom saber que ter filhos antes dos 30 anos e amamentá-los o maior tempo possível também são fatores de proteção.

Observar o próprio corpo com regularidade é outro hábito recomendável. Qualquer nódulo, alteração na pele da mama ou secreção pelo mamilo deve inspirar atenção e ser relatada o mais rápido possível a um profissional. O autoexame, ainda que não substitua os exames de imagem tradicionais, é uma forma de a mulher conhecer melhor o próprio organismo, ficando mais atenta aos sinais de possíveis problemas. Este comportamento pode e deve ser adotado desde cedo, mas é fortemente indicado a partir dos 40 anos, em especial nos casos com histórico familiar para a enfermidade.

Combinando exames e consultas regulares, cuidados pessoais e informação sobre o câncer de mama, é possível melhorar os índices do Brasil nessa área, evitando a morte ou o imenso impacto físico e emocional de milhares de brasileiras afetadas pela doença. São mães, esposas, avós, profissionais em plena atividade – cidadãs, enfim – que certamente terão a vida e a saúde poupadas se campanhas como o Outubro Rosa tiverem divulgação e apoio permanentes, para que seu reflexo não se limite a um único mês. Incentivar esse movimento é uma missão de todos, todos os dias.

Jorge Jaber é psiquiatra e grande benfeitor da Academia Nacional de Medicina

Cuidado contínuo

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