Aluno: Pedro Madsen Andrade
A relação entre paciente e terapeuta apresenta características únicas. Por este motivo, a psicologia contemporânea encontrou no filósofo Martin Buber uma boa referência para o tema, pois o interesse do filósofo é voltado para à relação e o modo como as pessoas se relacionam.
Para Buber, existem duas formas básicas do homem se relacionar: Eu-Isso e Eu-Tu. Na primeira, o homem se coloca diante do outro como “algo” objetivo, e nessa atitude, se torna incapaz de (re)conhecer o outro. Já a relação Eu-Tu é marcada pelo impacto da presença do outro.
Na relação Eu-Isso estabelecemos uma relação utilitária com nosso paciente. Muitas vezes são nossos “tranpolins” profissionais ou cases de sucesso, experiências pelas quais precisamos passar para crescer dentro da profissão. Outras vezes, o terapeuta preocupa-se apenas com o conhecimento teórico que adquiriu e, procurando “achar o que dizer” ou interpretar a cada sessão, acaba perdendo contato com o paciente e “sai” da relação.
No encontro Eu-Tu não agimos em favor do paciente ou do terapeuta, mas em favor do processo terapêutico que favorece o reconhecimento de si mesmo (do paciente), das limitações e da incapacidade de enfrentar sozinho, e.g., a dependência química. Os caminhos para esse reconhecimento são específicos de cada díade paciente-terapeuta, e eles não se repetem. Embora cada terapeuta tenha seu jeito próprio, esse jeito é modulado pelo encontro com cada paciente distinto.
As reflexões de Buber apontam para considerar a experiência concreta de cada pessoa, i.e., a experiência vivida, anterior a possíveis análises e explicações que possam ser tomadas como ponto de partida. Trata-se de um pensamento que aborda o vínculo entre reflexão e ação, ou seja, entre prática e conhecimento. Daí seu elo com a terapia. Ele nos fornece as bases epistemológicas para uma terapia pautada no cuidado.
O respeito e o cuidado se concretizam no modo de cada terapeuta relacionar-se com seu paciente.
Referência: EVANGELISTA, Paulo Eduardo R. A. Psicologia fenomenológico-existencial: possibilidades da atitude clínica fenomenológica. Rio de Janeiro: Via Verita, 2013. p. 173-182