ALUNA: CAROLINA OLIVENCIA PIOLLA

INTRODUÇÃO

O consumo abusivo do álcool é cada vez mais observado entre adolescentes segundo dados da OMS. O início precoce vem crescendo de forma gradativa na sociedade de maneira geral.
O alcoolismo é definido pelo hábito da ingestão em excesso de bebidas alcóolicas. O álcool é uma das poucas drogas psicotrópicas de uso permitido, o que acaba se tornando um agravante, tendo seu consumo por muitas vezes incentivado.
Na fase da adolescência, o indivíduo passa por alterações comportamentais, emocionais e cognitivas, sendo essa fase de extrema importância para a consolidação de hábitos, nocivos ou não, na vida adulta.
Segundo Organização Mundial da Saúde (OMS) o consumo do álcool particularmente é apontado como um dos importantes problemas de saúde pública no mundo e é considerado um problema de ordem social a depender da quantidade e da frequência de uso, pois pode provocar danos graves à saúde, assim como comprometer o relacionamento familiar, social e as condições de trabalho (OMS, 2011).
Entre outras doenças, o uso abusivo do álcool pode causar graves alterações na mucosa gastrointestinal, no pâncreas e no fígado (Seitz e Homann, 2001). Segundo estudos sobre a síndrome da abstinência do álcool (Laranjeira et al., 2000), as principais comorbidades clínicas do sistema gastrointestinal associadas ao consumo de bebidas alcoólicas são: pancreatite crônica, esteatose hepática, hepatite alcoólica, hemorragia digestiva, cirrose hepática com ou sem hepatite alcoólica, gastrite, esofagite de refluxo e tumores.
No Brasil, estudos mostram prevalência elevada de pacientes com problemas relacionados ao álcool em ambulatório do hospital geral (Figlie et al., 1997; Turisco et al., 2000). O álcool é responsável por mais de 90% das internações hospitalares por dependência. Em relação aos pacientes internados por problemas psiquiátricos,
aproximadamente 35% apresentam problemas decorrentes do uso de substâncias psicoativas, sendo 90% ligados ao consumo de álcool (Noto e Carlini, 1995). No entanto, a maior parte daqueles que procuram tratamento opta por ajuda médica geral e não por tratamento especializado em saúde mental (Turisco et al., 2000).

ÁLCOOL, ADOLESCÊNCIA, EFEITOS E CONSEQUÊNCIAS

Por ser uma fase transitória, de descobertas, busca de identidade e novas experiências, é na adolescência que geralmente ocorre a experimentação de algum tipo de droga. O uso do álcool na adolescência é um fator de exposição para problemas de saúde na idade adulta, além de aumentar significativamente o risco de o indivíduo se tornar um consumidor em excesso ao longo da vida (Scheimann, 2015)
O álcool é a substância psicotrópica mais consumida por adolescentes (Faden, 2005; Galduróz e cols., 2005). Por mais que o consumo de álcool por adolescentes na sociedade possa parecer sem importância, pesquisas mostram que começar a beber precocemente é um fator muito importante que influenciará problemas futuros com o álcool (Maggs e Schulenberg, 2005).
Na fase da adolescência a busca por novas experiências é um dos fatores que levam os adolescentes a ter seu primeiro contato com o álcool. Nesse período, o jovem busca por experiências de realizações imediatas, de prazeres e sensações que possam ser vivenciados na hora do consumo.
O uso abusivo do álcool traz inúmeras repercussões negativas para a saúde física e psíquica do adolescente e também prejudica a vida social dos jovens. A passagem do uso social ao uso abusivo e dependência ocorre de maneira lenta, sendo um processo que pode levar alguns anos.
Segundo Galvão (2011), os efeitos físicos são tão frequentes quanto os emocionais. A longo prazo, o uso abusivo pode aumentar o risco de doenças como o câncer, hepatite, cirrose, gastrite, úlcera, dependência e danos cerebrais irreversíveis.
De acordo com a Cartilha Álcool e Jovens (BRASIL, 2007), o envolvimento dos adolescentes com a bebida se desenvolve nos momentos de descontração e alegria. A partir disso, é comum eles pensarem que quanto mais eles bebem, mais descontraídos e alegres irão ficar. Os efeitos do álcool acontecem em dois momentos. No primeiro, o álcool atua como estimulante, deixando o jovem mais eufórico e desinibido. No segundo momento, começam a surgir os efeitos depressores, levando à diminuição da coordenação motora, dos reflexos e acaba por deixar o jovem com movimentos lentificados e sonolentos.
Segundo Pechansky (2004), para o diagnóstico de abuso, o adolescente precisaria apresentar, ao longo de um ano, um dentre quatro sintomas ancorados no DSM, sobretudo, no uso recorrente da substância, apesar de algum prejuízo social, pessoal ou legal. Para o diagnóstico de dependência, o adolescente deveria apresentar,
ao longo de um ano, três dentre sete sintomas que não se sobrepõem aos sintomas de abuso.
Ao menos dois dos sete sintomas de dependência são de base predominantemente biológica (tolerância e abstinência), mas a resposta física ao álcool difere de acordo com a etapa do desenvolvimento. O que significa dizer que, para uma doença de desenvolvimento lento como o alcoolismo, seria improvável que estes elementos – em particular os sintomas de abstinência – já se encontrassem evidentes com poucos anos de uso na adolescência (Pechansky, 2004).
Ainda de acordo com Pechansky (2004), os prejuízos decorrentes do uso abusivo do álcool em um adolescente são diferentes dos prejuízos observados em um adulto, seja por questões existenciais dessa etapa da vida, seja por questões neuroquímicas desse momento do amadurecimento cerebral. Esses prejuízos se estendem ao longo da vida. Os efeitos repercutem na neuroquímica cerebral, como já falado anteriormente, em pior ajustamento social e no retardo do desenvolvimento das habilidades do adolescente, uma vez que o jovem ainda está se estruturando em termos biológicos.
O adolescente ainda está construindo a sua identidade. Mesmo sem um diagnóstico de abuso ou dependência de álcool, pode se prejudicar com o seu consumo, à medida que se habitua a passar por uma série de situações apenas sob efeito de álcool. Vários adolescentes costumam, por exemplo, associar o lazer ao consumo de álcool, ou só conseguem tomar iniciativas em experiências afetivas e sexuais se beberem. Assim, aprendem a desenvolver habilidades apenas possíveis com o uso de álcool e, quando este não se encontra disponível, sentem-se incapazes de desempenhar estas atividades, evidenciando uma outra forma de dependência (PECHANSKY, 2004).

CONCLUSÃO

Compreende-se que, apesar dos diversos prejuízos que o álcool ocasiona à saúde dos adolescentes, seu consumo pode, por muitas vezes, ser visto como algo normal para a sociedade. A adolescência é um período de transição, marcada por diversas mudanças biológicas, sociais e comportamentais, onde o consumo abusivo do álcool pode acarretar em consequências danosas no que diz respeito à questões biológicas e de personalidade (dependente).
Estudos mostram que de maneira alguma o consumo de álcool por jovens é algo vantajoso. Ainda que para a sociedade e para os jovens o uso cada vez mais precoce e abusivo seja visto como algo normal da fase, inciativas para combater e prevenir o uso é de extrema importância para a saúde, tanto física quanto mental dos jovens.

BIBLIOGRAFIA

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SCHEIMANN, J. K., SOUZA, F. O uso nocivo/abusivo de álcool na adolescência: consequências e percepções de uma vida errante. 2015. Disponível em: http://www.uniedu.sed.sc.gov.br/wp-content/uploads/2016/02/Jessica-KristiniScheimann.pdf. Acesso em 14 de novembro de 2018.
SEITZ, H.K.; HOMANN, N. – Effect of alcohol on the orogastrointestinal tract, the pancreas and the liver. In: Heather N, Peters TJ, Stockwell T. International Handbook of Alcohol Dependence and Problem. John Wiley & Sons, Inglaterra, pp. 151-67, 2001.
TURISCO, J.L.; PAYÁ, R.; FIGLIE, N.B.; LARANJEIRA, R. – As pessoas que precisam, procuram tratamento para alcoolismo? J Bras Psiquiatr (9): 319-322, 2000.

O uso abusivo de álcool na adolescência e suas consequências