ALUNA: CAROLINA OLIVENCIA PIOLLA

INTRODUÇÃO

As síndromes psicóticas se caracterizam por sintomas típicos como alucinações e delírios, pensamento desorganizado e comportamento claramente bizarro, como fala e risos imotivados (DALGALARRONDO, 2000). Os sintomas paranoides são bastante comuns, como delírios e alucinações auditivas e de cunho persecutório. O psicótico, nessa concepção, passa a viver fora da realidade, vive predominantemente regido pelo princípio do prazer e do narcisismo. Segundo Dalgalarrondo (2000), a principal forma de psicose, dada sua frequência e importância clínica, é a esquizofrenia. O termo esquizofrenia, segundo D’Agord, é um conceito relativamente novo, com não mais de noventa anos, e nesse ínterim, o conceito, que havia sido criado para determinar a fragmentação ou dissolução dos processos psíquicos próprios de uma maneira de psicose, acabou sendo generalizado para indicar todos os processos de separação, seja na esfera familiar, da comunicação ou da vida em sociedade. Concomitantemente, entre os pesquisadores em psicopatologia, o termo passou a ser questionado como sendo adequado ou não para definir a doença mental para o qual havia sido criado. E como resultado, epistemologicamente, esquizofrenia teve seu conceito de definição revisado. Essa dinâmica da psicopatologia acaba por despertar a necessidade de sempre ter presente a historicidade do conceito. Neste trabalho, será apresentado um breve estudo sobre a história e conceito da esquizofrenia.

RECORTE HISTÓRICO

O conceito de esquizofrenia foi originalmente elaborado por Eugen Bleuler, quando em 1911 publica sua monografia intitulada “Demência precoce ou o grupo das esquizofrenias”. Bleuler criou esse neologismo para marcar a ruptura desse conceito com o até então aceito, que era demência precoce, de Émil Kraepelin. Seu propósito era ir além das constelações dos sintomas regulares estabelecidas por Kraepelin, buscou-se o fundamento psicopatológico daquela enfermidade (PEREIRA, 2000). O que o termo demência precoce de Kraepelin indicava era a deterioração mental em pessoas jovens, recém entradas na vida adulta. Tal conceito foi questionado por Bleuler pois foi constatado em alguns casos que a deterioração não aparecia precocemente no paciente, porém mais tarde; sendo assim, Bleuler observou ser necessário rever o nome da doença. Com o neologismo esquizofrenia, de origem grega, através da junção do verbo schizo, que significa fender, separar; e pelo substantivo phrén, que significa espírito, inteligência, Bleuler quis mostrar que o sintoma principal dessa doença é a dissociação do psiquismo, e não uma crescente deterioração psíquica (D’AGORD, 2005). Segundo D’agord (2005), Bleuler define a esquizofrenia como um grupo de psicoses, sendo a doença caracterizada por um tipo específico de alteração do pensamento, dos sentimentos e da relação com o meio exterior. Em todos esses casos, a dissociação é presente de maneira mais ou menos nítida das funções psíquicas. Essa dissociação acaba por atingir a personalidade, o processo associativo e os afetos. O processo associativo sofre alteração na maneira como discorre, não há continuidade no discurso. Enquanto no processo normal de pensamento o conteúdo cognitivo se combina para fazer a associação, na esquizofrenia esse conteúdo é percebido de maneira isolada, não se combinam ou faz-se combinações ineficazes. Como resultado, o pensamento se torna confuso, fragmentado. Na fala do paciente esquizofrênico percebe-se ideias que não tem entre si nenhuma relação, pode ocorrer também a condensação de várias ideias em uma. Devido a essa alteração das funções de associação e afeto, a relação do paciente esquizofrênico com o mundo exterior acaba ficando enfraquecida, pois a sua vida interior assume uma importância patológica. Esse estado de desapego à realidade Bleuler denomina como autismo (D’AGORD, 2005). Bleuler descreveu os quatro sintomas principais da esquizofrenia, conhecidos como os 4 A’s de Bleuler: afrouxamento dos nexos associativos do pensamento, ou seja, como falado anteriormente, as ideias são associadas de maneira errônea; autismo, caracterizado pelo isolamento social, dificuldade de relacionamento, comportamento introspectivo; afeto embotado, que se caracteriza pela redução das expressões emocionais, com gestos da comunicação escassos ou artificiais e avolição, que significa ausência de vontade, a desmotivação e apatia são observados com frequência no comportamento (PALMEIRA et al, 2013). Posterior a Bleuler, em 1948, Schneider denominou “os sintomas de primeira ordem”, que são sintomas bastante significativos para o diagnóstico da esquizofrenia. São eles: ouvir os próprios pensamentos (sonorização do pensamento); roubo do pensamento; difusão do pensamento (o paciente acredita que seus pensamentos são ouvidos pelos outros); vivências de influência (o paciente sente uma força ou um ser externo agindo sobre seu corpo); percepção delirante e alucinações (ELKIS, 2000). Segundo Dalgalarrondo (2000), esses sintomas de primeira ordem indicam uma profunda modificação da relação do paciente com o mundo exterior, uma danificação significativa dos limites que permeiam o eu em relação ao mundo, ocorre uma perda marcante da dimensão da intimidade, do mundo interior.

CONCEITO

De acordo com o CID-10 (1993) a esquizofrenia (F20) em geral é caracterizada por distorções fundamentais e características do pensamento e da percepção e por afeto inadequado ou embotado. Os pensamentos, sentimentos e atos mais íntimos são sentidos como conhecidos ou partilhados por outros e podem se desenvolver delírios explicativos, a ponto de que forças naturais ou sobrenaturais trabalhem de forma a influenciar os pensamentos e as ações do indivíduo atingido pela doença, de formas que são muitas vezes bizarras. As alucinações, especialmente auditivas, são comuns e podem comentar sobre o comportamento ou os pensamentos do paciente. Perplexidade é também comum no início e leva frequentemente a uma crença de que situações cotidianas possuem um significado especial, usualmente sinistro, destinado unicamente ao indivíduo. Na perturbação característica do pensamento esquizofrênico, aspectos irrelevantes de um conceito total, que durante uma atividade mental normal estão inibidos, na esquizofrenia são trazidos para o primeiro plano e utilizados como sendo de grande relevância. Dessa forma, o pensamento se torna vago e obscuro e sua expressão em palavras, algumas vezes ficam incompreensíveis (CID-10, 1993). Na esquizofrenia existem dois tipos de sintomas; os sintomas positivos ou psicóticos (como delírios e alucinações), que são vistos como os sintomas que estão relacionados diretamente ao surto psicótico, são as fantasias que o paciente acaba criando no decorrer da doença, e os sintomas negativos (como apatia, embotamento, pobreza do discurso), que estão relacionados à fase crônica da doença, também são chamados de sintomas deficitários pois trazem a deficiência de algumas funções mentais e comportamentais (PALMEIRA, SD). Para que seja diagnosticada a esquizofrenia, é necessário que dois ou mais sintomas sejam observados por no mínimo um mês, sendo que pelo menos um desses sintomas deverá ser delírios, alucinações, discurso desorganizado, comportamento grosseiramente desorganizado ou catatônico ou sintomas negativos (já citados anteriormente). Por um período significativo de tempo desde o aparecimento da perturbação, os níveis de funcionamento no trabalho, nas relações interpessoais ou no autocuidado, devem estar abaixo do nível que costumava-se atingir para se caracterizar o diagnóstico (DSM-V, 2014).

SUBTIPOS

De acordo com o CID-10 (1993), a esquizofrenia é dividida em seis principais subtipos: F20.0 Esquizofrenia paranóide: é a mais comum. O quadro clínico é dominado por delírios, alucinações e perturbações da percepção. Delírios de cunho persecutório, religioso, de grandeza estão entre os mais frequentes. Outros sintomas bastante comuns são as vozes de comando e alucinações auditivas e visuais. Os sintomas negativos nesse tipo de esquizofrenia não dominam o quadro clínico, mas podem aparecer. F20.1 Esquizofrenia hebefrênica: ao contrário da paranóide, as alucinações e delírios estão presentes, mas não são usualmente proeminentes. O que está em jogo é a perturbação no campo do afeto e da vontade. As mudanças afetivas são relevantes, o afeto é superficial e inadequado. O pensamento é desorganizado, o discurso é vago e incoerente. Há uma tendência ao isolamento. Essa forma de esquizofrenia tende a ter um prognóstico pobre por conta do rápido desenvolvimento dos sintomas negativos. F20.2 Esquizofrenia catatônica: as perturbações psicomotoras proeminentes são os aspectos essenciais e dominantes e podem se alternar entre extremos tais como hipercinesia e estupor ou obediência automática e negativismo. Atitudes e posturas forçadas podem ser mantidas por longos períodos. Episódios de agitação violenta podem ser um aspecto notável da condição. F20.3 Esquizofrenia indiferenciada: essa forma deve ser usada somente para condições psicóticas e após ter sido feita uma tentativa de classificar a condição em uma das três categorias anteriores. Quando não se adequa a nenhum dos subtipos acima ou quando apresenta aspectos de mais de um deles, sem uma clara predominância de um conjunto de características diagnósticas em particular. F20.5 Esquizofrenia residual: é um estágio crônico no desenvolvimento de um transtorno esquizofrênico, no qual houve uma progressão clara de um estágio inicial para um estágio mais tardio caracterizados por sintomas negativos de longa duração, embora não necessariamente irreversíveis. Os sintomas negativos são proeminentes, há retardo psicomotor, afeto embotado, passividade, autocuidado e desempenho social empobrecido são alguns sintomas. F20.6 Esquizofrenia simples: é um transtorno incomum, no qual há um desenvolvimento insidioso, mas progressivo de conduta estranha, incapacidade para atender as exigências da sociedade e um declínio no desempenho total. Delírios e alucinações não são evidentes e o transtorno é menos obviamente psicótico do que os subtipos hebefrênico, paranóide e catatônico. Com o aumento do empobrecimento social pode seguir-se a adoção de uma conduta de vagante e o indivíduo pode então se tonar absorto em si mesmo, inativo e sem objetivo. É um diagnóstico difícil.

BIBLIOGRAFIA

CID10 (1993) Classificação de transtornos mentais e de comportamento da CID-10: Descrições clínicas e diretrizes diagnósticas – Coord. Organiz. Mund. da Saúde; trad. Dorgival Caetano. Porto Alegre: Editoras Artes Médicas. D’AGORD, M. (2005). Esquizofrenia, os limites de um conceito. Disponível em: Acesso em 16 de novembro de 2018. DALGALARRONDO, P. (2000) Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. Porto Alegre: Editora Artes Médicas Sul. DSM-5 (2014) Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. American Psychiatnc Association, traduç . Maria Inês Corrêa Nascimento et al.; revisão técnica: Aristides Volpato Cordioli et al. Porto Alegre: Editora Artmed. PALMEIRA, L. (SD) Quais os sintomas? Disponível em: Acesso em 16 de novembro de 2018. PALMEIRA, L. et al (2013). Entendendo a Esquizofrenia : Como a família pode ajudar no tratamento? Rio de Janeiro: Editora Interciência. PEREIRA, M. E. C. (2000) Bleuler e a invenção da esquizofrenia. Rev. latinoam. psicopatol. fundam., São Paulo , v. 3, n. 1, p. 158-163, Mar. Disponível em: . Acesso em 16 de novembro de 2018.

Comorbidade psiquiátrica: Esquizofrenia, história, conceito e subtipos