INTRODUÇÃO
Segundo Pereira (2014) a dependência química é uma patologia de alta complexidade, que é determinada por diversos fatores. Para sua maior compreensão, são necessários que estudos e abordagens multiprofissionais sejam feitos. Embora seja um problema de saúde, sua causa não fica restrita apenas ao que tange fatores orgânicos, pois estão incluídos também fatores sociais e familiares, e as áreas psíquica e emocional (apud FONTES, FIGLIE, LARANJEIRA, 2006).
Sendo a adolescência um período de transição, marcado por intensas mudanças especialmente nas áreas biológicas, psíquica e social, acaba sendo uma fase de experimentações. Nesse momento é comum o contato inicial dos jovens com substâncias psicoativas. Uma grande parte dos jovens irá passar pela experimentação de drogas e cessará o uso, porém uma parcela destes irão apresentar vulnerabilidades que os colocarão em risco de desenvolver abuso ou ainda dependência de substâncias. O uso prematuro de drogas está relacionado a diversos fatores psicossociais que acabam por se relacionar nas esferas biológica, familiar, escolar e social.
Segundo Parada (2013) do ponto de vista do desenvolvimento, a adolescência é um período marcado por processos delicados de aprimoração cerebral, de modo que o cérebro do adolescente acaba sendo mais vulnerável aos efeitos de substâncias químicas. Além dessa vulnerabilidade, os efeitos tóxicos derivados do uso de drogas podem lesar o desenvolvimento cerebral e limitar o desenvolvimento das capacidades daquele adolescente, além de possuir relação com doenças psiquiátricas, como a esquizofrenia.
Um levantamento realizado com 50.890 estudantes brasileiros pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID), no ano de 2010, confirma que o uso de drogas tem início precoce, com pelo menos 5% dos estudantes tendo experimentado drogas antes dos 10 anos de idade. No caso de anfetaminas, maconha, cocaína e crack, a média de idade do primeiro uso se situa entre 14 e 15 anos.
O presente trabalho busca relacionar o uso de maconha na adolescência e o risco de desenvolver esquizofrenia na idade adulta, resultando assim, em diagnóstico dual – dependência química e esquizofrenia.

USO DE MACONHA NA ADOLESCÊNCIA E A ESQUIZOFRENIA
De acordo com o CID-10 (1993) a esquizofrenia (F20) em geral é caracterizada por distorções fundamentais e características do pensamento e da percepção e por afeto inadequado ou embotado. Os pensamentos, sentimentos e atos mais íntimos são sentidos como conhecidos ou partilhados por outros e podem se desenvolver delírios explicativos, a ponto de que forças naturais ou sobrenaturais trabalhem de forma a influenciar os pensamentos e as ações do indivíduo atingido pela doença, de formas que são muitas vezes bizarras. As alucinações, especialmente auditivas, são comuns e podem comentar sobre o comportamento ou os pensamentos do paciente. Perplexidade é também comum no início e leva frequentemente a uma crença de que situações cotidianas possuem um significado especial, usualmente sinistro, destinado unicamente ao indivíduo.
Na perturbação característica do pensamento esquizofrênico, aspectos irrelevantes de um conceito total, que durante uma atividade mental normal estão inibidos, na esquizofrenia são trazidos para o primeiro plano e utilizados como sendo de grande relevância. Dessa forma, o pensamento se torna vago e obscuro e sua expressão em palavras, algumas vezes ficam incompreensíveis (CID-10, 1993).
Na esquizofrenia existem dois tipos de sintomas; os sintomas positivos ou psicóticos (como delírios e alucinações), que são vistos como os sintomas que estão relacionados diretamente ao surto psicótico, são as fantasias que o paciente acaba criando no decorrer da doença, e os sintomas negativos (como apatia, embotamento, pobreza do discurso), que estão relacionados à fase crônica da doença, também são chamados de sintomas deficitários pois trazem a deficiência de algumas funções mentais e comportamentais (PALMEIRA, SD).
Uma relação alarmante que já está comprovada cientificamente é a causa-efeito do uso da maconha com o aparecimento de quadros esquizofrênicos.
Um estudo feito na Nova Zelândia, com mais de mil adolescentes seguidos desde o nascimento, constatou que os jovens que afirmaram terem feito uso de maconha apresentaram uma chance de quatro vezes maior de terem diagnóstico de esquizofrenia até os 26 anos de idade. De acordo com esses dados, estatisticamente falando, um em cada dez usuários adolescentes de maconha sofrem de esquizofrenia.
Quanto mais precoce o uso de maconha, especialmente até os 15 anos de idade, maior o risco de desenvolver a doença.
De acordo com Parada (2013) estudos comprovam que se o uso da maconha fosse eliminado, de 8 a 13% dos casos de esquizofrenia seriam prevenidos.
Outro estudo feito na Suécia com mais de 50 mil homens, os médicos a frente da pesquisa descobriram que aqueles que haviam consumido maconha no fim dos anos 60 tinham 30% mais chances de desenvolverem esquizofrenia.
Uma pesquisa da Secretaria Nacional Antidrogas constatou que 9% dos adolescentes brasileiros já utilizaram maconha ao menos uma vez (CARLINI, 2002).
Não é possível saber com exatidão quais adolescentes dentre os que experimentam maconha se tornarão dependentes, diversos fatores estão por detrás do desenvolvimento da dependência, mas uma coisa é certa, quanto mais cedo se iniciar o uso de drogas, maior o risco de desenvolver doenças psiquiátricas, neste caso específico, a esquizofrenia pelo uso da maconha.
A hereditariedade é um fator de extrema importância que contribui fortemente com um risco genético para o desenvolvimento da dependência química.
Segundo Pechansky (2004) os transtornos por uso de substâncias são os problemas de saúde mental mais prevalentes na adolescência. Além disso, cerca de 89% dos adolescentes que são dependentes químicos apresentam também outro transtorno psiquiátrico.

CONCLUSÃO
Ao contrário do que muitos pensam, a maconha não é uma droga sem riscos para a saúde. As pessoas precisam analisar as consequências do seu uso e compreender os riscos possíveis de desenvolvimento de doenças mentais através de seu uso.
Casos de esquizofrenia podem ser evitados a partir de um controle maior sobre o uso da maconha, especialmente entre os jovens.
Jovens que iniciam o uso precocemente estão mais vulneráveis aos efeitos prejudiciais da maconha. Iniciativas de prevenção podem ter um impacto positivo no que diz respeito a inibir possíveis casos futuros de esquizofrenia.

BIBLIOGRAFIA

CARLINI E.A, Galduroz J.C.F, Noto A.R, Nappo S.A. Levantamento domiciliar sobre o uso de drogas psicotropicas no Brasil: estudo envolvendo 107 maiores cidades do país, 2001. São Paulo: Secretaria Nacional Antidrogas; 2002
CID10 (1993) Classificação de transtornos mentais e de comportamento da CID-10: Descrições clínicas e diretrizes diagnósticas – Coord. Organiz. Mund. da Saúde; trad. Dorgival Caetano. Porto Alegre: Editoras Artes Médicas.
FONTES, A.; FIGLIE, N. B.; LARANJEIRA, R. O comportamento de beber entre dependentes de álcool: estudo de seguimento. Revista de Psiquiatria clínica, São Paulo, v. 33, n. 6, p.304-312, 2006.
PALMEIRA, L. et al (2013). Entendendo a Esquizofrenia : Como a família pode ajudar no tratamento? Rio de Janeiro: Editora Interciência.
PARADA, J. J. Aspectos psicossociais relacionados ao uso de drogas na adolescência. Percurso Acadêmico, Belo Horizonte, v.3, n.5, p.10-21, jan./jun.2013
PECHANSKY, F.; SZOBOTI, C.M.; SCIVOLETTOLL, S. Uso de álcool entre adolescentes: conceitos, características epidemiológicas e fatores etiopatogênicos. Rev Bras Psiq, v. 26, supl. 1, p. 14-17. maio 2004

Diagnóstico Dual: uso de maconha por adolescentes e esquizofrenia