Aluna: Adriana de Marins Vieira
Curso de Formação de Terapeutas em Dependência Química

Compulsão alimentar é uma doença mental em que a pessoa sente a necessidade de comer, mesmo quando não está com fome, e que não deixa de se alimentar apesar de já estar satisfeita.

Critérios Diagnósticos

Episódios recorrentes de compulsão alimentar. Um episódio de compulsão alimentar é caracterizado
pelos seguintes aspectos:

1. Ingestão, em um período determinado (p. ex., dentro de cada período de duas horas), de
uma quantidade de alimento definitivamente maior do que a maioria das pessoas consumiria
no mesmo período sob circunstâncias semelhantes.

2. Sensação de falta de controle sobre a ingestão durante o episódio (p. ex., sentimento de não
conseguir parar de comer ou controlar o que e o quanto se está ingerindo).

Os episódios de compulsão alimentar estão associados a três (ou mais) dos seguintes aspectos:

1. Comer mais rapidamente do que o normal.
2. Comer até se sentir desconfortavelmente cheio.
3. Comer grandes quantidades de alimento na ausência da sensação física de fome.
4. Comer sozinho por vergonha do quanto se está comendo.
5. Sentir-se desgostoso de si mesmo, deprimido ou muito culpado em seguida.
Sofrimento marcante em virtude da compulsão alimentar.

Os episódios de compulsão alimentar ocorrem, em média, ao menos uma vez por semana durante
três meses.

A compulsão alimentar não está associada ao uso recorrente de comportamento compensatório
inapropriado como na bulimia nervosa e não ocorre exclusivamente durante o curso de bulimia
nervosa ou anorexia nervosa.

Especificar se:

Em remissão parcial: Depois de terem sido previamente satisfeitos os critérios plenos do transtorno
de compulsão alimentar, a hiperfagia ocorre a uma frequência média inferior a um episódio
por semana por um período de tempo sustentado.

Em remissão completa: Depois de terem sido previamente satisfeitos os critérios plenos do
transtorno de compulsão alimentar, nenhum dos critérios é mais satisfeito por um período de
tempo sustentado.

Especificar a gravidade atual:
O nível mínimo de gravidade baseia-se na frequência de episódios de compulsão alimentar (ver a
seguir). O nível de gravidade pode ser ampliado de maneira a refletir outros sintomas e o grau de
incapacidade funcional.
Leve: 1 a 3 episódios de compulsão alimentar por semana.
Moderada: 4 a 7 episódios de compulsão alimentar por semana.
Grave: 8 a 13 episódios de compulsão alimentar por semana.
Extrema: 14 ou mais episódios de compulsão alimentar por semana.

Características Associadas que Apoiam o Diagnóstico

O transtorno de compulsão alimentar ocorre em indivíduos de peso normal ou com sobrepeso
e obesos. O transtorno é consistentemente associado ao sobrepeso e à obesidade em indivíduos
que buscam tratamento. Contudo, é distinto da obesidade. A maioria dos indivíduos obesos não
se envolve em compulsão alimentar recorrente. Além disso, comparados a indivíduos obesos de
peso equivalente sem transtorno de compulsão alimentar, aqueles com o transtorno consomem
mais calorias em estudos laboratoriais do comportamento alimentar e têm mais prejuízo funcional,
qualidade de vida inferior, mais sofrimento subjetivo e maior comorbidade psiquiátrica.

Prevalência

A prevalência de 12 meses do transtorno de compulsão alimentar entre mulheres e homens adultos
norte-americanos (com idade igual ou superior a 18 anos) é de 1,6 e 0,8%, respectivamente.
A taxa de gênero é bem menos assimétrica no transtorno de compulsão alimentar do que na
bulimia nervosa. Esse transtorno é tão prevalente entre mulheres de minorias raciais e étnicas
quanto em mulheres brancas e é mais prevalente entre indivíduos que buscam tratamento para
emagrecer do que na população em geral.

Desenvolvimento e Curso

Pouco se sabe a respeito do desenvolvimento do transtorno de compulsão alimentar. Tanto a
compulsão alimentar quanto a perda de controle da ingestão sem consumo objetivamente excessivo
ocorrem em crianças e estão associadas a maior gordura corporal, ganho de peso e mais
sintomas psicológicos. A compulsão alimentar é comum em amostras de adolescentes e de universitários.
A ingestão fora de controle ou a compulsão alimentar episódica podem representar
uma fase prodrômica dos transtornos alimentares para alguns indivíduos.
A prática de fazer dieta segue o desenvolvimento de compulsão alimentar em muitos indivíduos
com o transtorno. (Em contraste com a bulimia nervosa, na qual o hábito disfuncional de
fazer dieta geralmente precede o início da compulsão alimentar.) O transtorno começa, em geral,
na adolescência ou na idade adulta jovem, mas pode ter início posteriormente, na idade adulta.
Indivíduos com transtorno de compulsão alimentar que buscam tratamento costumam ser mais
velhos do que aqueles com bulimia nervosa ou anorexia nervosa que buscam tratamento.
As taxas de remissão tanto em estudos do curso natural quanto nos de tratamento do transtorno
são maiores para o transtorno de compulsão alimentar do que para bulimia ou anorexia
nervosas. O transtorno de compulsão alimentar parece ser relativamente persistente, e seu curso
é comparável ao da bulimia nervosa em termos de gravidade e duração. A mudança diagnóstica
de transtorno de compulsão alimentar para outros transtornos alimentares é incomum.

Fatores de Risco e Prognóstico

Genéticos e fisiológicos. O transtorno de compulsão alimentar parece comum em famílias, o
que pode refletir influências genéticas adicionais.

Questões Diagnósticas Relativas à Cultura
O transtorno de compulsão alimentar ocorre com frequências razoavelmente semelhantes na
maioria dos países industrializados, incluindo Estados Unidos, Canadá, muitos países europeus,
Austrália e Nova Zelândia. Nos Estados Unidos, a prevalência do transtorno parece comparável
entre brancos não latinos, latinos, asiáticos e afro-americanos.

Consequências Funcionais do Transtorno de Compulsão Alimentar

O transtorno de compulsão alimentar está associado a uma gama de consequências funcionais,
incluindo problemas no desempenho de papéis sociais, prejuízo da qualidade de vida e satisfação
com a vida relacionada à saúde, maior morbidade e mortalidade médicas e maior utilização
associada a serviços de saúde em comparação a controles pareados por índice de massa corporal.
O transtorno pode estar associado também a um risco maior de ganho de peso e desenvolvimento
de obesidade.

Diagnóstico Diferencial

Bulimia nervosa. O transtorno de compulsão alimentar tem em comum com a bulimia nervosa
o comer compulsivo recorrente, porém difere desta última em alguns aspectos fundamentais.
Em termos de apresentação clínica, o comportamento compensatório inapropriado recorrente (p.
ex., purgação, exercício excessivo) visto na bulimia nervosa está ausente no transtorno de compulsão
alimentar. Diferentemente de indivíduos com bulimia nervosa, aqueles com transtorno
de compulsão alimentar não costumam exibir restrição dietética marcante ou mantida voltada
para influenciar o peso e a forma corporais entre os episódios de comer compulsivo. Eles podem,
no entanto, relatar tentativas frequentes de fazer dieta. O transtorno de compulsão alimentar
também difere da bulimia nervosa em termos de resposta ao tratamento. As taxas de melhora
são consistentemente maiores entre indivíduos com transtorno de compulsão alimentar do que
entre aqueles com bulimia nervosa.

Obesidade. O transtorno de compulsão alimentar está associado a sobrepeso e obesidade, mas
apresenta diversos aspectos-chave distintos da obesidade. Primeiro, os níveis de valorização excessiva
do peso e da forma corporais são maiores em indivíduos obesos com o transtorno do
que entre aqueles sem o transtorno. Em segundo lugar, as taxas de comorbidade psiquiátrica são
significativamente maiores entre indivíduos obesos com o transtorno comparados aos que não o
têm. Em terceiro lugar, o sucesso prolongado de tratamentos psicológicos baseados em evidência
para o transtorno de compulsão alimentar podem ser contrastados com a ausência de tratamentos
eficazes a longo prazo para obesidade.

Transtornos bipolar e depressivo. Aumentos no apetite e ganho de peso estão inclusos nos
critérios para episódio depressivo maior e nos especificadores de aspectos atípicos para transtornos
depressivo e bipolar. O aumento da ingesta no contexto de um episódio depressivo maior
pode ou não estar associado a perda de controle. Se todos os critérios para ambos os transtornos
forem satisfeitos, ambos os diagnósticos podem ser dados. Compulsão alimentar e outros
sintomas da ingestão desordenada são vistos em associação com transtorno bipolar. Se todos os
critérios para ambos os transtornos forem preenchidos, ambos os diagnósticos deverão ser dados.
Transtorno da personalidade borderline. A compulsão alimentar está inclusa no critério de
comportamento impulsivo que faz parte da definição do transtorno da personalidade borderline.
Se todos os critérios de ambos os transtornos forem preenchidos, então os dois diagnósticos devem
ser dados.

Comorbidade

O transtorno de compulsão alimentar está associado a comorbidade psiquiátrica significativa
comparável à da bulimia nervosa e da anorexia nervosa. Os transtornos comórbidos mais comuns
são transtornos bipolares, transtornos depressivos, transtornos de ansiedade e, em um
grau menor, transtornos por uso de substância. A comorbidade psiquiátrica está ligada à gravidade
da compulsão alimentar, não ao grau de obesidade.

Fonte de Referencia:

DSM-V, American Psychiatric Association – Manual de Diagnóstico Estatístico de Distúrbios Mentais 5ºed. Edit. Artes Médicas

Transtorno de Compulsão Alimentar