Aluna: Adair Coelho

Quais os motivos que levam a pensar em um tratamento para usuários de maconha?

-Prevalência
A maconha é a droga ilícita mais usada mundialmente.
No Brasil, o mesmo se repete: A maconha é também a droga ilícita mais usada.
Apesar de seu uso na vida ser pequeno comparado ao de outros países, seu crescimento é evidente em várias populações (estudantes, universitários, entre outros).
Comparada a outras drogas, um entre dez indivíduos que usam maconha na vida se tornam dependentes em algum momento do período de 4 a 5 anos de consumo pesado. Este risco é mais comparável ao riscos de outras drogas (álcool e opióides).
O interesse pela maconha vem crescendo possivelmente porque estudos recentes vem comprovando os efeitos adversos do seu uso. Acredita-se que a concentração da substância ativa da maconha, o THC, tenha aumentado, além de formas alternativas de consumo e estas seja outras causas de adversidades notificadas. Não se pode esquecer o fato de que o uso da maconha geralmente vem associado ao consumo do álcool e de outras drogas.
As evidências mostram que o uso prolongado pode acarretar alterações cognitivas sutis nas “funções cognitivas superiores” da memória, atenção, organização e integração de informações complexas. Apesar de sutis, essas alterações podem afetar o funcionamento do dia-a-dia, particularmente entre pessoas que desempenham ocupações onde se exige uma utilização de alto níveis de capacidade cognitiva.
O uso crônico da maconha está associado a bronquite crônica e a longo prazo, as vias respiratórias vão sendo danificadas e o efeito, em última instância, pode ser o câncer de pulmão e das vias respiratórias.
Existe uma relação entre o uso da maconha e o aparecimento de doenças psiquiátricas tais como esquizofrenia e psicose em geral.
Acredita-se que pessoas propensas a desenvolver estes quadros, acabam por antecipar ou precipitar o seu surgimento com o uso da maconha. Apesar de muitos pacientes com doença mental se auto-meditarem com maconha, é estabelecido que o uso da maconha aparece em 1° lugar.
Os usuários de maconha não abandonam suas ocupações, compromissos sociais e familiares, mas sentem-se muito estagnados e paralisados para prosseguir outro objetivo ou mesmo modificar algo que, nesta situação, os incomoda.
A maconha é a “porta de um iceberg” que vão desde
auto-estima, relacionamentos ao tipo de ocupação. Porém, o que acabamos por deduzir é que a grande sugestão dos pacientes é como conseguir prazer na vida sem usar a droga.
Como a maioria dos pacientes nunca havia feito qualquer tipo de trabalho terapêutico, seja para o uso da maconha ou para outros fins, notamos o quanto lhes é esclarecedor poder pensar em aspectos básicos do seu dia a dia de forma bastante objetiva e didática.

Informação
Várias correntes trabalham no oferecimento de informações para a população, o que poderíamos chamar de abordagem psico-educacional do problema. Através da informação, coloca-se a pessoa a par do que se passa com ela para que, com os fatos objetivos, ela possa vir a encontrar melhores formas de lidar com o problema. O objetivo da informação seria a conscientização, seguida da sensibilização da pessoa para o seu problema. as à cultura brasileira.

Referências:
1- Hall, W., Solowij, N. Adverse effects of Cannabis. The Lancet . 1998, 352
2- Hall, W. et al. The epidemiology of cannabis use and its consequences. In: Kallant, H. et al (Eds). The health effects of cannabis, pp. 1-17. Toronto, Addiction Research Foundation. 1999
3- Galduróz, JC. Et al (Eds). IV Levantamento sobre o uso de drogas entre estudantes de 1o e 2o graus em 10 capitais brasileiras, 1997
4- Galduróz, JC. Et al (Eds). I Levantamento Domiciliar Nacional sobre o uso de drogas psicotrópicas, 1999, Fapesp
5-Stempliuk,VA.Uso de drogas entre alunos da Universidade de São Paulo: 1996 versus 2001. Tese(doutorado)- Faculdade de Medicina da Universidade de Saõ Paulo. 2004.
6- Coffey, C et al. Initiation and progression of cannabis use in a population-based Australian adolescent longitudinal study. Addiction. 2000, 95 (11),1679-1690
7- Edwards, G. at al. Nomenclature and classification of drug and alcohol related problems: a WHO memorandum. Bulletin of the World Health Organization. 1981, 59, 225-242
8- Edwards, G. , Gross, MM. Alcohol dependence: Provisional description of a clinical syndrome. British medical journal, 1976, 1, 1058-1061
9- Stephens, RS. Cannabis and Hallucinogens in Addictions: a comprehensive guidebook, McCrady, BS and Epstein, EE, Oxford University Press, 1999
10- Anthony, JC et al. Comparative epidemiology of dependence on tobacco, alcohol, controlled substances and inhabitants: basic findings from the National comorbidity Study. Clin. Exp Psychopharmacol. 1994, 2: 244-268
11- Budney AJ, Hughes JR, Moore BA, Vandrey R. Review of the validity and significance of cannabis withdrawal syndrome. Am J Psychiatry. 2004 Nov;161(11):1967-77.
12- Hall, W. and Babor, T. Cannabis use and public health: assessing the burden- Editorial. Addiction (2000), 95 (4), 485-490
13- Solowij, N. Cannabis and cognitive functioning, Cambridge University press, 1998
14- Pope, H.G. et al. Neuropsychological Performance in Long-term Cannabis Users. Archives of General Psychiatry. 2001; 58: 909-915
15- Tashkin DP. IS frequent marijuana smoking harmful to health? Western J Med 1993;158: 635-37
16- Castle, D. e Murray, R. Cannabis and madness. Cambridge University Press, 2004
17- Kandel, D.B. Does marijuana use cause the use of other drugs? Editorial. JAMA, 2003; Janeiro 22/29, Vol. 289. No4
18- Fergusson, D. F. and Horwood, L.J. Does cannabis use encourage other forms of illicit drug use? Addiction. 2000, 95 (4), 505-520
19- Laranjeira, R., Jungerman, FS e Dunn, J. Drogas: maconha, cocaina e crack. Contexto, 1998
20- Miller, W.R. & Rollnick, S.- Motivational Interviewing: Preparing people to change addictive behavior. (The Guilford Press- New York, 1991)

Tratamento psicológico do uso da maconha