Aluna: Luzinete Pereira

A Terapia Comportamental Dialética é um programa desenvolvido por Linehan (1987), especificamente para o transtorno de personalidade borderline. Linehan (1993) introduz o treino de mindfulness no princípio do treino de habilidades sociais, uma das partes essenciais do programa.

Os componentes desta habilidade (mindfulness) são: (1) Observar: estar atento a eventos, a emoções e a diversos aspectos do próprio comportamento. Esta habilidade pretende que o participante aprenda a detectar e reconhecer estes eventos e a não usar estratégias de esquiva ou controle das emoções. Ele observa os conteúdos como sendo distintos de si mesmo. Com isto, sentimentos e pensamentos aversivos deixam de ser ameaçadores. (2) Descrever: refere-se ao relato verbal dos eventos e das próprias reações a eles. Aqui a escolha de uma linguagem que seja realmente descritiva, e não avaliativa ou explicativa, é importante. (3) Participar plenamente sem promover atividades paralelas como racionalizar ou justificar. As qualidades que definem estas habilidades na prática são: (1) Não julgar, isto é: não avaliar, categorizar, descartar ou desqualificar. (2) Estar atento, de forma integral, a somente uma coisa de cada vez. (3) Agir de forma efetiva, em total acordo com seus valores e alvos de vida.

Os exercícios no grupo são muito variados e incluem estar intencionalmente atento às sensações corporais, como por exemplo, as sensações de sentar numa cadeira, de colocar a mão numa superfície, e exercícios focando a observação dos próprios pensamentos e sentimentos, aprendendo que devem ser reconhecidos como simplesmente pensamentos e sentimentos e nada mais.

Linehan (1993) faz distinção entre três modos de funcionar: mente emocional; mente racional; e mente sábia. A mente emocional refere-se ao modo de ação impulsiva, dirigida pelo que sentimos. É genuína e intuitiva, mas instável e imprevisível. A mente racional seria o modo de funcionar sob controle do pensamento lógico. Garante a racionalidade, mas tem a desvantagem de ser frio, calculista e alienado. A mente sábia refere-se à sabedoria profunda que a pessoa tem, o que sente estar certo. É altamente intuitiva, mas direcionada pelos valores profundos da pessoa e a visão ampla que constrói de sua existência.

A diferença entre a mente racional e as outras duas mentes é que estas estão relacionadas ao sentir, e não ao pensar. O que parece ser verdadeiro ou certo enquanto o calor da emoção está no seu auge se refere à mente emocional. Se a pessoa espera e deixa esse calor passar, e ainda sente que aquilo é verdadeiro, pode se tratar da mente sábia. A mente emocional pode ser reconhecida pela intensidade da emoção, enquanto que a mente sábia é marcada pela continuidade. A pessoa encontra-se neste modo de funcionar quando suas emoções e sua razão estão em sintonia, facilitando ação sábia, mesmo quando sua vida ou as circunstâncias estão realmente difíceis. Neste modo, a pessoa pode abraçar cada momento como é e não como gostaria (ou temeria) que fosse. Isto não só permite que a pessoa participe mais plenamente de momentos felizes da vida e entenda com mais clareza os seus problemas, mas também que não crie desnecessariamente mais sofrimento para si mesma e atue com mais agilidade quando for necessário.

Enquanto o transtorno de personalidade borderline é marcado por variações de humor bruscas, por mudanças radicais entre idealização e desvalorização de outros nos relacionamentos íntimos e significativos e por padrões de relacionamento interpessoal caótico, como também por instabilidade e fragmentação da percepção de si, na filosofia dialética de Linehan (1993) conceitos como ‘bom’, ‘mau’, ou ‘inadequado’ são comparáveis a fotografias instantâneas que representam momentos arbitrariamente escolhidos de um processo dinâmico que não se deixa categorizar em termos tão unipolares. Para a pessoa com este transtorno, mindfulness é uma habilidade útil para o enfrentamento de emoções e desejos extremos e contraditórios. Representa a construção do meio termo, sem precisar abrir mão de sentimentos contraditórios, mas genuínos, sem abrir mão das posições fortes, e sem tentar controlar ou reprimir sentimentos intensos. O objetivo é praticar e vivenciar a mente sábia.

Tendo acesso à mente sábia, a pessoa é capaz de acolher conteúdos aversivos ao invés de fugir ou esquivar-se deles. Com a diminuição da esquiva vivencial, sentimentos e pensamentos aversivos se tornam mais toleráveis. Assim, cria-se uma relação mais amistosa com conteúdos negativos e aumenta-se a capacidade de entrar em contato plenamente com os sentimentos. Com esta habilidade, pode-se aprender a entender quando, como e em que circunstâncias terá emoções e pensamentos negativos. Uma vez que detecta os determinantes das suas próprias reações, é possível agir sobre as causas. E com esta habilidade refinada, a pessoa pode se conhecer melhor, bem como suas tendências e vieses. Conhecendo-se melhor, será capaz de lidar melhor consigo mesma e se respeitar mais. Trata-se da forma de viver que a terapia comportamental dialética promove (Linehan, 1993).

Fonte:pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-56872006000100004

Referências Bibliográficas:

Linehan, M. M. (1993). Cognitive-behavioral treatment of borderline personality disorder. New York: Guilford.

Revista Brasileira de Terapias Cognitivas
versão On-line ISSN 1982-3746

O uso de mindfulness na terapia comportamental dialética