Aluno: Fábio Lacet

A elaboração dos padrões de consumo de álcool é feita com base em aspectos médicos e psicossociais, e tem como um de seus objetivos auxiliar o público geral na compreensão do tema sobre uso de álcool, considerando seus potenciais efeitos nocivos para o indivíduo e para a sociedade. Assim, a criação de tais padrões torna-se uma prática de grande importância ao estabelecer diretrizes que possibilitam uma maior predição dessas consequências.

Na literatura científica existem diversas terminologias para definir os padrões de consumo de álcool. No Brasil, geralmente utilizam-se as definições adotadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Contudo, existem outras instituições de referência renomadas internacionalmente, como o National Institute on Alcohol Abuse and Alcoholism (NIAAA).

Seguem abaixo as principais definições atualizadas de acordo com essas instituições:

1.Organização Mundial da Saúde (OMS)1

a) Consumo moderado

Um termo impreciso para um padrão de beber que implicitamente se contrapõe ao beber intenso. Significa beber quantidades moderadas e que não causam problemas.

De acordo com o documento intitulado “Self-help strategies for cutting down or stopping substance use: a guide (2010)”2, da OMS, não existe um nível seguro para o consumo de álcool. Se a pessoa bebe, há risco de problemas de saúde e outros, especialmente se:

•Bebe mais de 2 doses* por dia;
•Não deixa de beber pelo menos dois dias na semana.

A OMS ainda recomenda que o consumo de bebidas alcoólicas não deve ser feito se a pessoa:

•Estiver grávida ou amamentando;
•For dirigir, operar máquinas ou realizar outras atividades que envolvam riscos;
•Apresentar problemas de saúde que podem ser agravados pelo álcool;
•Fizer uso de medicamento que interage diretamente com o álcool;
•Não conseguir controlar o seu consumo.

b) Beber social

Frequentemente, este termo é usado de maneira imprecisa para indicar um padrão distinto do beber problemático. Geralmente refere-se ao uso de bebidas alcoólicas de acordo com os costumes sociais, fundamentalmente na companhia de outras pessoas e somente por razões e de maneira socialmente aceitáveis. O beber social não equivale necessariamente ao beber moderado.

c) Beber intenso (em inglês: heavy drinking)

Padrão de beber que excede as normas do beber moderado ou – mais imprecisamente – do beber social. O beber intenso é frequentemente definido em termos de exceder certo volume diário (por exemplo, 3 doses por dia) ou determinadas quantidades por vez (por exemplo, 5 doses por ocasião, pelo menos uma vez por semana).

d) Beber problemático (em inglês: problem drinking)

Ato de beber que causa problemas, individuais ou coletivos, de saúde ou sociais. Antigamente incluía o beber em resposta a problemas da vida. O termo tem sido usado desde meados de 1960 num sentido mais geral, que evita um compromisso ou uma associação com o conceito de doença alcoólica.

Algumas vezes, o beber problemático é associado ao conceito de alcoolismo, como um estágio precoce ou menos grave. Um bebedor problemático é uma pessoa cuja forma de beber resultou em problemas de saúde ou sociais.

e) Consumo compulsivo periódico de bebida (em inglês: binge drinking)

Um padrão de ingestão intensa durante um período prolongado, escolhido de maneira propositada. Em inquéritos populacionais, o período usualmente é definido como mais que um dia em cada ocasião. As expressões “porre” e “pileque” são também utilizadas para descrever esta atividade. Os bebedores deste padrão em geral intercalam esses períodos com períodos de abstinência.

f) Beber pesado episódico (em inglês: heavy episodic drinking)3

Padrão definido como consumo de 60 ou mais gramas (cerca de 5-6 doses) de álcool puro em uma única ocasião, ao menos uma vez por mês.

Considerar o volume de álcool consumido em uma única ocasião é importante por estar relacionado a diversas consequências prejudiciais como intoxicação, lesões e violência. O consumo pesado episódico é associado a estas consequências mesmo que a média de consumo de álcool de um indivíduo seja relativamente baixa.

2.National Institute on Alcohol Abuse and Alcoholism (NIAAA)4

a) Consumo moderado

Este padrão de consumo é distinto para homens e mulheres, devido às diferenças biológicas em termos de metabolismo do álcool e quantidade de água no organismo:

•Homens: não mais que 4 doses** em um único dia e não mais que 14 doses por semana.
•Mulheres: não mais que 3 doses em um único dia e não mais que 7 doses por semana.

Mesmo dentro desses limites, é possível que tenha problemas caso beba muito rápido ou se tiver outros problemas de saúde. Por isso, para diminuir eventuais riscos, sugere-se que beba devagar e alimente-se adequadamente durante o consumo de álcool. Ademais, algumas pessoas devem evitar completamente o uso de álcool, incluindo aquelas que:

•Planejam conduzir veículo ou operar máquinas;
•Tomam medicamentos que interagem com o álcool;
•Tenham condição médica que possa agravar com o álcool;
•Estão grávidas ou tentando engravidar.

b) Beber pesado episódico (em inglês: Binge drinking)

Compreende o consumo de grandes quantidades de álcool em curto espaço de tempo (aproximadamente 2 horas), atingindo altos níveis de concentração alcoólica no sangue (em torno de 0,08g/dl). Para mulheres geralmente ocorre após 4 doses, e para homens após aproximadamente 5. Beber desta maneira pode acarretar sérios riscos à saúde e à segurança, incluindo acidentes de carro e ferimentos. A longo prazo, pode causar danos ao fígado e outros órgãos.

c) Uso pesado
Para adultos saudáveis em geral, o consumo pesado significa consumir mais do que a dose diária (4 doses para homens e 3 para mulheres) ou semanal indicadas como moderadas (14 doses para homens e 7 para mulheres).

Vale destacar ainda o conceito de “Binge drinking” descrito pelo Journal of Studies on Alcohol and Drugs (JSAD)5:

Deve ser usado para descrever um longo período de tempo (geralmente dois ou mais dias) no qual o indivíduo consuma álcool repetidamente, a ponto de intoxicar-se, e abandona ou negligencia suas atividades habituais e obrigações para usar a substância. É a combinação do uso prolongado com o abandono de atividades habituais que forma o núcleo da definição.

Referência(s):
1. Glossário de álcool e drogas. Tradução e notas: J. M. Bertolote. Brasília: Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas, 2010.

2. OMS, 2010. Self-help strategies for cutting down or stopping substance use: a guide. Genebra: OMS.

3. OMS, 2014. Global status report on alcohol and health.

4. NIAAA. Moderate & Binge Drinking.

5. Journal of Studies on Alcohol and Drugs. Guidance for authors on the policy of the Journal of Studies on Alcohol and Drugs regarding the appropriate use of the term “binge”.

Fonte: http://cisa.org.br/artigo/4405/padroes-consumo-alcool.php

Padrões de Consumo do Álcool