ADRIANA BATISTA DA COSTA ARAUJO OLIVEIRA
Resumo
O objetivo deste artigo é apresentar a importância do grupo de autoajuda Neuróticos Anônimos (N.A.) na intervenção dos sofrimentos desses indivíduos, visto que há a possibilidade das pessoas que são acometidos por esses padecimentos desenvolverem alguma dependência química. Desta forma, contribuem para uma nova reestruturação do seu self, com uma nova perspectiva de vida, conscientizando este sujeito que possui uma patologia (neurose), para que o mesmo compreenda a sua impotência nos seus atos comportamentais, nas suas emoções, com fatores que são determinantes agindo com impulsividade. Esta pesquisa foi realizada através de revisão bibliográfica.
Palavras chave: Sofrimento, Neurose, Impulsividade. Introdução
Em 03 de fevereiro de 1964 nasce o grupo Neuróticos Anônimos nos Estados Unidos, no momento em que o membro Grover Boydston, neurótico e alcoólatra restaurado pelo grupo alcoólicos anônimos, percebeu que poderia se adequar o planejamento do A.A. (Alcoólicos Anônimos) para o grupo de pessoas que não são alcoólicas mas sofrem de transtornos emocionais. No Brasil, surgiu com suas práticas em abril de 1969 em São Paulo, possuindo um crescimento significativo nos últimos anos com 459 grupos espalhado pelo País. Devido a todo esse progresso, emergem alguns questionamentos: como é realizado o encontro de um grupo de Neuróticos Anônimos? Quem são esses indivíduos que buscam ajuda em algo totalmente desconhecido, solicitando a preservação da sua identidade? De acordo com os estudos realizados sobre o N.A., neurótico é, na visão do grupo, qualquer indivíduo em que suas emoções intervêm em seu comportamento, de qualquer forma e em qualquer grau, a partir do momento que ela tenha esse reconhecimento. Na medicina a palavra neurose foi elaborada pelo médico psiquiatra escocês William Cullen, no ano 1769. Foi atribuída a praticamente qualquer implicação generalizada do sistema nervoso com sintomatologia sensitiva ou motora. Porém, na visão da psicanálise, a neurose é fenômeno ocasionado por um transtorno psíquico, envolvendo a frustração de um impulso através do instinto, sendo relacionada o inconsciente com nossas experiências, vivencias, traumas, recalque e libido. Sigmund Freud afirma que em alguns casos as neuroses atuais são consequências de uma utilização anormal da libido: […] os sintomas das neuroses “atuais” – pressão intracraniana, sensações de dor, estado de irritação em um órgão, enfraquecimento ou inibição de uma função – não têm nenhum “sentido”, nenhum significado psíquico. Não só se manifestam predominantemente no corpo (como, por exemplo, os sintomas histéricos entre outros), como também constituem eles próprios processos inteiramente somáticos, em cuja origem estão ausentes todos os complicados mecanismos mentais que já conhecemos […] se, nos sintomas das psiconeuroses, nos familiarizamos com as manifestações de distúrbios na atuação psíquica da função sexual, não nos surpreenderemos ao encontrar nas neuroses “atuais” as consequências somáticas diretas desses distúrbios sexuais (Freud, 1917/1969: 452.
Dentro deste contexto, foram pontuados alguns olhares sobre a neurose e, devido toda essa evolução significativa dos grupos de auto ajuda N.A, a finalidade desta pesquisa é conceituar a relevância deste trabalho que é realizado sem fins lucrativos, com muita responsabilidade, performando várias transformações neste sujeito que está adoecido com suas neuroses. Desta forma o grupo de auto ajuda também obtém grandes mudanças no contexto familiar e na sociedade.
Desenvolvimento
Os Neuróticos Anônimos é uma Irmandade constituída por ambos os sexos, que comparticipa suas vivencias, perseveranças e perspectivas para solucionar suas perturbações emocionais e assim se recuperarem desse problema psíquico e sentimental. Para participar do N.A. é necessário se qualificar como uma neurótica e se conscientizar a necessidade de sua recuperação. Devido a doença, essas pessoas podem padecer de depressão, solidão, medo, insônia, angústia, ressentimentos, ansiedade, síndrome do pânico, nervosismo, tendências suicidas ou homicidas, remorsos, doenças psicossomáticas entre outras. Todos esses sofrimentos causam uma interferência em suas relações, suas vidas, e através do N.A., conseguiram suprir esses padecimentos. Para se tornar um componente na irmandade também é necessário ter compreensão em ouvir a fala do outro sem julgamentos sobre suas religiosidades, opções sexuais, etnia, classe econômica entre outros. Os frequentadores do N.A. são empresários, professores, médicos,
juízes, advogados, donas de casa, pais, mães e filhos e etc … e para se tornar um membro é fundamental respeitar uns aos outros.
O Trabalho realizado para a Recuperação do Neurótico.
Este trabalho é desenvolvido com reuniões semanais entre ambos sexos, em locais comunitários, como igrejas. São compostas com mesa para o coordenador, cadeiras para os membros e uma cadeira titulada como a” cadeira da verdade”, em que dentro da dinâmica da reunião há momentos que ocorrem os depoimentos em que o participante apodera-se desta cadeira. Existem reuniões abertas e fechadas. Das reuniões abertas participam os que se consideram neuróticos e se propõem ao tratamento, aos que não se identificam com essa patologia e aos que frequentam para terem conhecimento sobre o trabalho que é realizado. As reuniões fechadas são frequentadas pelos membros que se conscientizam que possui a patologia e que não tem domínio sobre a mesma e desejam tratamento. Realizam-se também reuniões com o intuito de estudo, em que os participantes tentam entender de maneira mais eficiente o trabalho que é executado neste grupo que estão incluídos em que se falam sobre suas vivencias, expondo suas opiniões sobre a temática sugerida. A filosofia aplicada é as programações dos Doze Passos e Doze Tradições, que propõem permanecer essa irmandade unificada e leal com seu objetivo principal conduzindo com harmonia suas propostas. Os Dozes Passos estão compostos por elementos fundamentais em que são analisados para execução do trabalho de restauração, conscientizando a patologia, apresentado métodos eficientes para combater a impulsividade. Neste processo dos dozes passos concede-se a espiritualidade e afirma que há um poder superior que contribui para o equilibro dessa patologia. As Dozes Tradições contêm o ideário, as razões principais das irmandades. Observamos que há pesquisas que apontam que pessoas que sofrem de depressão, ansiedade, inseguranças, angustias e outros são fatores que podem fundamental na influência pra se consumir drogas e se transformar em um dependente. E através das suas propostas o grupo de auto ajuda consegue intervir na prevenção com essas pessoas que devido as suas mazelas há uma probabilidade de se tornar um usuário de drogas licitas ou ilícitas e dependendo do seu fator genético um dependente químico.
Para a recuperação dos neuróticos anônimos no N.A., também são sugeridos os 7 Lemas e suas literaturas. Mas encontram-se sujeitos que mesmo estando em sofrimentos não alcançam a sua restauração, não conseguem assimilar as propostas que são expostas, podemos observar de acordo com que esclarece essa frase do N.A.:
“O N.A. é para todos: mas nem todos são para o N.A.”
O caminhar para a restruturação com a reflexão.
A literatura “As leis da doença mental e emocional “, que é recomenda para os membros do N.A., a doença mental e emocional é definida em oito leis (1996/1969, p.1) como: 1) uma única doença, uma coisa só; 2) doença espiritual; 3) sempre a mesma em todas as pessoas, variando apenas nos detalhes superficiais; 4) caracterizada por sintomas penosos, não sendo sempre os mesmos, porém, os que se manifestam; 5) progressiva, se não for tratada; 6) de tratamento imediatamente aplicável; 7) causada pelo egoísmo inato, que impede a aquisição da capacidade de amar; 8) curada pela eliminação do egoísmo e aquisição da capacidade de amar.
A literatura que foi citada acima e vários artigos do N.A. relatam que a neurose pode ser considerada doença espiritual quando não ocorre a confirmação dos especialistas da área de medicina de problemas físicos ou mentais. E se a doença for espiritual, consegue ser tratada com ajuda espiritual, por meio da crença no Poder Superior. O grupo chama esse Poder Superior de Deus, mas com a ressalva: “(…) segundo a concepção de cada um” (1996/1966, p.13-14-15). Podemos observar na citação abaixo: “Para a pessoa doente é unicamente necessário que ela creia nesse Poder, que poderá conceber como queira (…) É preciso apenas (…) que admita (…) a existência de Algo superior a si mesma. Essa crença irá ajudá-la a eliminar o egocentrismo (tão acentuado nos doentes emocionais) (…) é
dessa forma que podemos sair de nós mesmos (, 1996/1966, p. 15-16)”
O N.A. declara que não é uma irmandade religiosa e sim incentiva e conscientiza a existência espiritual. O médico psiquiatra doutor Jorge Jaber confirma a importância da espiritualidade com o propósito de uma mudança para uma vida saudável, em que declara no texto a seguir: “Utilizar a medicação não é suficiente”, afirma. “É importante que a pessoa faça exercício, se envolva com atividades de ordem espiritual, ou ligadas à arte, que inclusive se tornaram mais acessíveis aos idosos. Somos o resultado de genética e meio ambiente. Não só isso vai alterar a resposta genética, como terá grande influência no sentido de criar um novo estilo de vida”.
Devido ao padecimento da neurose o “Eu”, a estrutura desse indivíduo está fragmentada, enfraquecida, com comportamentos obsessivos entre outros, com as experiências vividas ocorrem cicatrizes nesta extensa existência, desta forma acontecem ausências de afetos. Assim sendo o grupo de auto ajuda afirma que o amor é um grande aliado para a reconstrução do self desse sujeito, em que o grupo o acolhe, oferecendo amor que é solidificado com solidariedade e, consequentemente, o sujeito aprende a amar. Sendo assim, para que esta recuperação tenha êxito em todos objetivos desejados é essencial que o participante inicie verdadeiramente com o primeiro passo e segundo passo, já que todos os outros passos necessitam do resultado destes dois primeiros. É imprescindível que a pessoa aceite o primeiro passo, assumindo a sua ineficácia diante a sua patologia e entendendo que tem o fracasso para comandar a sua própria vida e aceitar que para que tenha a sua sanidade normalizada, admitir que só consegue através de um Poder Superior. Dentro do contexto da pesquisa é observada a afirmação que a explicação pelos transtornos emocionais é o egoísmo, que está presente no ser humano e que o impossibilita de desenvolver o sentimento de amar, deste modo, surge o adoecimento com sentimentos e sofrimentos que são depressão, solidão, medo, insônia, angústia, ganância , impaciência, ressentimentos, inveja, sentimento de culpa, remorso, insatisfação, ansiedade, síndrome do pânico, nervosismo, indiferença , tendências suicidas ou homicidas, remorsos, doenças psicossomáticas entre outras. É o que afirma a obra As Leis da Doença Mental e Emocional:
“Não resta a menor dúvida de que o egoísmo e a resultante incapacidade de amar causam todas essas, coisas. (…) A pessoa doente (egoísta) passa então a isolar-se e acaba fica extremamente retraída, solitária, medrosa, totalmente desaminada, fracassada, frustrada, síndrome da criança espancada(…)”, (2001/1966, p.5/42).
E assim, o propósito do trabalho é fazer com que os sujeitos que estão com estes sentimentos e sofrimentos realizem uma transformação para qualidades como benevolência, compreensão, paciência, honestidade, compaixão, reconhecimento, admiração, alegria de viver, amizade, humildade, generosidade, felicidade, otimismo, ausência de sofrimento emocional, cordialidade, abandono da autocondenação entre outros. De acordo com o N.A., mesmo o trabalho sendo realizado em grupo, a reabilitação dos membros é individual, e que a programação os Dozes Passos têm essa responsabilidade e a execução do desempenho satisfatório das atribuições no grupo fica na incumbência das Doze Tradições. Nas reuniões realizadas acontecem a “Terapia do Espelho” que exercita a assimilação e análise da sua própria pessoa, que ocorrem no momento em o participante está com a palavra e fala sobre suas experiências. Assim, o outro se reconhece nestas vivencias e se sensibiliza com o sofrimento do outro e, em consequência, analisa a sua vida através dos depoimentos dos participantes. Diante disto compreende que outras pessoas estão sofrendo dos mesmos transtornos e desta maneira se torna mais resistente para essa caminhada. Os membros do N.A. têm a obrigação de manter sobre confidência a identidade e o que aconteça nas reuniões, e com consciência que é necessário manter o equilibro emocional todos os dias, essas informações podem ser confirmadas em cartazes que estão no N.A. que serão expostas a seguir:
“Quem você viu aqui, o que você ouviu aqui, quando sair, deixe que fique aqui” “Só por hoje evitarei o descontrole emocional”
Considerações finais
De acordo com estudo, foi constatado que o trabalho realizado no programa de recuperação dos Neuróticos Anônimos é eficiente, mas é necessário que o sujeito tenha consciência e humildade para aceitar que possui uma patologia, a “neurose”, que não possui o domínio sobre sua vida e só consegue essa transformação acreditando na existência de um Poder Superior. Foi observado que é através do egoísmo no ser humano que ocorrem todas essas anomalias e, devido ao mesmo, há um impedimento para que consiga nutrir o sentimento de amar. Quando acontece o acolhimento, este cidadão é resgatado e percebe a importância da solidariedade, amor, respeito ao próximo entre outros. Desta forma este sujeito que estava com várias fragmentações no seu psíquico, familiar e social, se reorganiza, mas com a consciência que é fundamental este controle emocional diariamente. A aplicação do programa de recuperação determina uma modificação fundamental neste indivíduo em que precisa ter fé, reconhecendo a existência de um poder superior e obtendo a espiritualidade, desse modo consegue realizar sua própria autoanalise reconhecendo as suas falhas. E através desta pesquisa se confirma toda a relevância que o grupo de auto ajuda, neuróticos anônimos, tem sobre a evolução positiva na vida desses indivíduos intervindo e prevenindo também com progressos em suas famílias e na sociedade.
Referências
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