Mariana Rodrigues1
RESUMO
O artigo analisa a doença do alcoolismo e suas consequências na vida daqueles que estão adoecidos e de seus familiares. O alcoolismo é uma doença crônica, que não tem cura e que necessita de um tratamento qualificado e manutenção na prevenção de recaídas. A literatura utilizada apresenta a doença e por sua vez o que ela provoca, como patologias clínicas, violências doméstica, sexual e problemas na saúde mental em geral. Observou-se também o início precoce do álcool na adolescência cada vez mais recorrente.
Palavras-chave: alcoolismo, dependência química e saúde mental.
Introdução
O alcoolismo, compreendido cientificamente como síndrome de dependência de álcool (SDA) é sem dúvida um grave problema de saúde pública, sendo um dos transtornos mentais mais prevalentes na sociedade. É uma patologia de caráter crônico, passível de muitas recaídas e responsável por inúmeros prejuízos clínicos, sociais, trabalhistas, familiares e econômicos. Ademais, é com frequência associada a situações de violência (sexual, doméstica, suicídio, assalto, homicídio), acidentes de trânsito e traumas.
Existem duas dimensões distintas entre dependência de álcool e problemas relacionados ao consumo dessa substância. De um lado está a psicopatologia do beber (a dependência propriamente dita, com todos os seus sinais e sintomas, incluindo as alterações neuroadaptativas); do outro, uma dimensão que enfoca os problemas que decorrem do uso da dependência de álcool (absenteísmo por “ressaca”, dirigir intoxicado, brigas domésticas).
Atualmente, o uso do álcool tem se iniciado por indivíduos cada vez mais jovens e se associado ao uso de outras drogas como maconha, cocaína e sintéticos (ecstasy e LSD). A doença é uma questão de saúde pública que tem consequências para toda a sociedade e que por sua vez possui enorme dificuldade de enfrentamento por ser uma droga legalizada no Brasil.
- Aluna do Curso de Formação de Terapeutas em Dependência Química realizado na Clínica Jorge Jaber.
O início do uso do álcool
A experimentação é o primeiro contato que o indivíduo tem com substâncias psicoativas, e isso geralmente ocorre em festas, baladas ou em ocasiões oportunas. A experimentação pode ser o início de outras fases, podendo desencadear o uso eventual ou recreativo, ou mesmo chegar ao abuso e à dependência. Nem sempre essas fases são percorridas de forma linear por todas as pessoas que experimentaram substâncias psicoativas, mas, via de regra, dependendo da substância e das predisposições individuais, este é um ponto de partida ao uso descontrolado. Por outro lado, nem todos os sujeitos que experimentaram desenvolveram as fases subsequentes, permanecendo na experimentação.
A inicialização precoce do uso de drogas na adolescência, muitas vezes facilitada pelo acesso às substâncias, pela permissividade de algumas famílias e pela sociabilidade própria dessa fase da vida, vai de encontro às determinações do Estatuto da Criança e do Adolescente, que proíbe o uso até a maioridade. Entretanto, podemos observar que a fase da adolescência caracterizada por ser uma fase onde os indivíduos têm atitudes mais rebeldes em relação as leis sociais e familiares o uso do álcool e outras drogas se apresenta como algo divertido e desafiador.
O uso experimental de substâncias pode desencadear um consumo mais abusivo e, inclusive, chegar à dependência. Neste aspecto, já está comprovado que, na adolescência, o consumo de álcool e outras drogas pode ter efeitos nefastos ao cérebro humano, uma vez que este se encontra em processo de desenvolvimento. Portanto, o uso contínuo de substâncias nesta fase pode-se traduzir em deficit cognitivo, diminuição da motivação, dificuldade de relacionamento social, prejuízo da memória e da atenção, cuja dimensão é incalculável para a vida do indivíduo.
A juventude e o alcoolismo
A adolescência compreende uma fase de intensas transformações e descobertas que afetam os aspectos físicos, hormonais, cognitivos, sociais, culturais e emocionais. Uma fase turbulenta, conflituosa e conturbada, que corresponde ao período de construção da identidade, que sofre influência da cultura e sociedade em que o mesmo está inserido. O período da adolescência é marcado por diversos fatores, mas, sem dúvida, o mais importante é a tomada de consciência de um novo espaço no mundo, a entrada em uma nova realidade que produz confusão de conceitos e perda de certas referências.
O grande conflito a ser solucionado na adolescência é a chamada crise de identidade. É exatamente essa crise e consequente confusão de identidade que fará com
que o adolescente parta em busca de identificações, buscando encontrar outros iguais no mundo dos diferentes e formando seus grupos. A necessidade de dividir suas angústias e padronizar suas atitudes e ideias faz do grupo um lugar privilegiado, pois nele há uma uniformidade de comportamentos, pensamentos e hábitos.
Nesse período é comum a busca por novas experiências, curiosidade por novas sensações. É nesse contexto que se inserem grandes preocupações associadas a essa fase da vida, que são os riscos relacionados ao consumo de álcool e outras drogas. Dentre todas as drogas, estudos apontam o álcool como a mais utilizada no mundo inteiro. No Brasil, esse hábito está inserido na cultura e não é só aceito, mas, frequentemente, reforçado.
Segundo estudos realizados pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID), da Universidade Federal de São Paulo, o quadro é preocupante, com uma tendência mundial à iniciação cada vez mais precoce e de forma mais pesada, no uso abusivo de substâncias psicoativas. Sendo assim, os adolescentes estão cada vez mais cedo experimentando e usando, regularmente, bebidas alcoólicas. Quanto mais precoce o início do consumo de bebidas alcoólicas, maiores são as chances de danos cerebrais e problemas relacionados ao beber. É evidente a facilidade encontrada pelos adolescentes em comprar bebidas alcoólicas.
A cerveja é a principal bebida consumida e, a diversão, companhia de amigos e a fuga da realidade são as principais finalidades para o consumo. A facilidade de acesso incentiva a prática da ingestão do álcool.
O uso nocivo do álcool
As alterações de comportamento decorrentes da intoxicação alcoólica aguda incluem exposição moral, comportamento sexual de risco, agressividade, labilidade de humor, diminuição do julgamento crítico, funcionamento social e ocupacional prejudicados. Mais especificamente, a intoxicação pode provocar alterações variáveis no afeto (excitação, alegria, irritabilidade), na fala (fala pastosa ou arrastada), no comportamento (impulsividade, agressividade, diminuição do desempenho motor e ataxia) e no pensamento (pensamento lento, redução da capacidade de raciocínio e juízo crítico), além de hálito etílico, conjuntivas hiperemiadas e marcha ébria. Há também um aumento da suscetibilidade a acidentes de trânsito, violência, ideação suicida e tentativa de suicídio.
O beber está fortemente associado a ideação suicida, e, em mulheres, isso pode ocorrer até mesmo com o beber ocasional. Segundo Cherpitel e colaboradores, em uma
revisão da literatura sobre o uso agudo de álcool e o comportamento suicida, observaram uma gama extensiva de casos álcool positivos tanto para o suicídio (10 a 69%) como para tentativas de suicídio (10 a 73%).
O uso nocivo de álcool pode ser diagnosticado como um padrão de beber disfuncional ou mal adaptativo capaz de interferir na vida do indivíduo, provocando:
- problemas interpessoais;
- problemas legais;
- problemas psicológicos;
- problemas clínicos associados ao padrão de consumo, em um período igual ou superior a um ano, mas que, no entanto, não satisfaçam critérios para dependência de álcool.
O beber em binge tem sido associado a um padrão típico de adultos jovens e adolescentes. Internacionalmente, esse fenômeno vem recebendo atenção por meio de campanhas que alertam sobre os perigos relacionados a esse tipo de consumo. Na Inglaterra, por exemplo, diversos meios de comunicação alertam sobre homicídios, assalto, violência doméstica, agressões físicas e violência sexuais relacionadas ao beber.
Consequências do uso nocivo
O uso abusivo e a dependência em álcool acarreta em diversos problemas, tais como as deficiências cognitivas ou síndromes demenciais associadas. Estas caracterizam-se por prejuízo da memória recente, com tendência a confabulações (preenchimento de lacunas de memória) e sem alteração do nível de consciência. O álcool pode provocar lesões difusas no cérebro, prejudicando, além da memória, a capacidade de julgamento, de abstração e o comportamento.
As características clínicas de comprometimento cerebral associado ao uso de álcool variam de perdas cognitivas leves, detectadas somente em testes neuropsicológicos, até danos graves que produzem demência. Em geral, o comprometimento cerebral global é mais comum do que as lesões localizadas, como no caso da síndrome de Wernicke-Korsakoff (síndrome de amnésia crônica). As alterações psicológicas e radiológicas são parcialmente reversíveis após meses de abstinência. Mesmo os pacientes com demência estabelecida podem ter melhora cognitiva durante a abstinência. Nos pacientes dependentes com quadro de demência, os principais achados neuropsicológicos são prejuízo de leve a moderado na memória de curto e longo prazo, na aprendizagem, na organização e na abstração visuoespacial, além de dificuldade na
manutenção da tendência cognitiva e no controle dos impulsos. A abstinência pode causar melhorias, entretanto, algumas perdas cognitivas podem persistir por pelo menos 5 anos.
Considerações Finais
O uso recreativo do álcool pode levar ao uso abusivo que por sua vez pode causar dependência para aqueles que tem tendências genéticas. O consumo recorrente de álcool causa sérios problemas físicos como a cirrose e etc. Em razão do álcool ser uma droga legalizada em nosso país o acesso é facilitado, e muitos jovens começam a beber antes dos 18 anos.
Muitos jovens associam álcool a diversão, só conseguem se divertir ao ingerir álcool, cada vez mais jovens e doses mais fortes. O álcool causa desinibição social, o que faz com que jovens mais tímidos busquem o uso, para socializar entre amigos com mais facilidade.
Nesse sentido, reforça-se a necessidade de investimento em educação em saúde junto aos adolescentes, especialmente, sobre os riscos do uso/abuso de bebidas alcoólicas, visto que eles estão em uma fase de grandes mudanças físicas, psicológicas e sociais. Portanto, investir em estratégias de educação em saúde, nessa faixa etária pode minimizar, consideravelmente, os danos causados pelo uso de álcool.
A educação em saúde direcionada ao adolescente tem como objetivo estimular o desenvolvimento de hábitos saudáveis de vida. Desse modo, a partir da conversação e discussão do tema é possível que eles exponham suas dúvidas e saberes para que o diálogo se faça e encaminhe-se para comportamentos e práticas que visem à redução de danos a saúde dos adolescentes.
A prevenção ao uso de álcool e outras drogas começa nos primeiros anos de vida e tem consequências positivas, repercutindo em adultos mais conscientes e saudáveis. O alcoolismo é uma questão de saúde pública, que deve ser enfrentada por toda a sociedade. É uma doença que pode levar a morte e que destrói famílias todos os dias. É fundamental os profissionais de saúde estarem comprometidos com o tratamento e com a diminuição das consequências nocivas da doença.
Referências Bibliográficas
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