Aluna: Adair coelho

A maioria dos usuários de crack apresenta critérios positivos para dependência ao longo de sua carreira de consumo. O intervalo entre o início do consumo de crack e a ocorrência de problemas relacionados era mais curto em relação ao usuário de cocaína intranasal. Quando comparado ao usuário de cocaína intranasal, o usuário de crack se expõe mais ao risco de dependência porque utiliza a droga com mais frequência, em maior quantidade e tem mais sensibilidade aos efeitos da substância. Os usuários de crack iniciantes parecem possuir um risco duas vezes maior de dependência que usuários de cocaína inalada,
independentemente de gênero, etnia, associação a álcool
ou tempo de consumo. O risco de dependência é mais “explosivo” com o uso da cocaína, em comparação ao da maconha e do álcool.

Quais são os fatores de risco para o início do consumo e para o desenvolvimento da dependência do crack?

Fatores de risco são situações ou comportamentos que aumentam a possibilidade de resultados negativos para a saúde, para o bem-estar e o desempenho social. Os fatores de proteção são todos aqueles capazes de promover um crescimento saudável e evitar riscos de dependência e de
acirramento de problemas sociais.
Um estudo de seguimento entre usuários de drogas injetáveis observou que quase metade dos participantes já consume crack há nove anos e que o uso pregresso de cocaína injetável, a maior disponibilidade da droga e a troca do sexo por droga estiveram diretamente relacionados com o aumento do risco de início do uso.
Outro estudo, realizado entre jovens em situação de rua, portadores de HIV e/ou hepatite C, observou que o poliuso de
substâncias aumentava o risco de se iniciar no crack.

A família é uma das principais áreas capazes de influenciar a vulnerabilidade do indivíduo para iniciar e atingir padrões problemáticos de consumo tanto de forma direta – por transmissão genética ou pela exposição ao
consumo dentro do ambiente familiar quanto indireta, por meio da violência, abuso e estresse continuados muitas vezes decorrentes de estruturas familiares caóticas ou demasiado rígidas, carentes de comunicação entre os seus membros e dotadas de relações de apego marcadas pela insegurança e/ou abandono. Por outro lado os relacionamentos positivos com o ambiente familiar são sempre protetores e estruturantes reduzindo a vulnerabilidade dos indivíduos para o consumo de drogas, tentando impedir que o consumo transforme-se em dependência.
Portanto, a família e as demais áreas da vida dos usuários
de substâncias de abuso devem ser sempre e continuamente investigadas, em busca de vulnerabilidades e potencialidades, visando ao melhor planejamento e ao sucesso das ações preventivas e também terapêuticas.
Observa-se crescente prevalência do início do consumo de crack especialmente em situações com jovens em festas, grupos sociais marginalizados, sem moradia e prostitutas, pacientes dependentes de opiáceos e/ou cocaína.

O dependente de crack necessita de abordagem mais intensiva em função do grau de desestruturação ocasionado pelo consumo, além das mais baixas taxas de adesão ao tratamento com relação a pacientes de outras substâncias.

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Abuso e dependência: crack