Aluno: Valdecir Sousa.

A arteterapia é um dispositivo terapêutico que absorve saberes das diversas áreas do conhecimento, constituindo-se como uma prática transdisciplinar, visando a resgatar o homem em sua integralidade através de processos de autoconhecimento e transformação.

A Associação Brasileira de Arteterapia a define como um modo de trabalhar utilizando a linguagem artística como base da comunicação cliente-profissional. Sua essência seria a criação estética e a elaboração artística em prol da saúde.

Como campo específico do conhecimento, a arteterapia firma-se nos Estados Unidos da América, em 1940, com o trabalho de Margareth Nauberg, conhecida como a “mãe” da arteterapia por estabelecer as fundamentações teóricas para seu desenvolvimento, além de demarcá-la como área do saber.

A arteterapia recebeu influência de áreas do conhecimento como a Psicanálise Freudiana, que, no início do século XX, interessou-se pela arte como meio de manifestação do inconsciente através de imagens. Sigmund Freud observou que o artista pode simbolizar concretamente o inconsciente em sua produção, retratando conteúdos do psiquismo. Acerca disso, menciona-se seus estudos realizados sobre as obras de autores consagrados como Leonardo da Vince e Michelangelo.

A Psiquiatria Junguiana, na década de 1920, apropria-se da expressão artística como parte do processo psicoterápico. Para Jung imagens representam a simbolização do inconsciente individual e, muitas vezes, do inconsciente coletivo.

No Brasil, dois psiquiatras se destacam por suas contribuições na fundamentação teórica da arteterapia: Osório César, em 1923, e Nise da Silveira, em 1946. Osório César trabalhou com arte no hospital do Juqueri, em São Paulo, sob a influência da Psicanálise, enquanto Nise da Silveira desenvolveu um trabalho no Centro Psiquiátrico Dom Pedro II, no Rio de Janeiro sob a influência junguiana, procurando compreender as imagens produzidas pelos pacientes.

A arteterapia é um “processo predominantemente não verbal, por meio das artes plásticas e da dramatização, que acolhe o ser humano com toda sua complexidade e dinamicidade. Procura aceitar os diversos aspectos dos pacientes, como os afetivos, culturais, cognitivos, motores, sociais entre outros, tão importantes na saúde mental.

A arteterapia vem ganhando espaço cada vez maior na área da saúde e, sobretudo, no campo da saúde mental. A arteterapia apresenta-se como uma das ferramentas fundamentais que vêm colaborando para amenizar os efeitos negativos da doença mental. É central a promoção do bem-estar da pessoa com sofrimento psíquico, uma vez que a arteterapia propicia mudanças nos campos afetivo, interpessoal e relacional, melhorando o equilíbrio emocional ao término de cada sessão.

Observa-se que a arteterapia tem possibilitado aos usuários a vivência de suas dificuldades, conflitos, medos e angústias de um modo menos sofrido. Configura-se como um eficaz meio para canalizar, de maneira positiva, as variáveis do adoecimento mental em si, assim como os conflitos pessoais e com familiares. Nota-se que há uma minimização dos fatores negativos de ordem afetiva e emocional que naturalmente surgem com a doença, tais como: angústia, estresse, medo, agressividade, isolamento social, apatia, entre outros.

Tendo em vista nossas recentes experiências com a utilização de recursos artísticos como dispositivo terapêutico na saúde mental no referido CAPS SER III/ UFC, percebemos empiricamente que a arteterapia, em qualquer das linguagens artísticas aplicadas, tem se configurado importante instrumento para ajudar grupos de pessoas com transtornos mentais, trazendo consigo visíveis resultados em espaço de tempo relativamente curto.

O grupo Amigos da Arte pode ser percebido como espaço em constante processo de construção e reconstrução da integração, socialização, liberdade de experimentação do fazer e expressão artística de seus participantes tendo como objetivo fundamental minimizar o sofrimento mental, tornando possível o direito de achar o seu elo e o caminho para vida, mesmo que fora do padrão normal socialmente aceito. Consideramos que, mediante a interpretação e a reflexão das vivências na relação terapêutica, a pessoa vai se apropriando dos seus próprios conteúdos, conhecendo a si mesma e se tornando assim sujeito ativo do processo terapêutico.

Face a um contexto dessa natureza e com base nestas reflexões, esperamos sensibilizar e estimular outros profissionais da área de saúde mental e artistas de modo geral a vivenciar essas gratificantes experiências.

Autores: Neusa Freire CoqueiroI; Francisco Ronaldo Ramos VieiraII; Marta Maria Costa FreitasIII
IAssistente social. Especialista em Epidemiologia e Vigilância à Saúde, exercendo suas atividades como assistente social no CAPS/UFC.Centro de Atenção Psicossocial (CAPS / Universidade Federal do Ceará – UFC – Fortaleza (CE), Brasil
IIArtista plástico. Aluno do Curso de Especialização em Teorias da Comunicação e da Imagem da Universidade Federal do Ceará – UFC – Fortaleza (CE), Brasil
IIIEspecialista em Infecção Hospitalar. Enfermeira do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) Geral da Secretaria Executiva Regional III, conveniado à Universidade Federal do Ceará – UFC – Fortaleza (CE), Brasil

site:
Artigo recebido em 16/02/2009 e aprovado em 05/04/2010

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Arteterapia como dispositivo terapêutico em saúde mental