Aluna: Silvana Curty de Araujo

 

RESUMO

 

O presente trabalho busca uma análise sobre o trabalho do Assistente Social junto às famílias de alcoolistas. O alcoolismo é um problema grave de saúde pública, além de afetar o organismo do alcoólatra acarretando fortes consequências físicas, emocionais, psíquicas e sociais. Podendo afetar sua família, deixando um estado de vulnerabilidade no equilíbrio familiar, levando-nos a refletir sobre essa temática. A escolha do tema ocorreu pelo fato de se considerar afetado, não só o alcoólatra, mas também sua família e pela vontade de compreender como o Serviço Social contribui no trabalho dessa demanda. O objetivo geral desse trabalho é analisar a atuação do Assistente Social junto às famílias de alcoolistas, tendo também como objetivos específicos identificar segundo o profissional as possíveis mudanças ocorridas no convívio familiar durante o tratamento, analisar os desafios enfrentados pelos profissionais no atendimento das famílias usuárias.

 

INTRODUÇÃO

 

O alcoolismo é considerado um problema social e de saúde pública, a dependência do álcool é classificada como doença pela Organização Mundial de Saúde. Segundo o Ministério da Saúde o alcoolismo é a dependência do indivíduo ao álcool trazendo vários problemas físicos, mentais e consequências muitas vezes irreversíveis, além de males físicos também ocasiona problemas sociais na vida do indivíduo e das pessoas que se relacionam com ele. É nessa perspectiva que vamos estudar o alcoolismo na família como demanda para o Serviço Social.

 

A família é algo fundamental para o desenvolvimento do ser humano, pois é nela que criamos nossas bases de relacionamentos. Entendemos família como uma construção social, que se modifica e se adapta ao contexto social vivenciado. De acordo com Losacco (2000, p. 64) “Entendemos por família a célula do organismo social que fundamenta uma sociedade”. Nosso desenvolvimento humano e como cidadãos passam pela família ao estabelecer a base para nossas relações sociais, proporcionando ao indivíduo os elementos necessários para sua sobrevivência. O convívio familiar é muito abalado pelo alcoolismo, deixando um abismo entre os membros que acabam se isolando uns dos outros e socialmente.

 

Segundo Gigliotti e Bessa (2004, p.11) “O conceito de alcoolismo só surgiu no século XVIII, logo após a crescente produção e comercialização do álcool destilado, consequente a revolução industrial.” E vem sendo substituído por Síndrome de

 

 

dependência do álcool. O alcoolista e sua família ainda sofrem com a estigmatização social, pois apesar de ser considerado como uma doença muitos ainda pensam que

 

  • falta de caráter, transformando muitas vezes o convívio familiar e social em algo insuportável. A questão social da síndrome de dependência do álcool é uma problemática que traz bastantes expressões na família e na sociedade.

 

A família é de fundamental importância no tratamento do alcoolismo, pois sua participação envolve o paciente e possibilita lidar com os conflitos ocorridos de uma forma mais clara. Muitas vezes ainda é forte o sentido de negação da dependência, o tratamento acaba sendo buscado somente para tentar amenizar os momentos de crise. O envolvimento de todos possibilita lidar com as questões que podem gerar maiores chances do usuário recair e também possibilitam o desempenho da equipe multidisciplinar.

 

DESENVOLVIMENTO

 

A atuação do Assistente Social com famílias de alcoolistas é um campo de intervenção importante, além de despertar a curiosidade de buscar entendê-lo melhor. Considerando que o dependente não é o único afetado pelo alcoolismo, a família depois do etilista também pode ser alvo dessa doença. O alcoolismo é um problema de saúde pública, classificado como doença pela Organização Mundial de Saúde.

 

O alcoolismo é um dos problemas de saúde mais graves, pois afeta diretamente o cotidiano do usuário e de sua família que consequentemente tornam-se codependentes do indivíduo, pois sofrem com seus efeitos e suas mazelas juntamente com o alcoolista. A situação de alcoolismo dentro de uma família gera um grande desgaste, portanto, torna-se, também, uma doença de todo o grupo familiar.

 

Podemos dizer que o alcoolismo é um problema individual e coletivo, pois ao mesmo tempo que afeta a saúde, vida social, familiar e psíquica do etilista pode também acarretar um estado de vulnerabilidade familiar. Muitas vezes o vínculo e convívio familiar fica insuportável deixando a família sujeita a outras questões sociais.

 

Os impactos que a família recebe do alcoolismo pode prejudica-la em alguns sentidos da vida emocional, social, familiar e psíquica, é muito importante o tratamento do alcoolista junto a sua família pois ao mesmo tempo que o dependente

 

 

necessita de acompanhamento sua família também precisa. É importante esse vínculo entre profissionais, alcoolista e família permitindo um envolvimento da equipe com a vida do usuário dentro da instituição e fora, pois a persistência do tratamento depende de vários fatores que envolve a participação da família de forma direta no tratamento. Todas essas situações configuram-se em motivos para elaboração dessa pesquisa que irá contribuir para o conhecimento da realidade enfrentada pelos profissionais mostrando como o serviço é ofertado e como o Serviço Social trabalha com essa demanda. Considerando os graves problemas individuais e sociais decorrentes do alcoolismo e o crescente número dessa dependência, pode-se dizer que o trabalho do Assistente Social com as famílias de alcoolistas configura-se em uma demanda que requer sua investigação.

 

De acordo com a Lei n° 8.662, de 7 de junho de 1993, que regulamenta a profissão de Assistente Social, dentre algumas competências do Assistente social, estão a de orientar, e encaminhar providências. A exclusão, o desemprego, a violência e várias outras expressões da questão social podem se estabelecer no âmbito familiar. É nesse contexto que o Serviço Social atua. É no trabalho interventivo que o Serviço Social busca dar respostas a essas demandas.

 

Segundo Iamamoto (2004, p. 28),

 

Os assistentes sociais trabalham com a questão social nas suas mais variadas expressões quotidianas, tais como os indivíduos as experimentam no trabalho, na família, na área habitacional, na saúde, na assistência social pública etc.

 

Essas expressões podem afetar a família em suas mais variadas formas, consequentemente surgem como demanda para o Serviço Social que atua de forma interventiva em busca da autonomia e efetivação dos direitos desse grupo. O alcoolismo na família vem a se configurar como uma demanda para o serviço social na saúde mental. Segundo Bisneto (2011, p. 129) “o Serviço Social em Saúde mental faz entrevistas com o usuário e mantém ao longo do atendimento um processo de escuta da pessoa.” Essa Interação proporciona uma melhor convivência entre profissional e usuário, buscando avaliar motivos que estão além do aparente.

 

 

Segundo a Política Nacional da Assistência Social (2004, p. 41),

 

 

Por reconhecer as fortes pressões que os processos de exclusão sociocultural geram sobre as famílias brasileiras, acentuando suas fragilidades e contradições, faz-se primordial sua centralidade no âmbito das ações da política de assistência social, como espaço privilegiado e insubstituível de proteção e socialização primárias, provedora de cuidados aos seus membros, mas que precisa também ser cuidada e protegida.

 

Segundo Silva “A família aparece como demanda para o Serviço Social quando ocorre algum problema ou conflito na função social, ou seja, quando a família por um certo motivo não consegue cumprir o seu papel.” Esse víeis interventivo, proporciona ao profissional uma busca da autonomia desses indivíduos onde já afetados pelas mazela do alcoolismo.

 

De acordo com Bisneto (2010, p. 131),

 

 

O serviço social tem atuado principalmente no bojo do movimento de Reforma psiquiátrica, nos mais diversos programas de atendimento que visam possibilitar aos usuários melhores condições de vida ou reintegração social, e ainda de reabilitação psicossocial ou ressocialização.

 

O Serviço Social respeitando seu código de ética profissional e atuando de acordo com a reforma psiquiátrica pode possibilitar ao usuário e sua família a reinserção social principalmente em sua comunidade onde estão suas relações sociais estabelecidas e além disso pode possibilitar a autonomia, orientando e encaminhando esses usuários. Segundo Silva (2012, p.88) “O profissional de Serviço Social precisa em sua intervenção profissional uma postura crítica, investigativa e interventiva sobre a realidade que intervém.” Dessa forma é que será possível o estimulo e a tentativa de mudanças nas demandas vindas para o profissional, e um melhor andamento do tratamento, pois algumas situações interferem diretamente no desenvolver do tratamento.

 

Conforme relata Mesquita (2013, p. 35),

 

 

O trabalho do assistente social refere-se ao atendimento direto com os usuários e seus familiares a fim de esclarecer sua duvidas, direitos e deveres enquanto cidadão a partir de esclarecimentos em relação as questões levantadas, assim no espaço destinado ao Serviço Social ou seja sua atuação possui como um dos objetivo mais importante, proporcionar a conquista de autonomia dos usuários, através do exercício do empoderamento, que visam ao incentivo à participação e à ocupação por parte dos usuários e familiares nos espaços em que são oferecidos, bem como a conquista de novos espaços.

 

 

O trabalho do Assistente Social por lidar com pessoas torna-se mais complexo, a pratica adotada pelo profissional deve ser pautada na sua instrumentalidade. Segundo Sousa (2008, p. 124) “Expressar os objetivos que se quer alcançar não significa que eles necessariamente serão alcançados.” Mas deve-se buscar essa pratica de tentar realizar, traçar objetivos que possam ser alcançados. Segundo o mesmo autor “pensar a instrumentalidade do Serviço Social

 

  • pensar para além da “especificidade” da profissão: é pensar que são infinitas as possibilidades de intervenção profissional […] ’’ Assim, torna-se um desfio a profissão, pois em uma sociedade pautada pela realidade da exclusão social, o profissional tem que se manter em uma postura que não o desmotive diante das grandes dificuldades postas.

 

Conforme Mesquita (2013, p.36),

 

 

Nesse sentido pode-se perceber diversas atividades desenvolvidas pelo assistente social no CAPS ad, como : Triagem, Acolhimento, Atendimentos individuais, Atendimento família, Grupo Terapêutico, Orientações, Encaminhamentos, Entrega de benefícios (Vales Transportes), Vistas Domiciliares, Visitas Institucionais.

 

Essas atividades fazem parte da função do Assistente Social conforme Bisneto (2010, p.115) “o serviço social necessita ir além das aparências, dos objetos fetichizados, da assistência social a-critica, da ajuda pela ajuda, do humanismo idealista.” Deve-se ir além da realidade trazida, tentar enxergar o que está por traz de diversas questões que envolvem aqueles usuários.

 

Segundo Seeger (2011, p. 42)

 

 

família deve ser considerada um dos pilares dos procedimentos voltados à reconstrução de vida dos dependentes químicos, em específico dos alcoolistas, devendo ser incluída no decurso do cuidar não apenas com apoio ao tratamento, mas também como alvo dessa atenção, reconhecendo-se, assim a sua importância enquanto estrutura social.

 

Dessa forma com o envolvimento da família possibilita-se um melhor desenvolvimento do tratamento, pois é na família que estão alguns dos principais conflitos que podem gerar possíveis complicações e interferir na adesão do usuário e, sendo a família uma instituição fundamental não só para o indivíduo, mas para toda a sociedade, está deve ser trabalhada pois ao conviver com a dependência podem se estabelecer diversas mazelas prejudicando seu convívio e sua dinâmica familiar.

 

 

O estudo buscou analisar a prática do Assistente Social junto as famílias de alcoolistas ressaltando a importância dessa atuação não somente, para as famílias, mas para a categoria profissional. Entendendo o conceito de família como uma construção social que se reformula e se adapta ao contexto vivenciado recebendo interferência da sociedade e ao mesmo tempo influenciando na mesma. Diversas mudanças ocorreram na configuração familiar, e momentos importantes vivenciados pela sociedade contribuíram para essas modificações. A família é a instituição que mais influencia o ser humano, nela são criadas as bases das relações sociais. “A família é a primeira referência da pessoa, é como uma sociedade em miniatura.” (BRASIL, 2013, p.102). Buscou-se compreender os novos arranjos familiares configurados no contexto social atual. Concordando com a afirmação de Losacco (2000, p. 66) onde relata que “no debate contemporâneo sobre este tema, não podemos mais falar de família (no singular).” Deve-se buscar compreender essa pluralidade. Dessa forma após compreender a família e suas transformações buscou-se contextualizar o alcoolismo como um problema individual e ao mesmo tempo coletivo, que prejudica o estado físico e social do alcoolista e interfere na dinâmica familiar podendo ocasionar graves problemas para o dependente e sua família, deixando-a em um estado vulnerável e sujeita as novas expressões da questão social. O alcoolismo geralmente tem um profundo impacto na relação familiar do dependente do álcool, seja ele homem ou mulher.

 

CONCLUSÃO

 

Dessa forma procurou-se conhecer a rede de apoio ao tratamento desses grupos, onde podemos perceber as politicas públicas como a Politica Nacional Sobre o álcool que estabelece princípios norteadores para o enfrentamento dos problemas relacionados ao consumo. Essa politica “reflete a preocupação da sociedade em relação ao uso cada vez mais precoce dessa substância, assim como o seu impacto negativo na saúde e na segurança.” (BRASIL, 2013, p.102). Outra política de bastante relevância é a Política para atenção integral aos usuários de álcool e outras drogas de 2003, articulada a política de saúde mental, buscou-se ter uma visão mais ampla dos problemas relacionados ao uso de álcool e outras drogas, deixando de encará-lo somente como questão de punição, articulando Estado, Família e Sociedade, envolvendo a reabilitação, prevenção e o tratamento. São avanços para esses grupos, mas torna-se necessário e preciso efetivar de

 

 

forma concreta essas políticas.

 

Um importante dispositivo para as práticas da Reforma psiquiátrica foram os CAPS, criados para substituírem gradativamente os manicômios, configuram-se em locais de busca da reinserção social do usuário e cuidado familiar. No que se refere ao alcoolismo o CAPS ad é uma peça fundamental, nele o usuário e sua família são atendidos na perspectiva de reabilitação social.

 

Conclui-se que o CAPS ad é um dos dispositivos de atuação do Serviço Social na saúde mental atuando de acordo com a reforma psiquiátrica respeitando o usuário, onde trabalha com as praticas orientadas de acordo com seu código de ética, buscando a autonomia e reinserção do usuário e sua família, através da escuta, orientação acolhimento e encaminhamentos viabilizando a oportunidade de acesso a direitos e serviços aos quais não se tinha. Conclui-se também que o trabalho com as famílias de alcoolistas é de suma importância para o tratamento, o envolvimento da família proporciona melhores condições para a intervenção profissional. Ressalta-se que a prática do Assistente Social não é algo sistematizado, a intervenção vai de acordo com a realidade trazida por cada família, além disso destaca-se a precariedade do suporte oferecido ao profissional para a realização de algumas atividades. O trabalho com as famílias é algo fundamental, mas torna-se um grande desafio a ser enfrentado pelo profissional, desde a busca da adesão as tarefas realizadas, a não desmotivação da família com o tratamento, a precariedade dos suportes dados ao profissional e realização da reinserção social desses grupos em uma sociedade altamente excluidora e estigmatizante. Dessa forma conclui-se que o profissional tem um papel fundamental com essas famílias, ao tentar proporcionar orientação e intervenção nas mais diversas temáticas trazidas pelos usuários, na busca de resgatar a autonomia social desses grupos.

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

 

BISNETO, José Augusto. Serviço social e saúde mental: uma análise institucional

 

da prática. 3.ed. São Paulo: Cortez, 2011.

 

 

BRASIL, Ministério da Saúde (BR). A política do Ministério da Saúde para atenção integral a usuários de álcool e outras drogas. Brasília (DF); 2003.

 

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de

 

Ações Programáticas Estratégicas. Saúde mental no SUS: os centros de atenção psicossocial / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. – Brasília: Ministério da Saúde, 2004.

 

GIGLIOTT, Analice; BESSA, Marco Antônio. Síndrome de Dependência do Álcool:

 

critérios diagnósticos. Revista Brasileira de Psiquiatria. v.26, n.1, p. 11-13, maio.

 

  1. Disponível em:<http://www.scielo.br/pdf/rbp/v26s1/a04v26s1.pdf>. Acesso em:

 

15 nov. 2014.

 

 

IAMAMOTO, Marilda Villela. O serviço social na contemporaneidade: trabalho e

 

formação profissional. 12.ed. São Paulo: Cortez, 2007.

 

 

IAMAMOTO, Marilda Villela. Relações sociais e Serviço Social no Brasil: esboço

 

de uma interpretação histórica – metodológica. 26.ed. São Paulo: Cortez, 2009.

 

 

LOSACCO, Silvia. O jovem e o contexto familiar. In: ACOSTA, Ana Rojas; VITALE,

 

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  1. 119-132, 2008. Disponível em:< http://www.uepg.br/emancipacao>. Acesso em : Acesso em: 17 Abril. 2015.
A atuação do assistente social com famílias de alcoolistas