Aluna: Simone Gisele Fina

28/11/2018

 

Narcóticos Anônimos, Grupo de Ajuda Mútua  –  Aluna: Simone Gisele Fina

 

ÍNDICE

 

 

 

  • Resumo……………………………………………………………………………………………………………….. 2

 

  • Introdução…………………………………………………………………………………………………………. 3

 

  • Definição……………………………………………………………………………………………………………. 4

 

  • Adicção, Adoecimento e Cronicidade………………………………………….. 4

 

  • O Grupo Narcóticos Anônimos…………………………………………………………. 6

 

  • Conclusão…………………………………………………………………………………………………………… 8

 

  • Os Doze Passos……………………………………………………………………………………………… 9

 

  • As Doze Tradições……………………………………………………………………………………… 10

 

  • Bibliografia………………………………………………………………………………………………………. 10

 

 

 

 

 

 

 

RESUMO

 

Os grupos de ajuda mútua estão cada vez mais se tornando objetos de pesquisa das Ciências Sociais. Este universo de interações e relações sociais permite analisar concepções acerca dos entendimentos sobre o que é normal, desvio, saúde e doença. Dentro das atuais discussões sobre o uso e abuso de drogas; o lugar da saúde e as condições dos sujeitos nesse universo, o grupo Narcóticos Anônimos (NA) aparece como um lugar de grande potencial para investigar a ideia da cronicidade perante a adicção as drogas. Esses grupos são fortalecedores da autoafirmação, autocontrole e construção de uma consciência coletiva frente à doença.

 

O NA é formado por pessoas que se consideram “adictos às drogas em recuperação” e que se auto denominam doentes precisando de tratamento.

 

Que se apropriam das técnicas do corpo apreendidas e elaboradas pelo grupo para tentar controlar o problema e viver socialmente. O caráter de doença crônica é prerrogativa para o tratamento da adicção, o grupo se vale desse pragmatismo para que os membros estejam sempre em cuidado de si. Desta forma, o estar “adicto em recuperação” coloca o indivíduo em situação de adoecimento e de cronicidade. Ele irá, da maneira como sua condição é re-significada a partir da experiência com o grupo, elaborar formas de lidar com a doença, com o estado de abstinência e com sua recuperação. Dentro da perspectiva de trabalhar a experiência do adoecimento da adicção em um grupo de ajuda mútua, algumas das questões que norteiam essa proposta são: como se constituem significados acerca do processo saúde-doença? Em que medida o uso (abuso) de drogas é considerado uma doença crônica precisando de tratamento? Portanto, na perspectiva teórico-metodológico das pesquisas em Antropologia da Saúde, este trabalho apresenta a proposta de investigar o grupo de ajuda mútua como lugar de tratamento de uma doença que é física, social e

 

 

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sobretudo moral. Compreendendo os significados acerca da condição do uso/abuso de drogas e como isso passa a ser visto como doença, entendendo o “adicto em recuperação” enquanto sujeito no processo do adoecimento crônico, da manutenção da abstinência e do tratamento. Que tem na experiência do adoecimento, nas narrativas e nas técnicas do corpo a forma de alcançar a recuperação diária.

 

 

 

 

Palavras-chave: Adicção, Grupos, Mútua, Ajuda, Narcóticos, Espiritualidade

 

 

 

 

 

 

INTRODUÇÃO

 

Os grupos de ajuda mútua tem se tornado cada vez mais objeto de estudo das Ciências Sociais, sobretudo o Alcoólicos Anônimos (AA). As principais discussões destes trabalhos tem sido a questão da construção da pessoa (CAMPOS, 2005), do estigma enfrentado pelos membros dos grupos, a formação da identidade (FRÓIS, 2007) e até mesmo da ritualização existente. No entanto, na Antropologia há uma bibliografia mínima sobre o grupo Narcóticos Anônimo (NA) em si.

 

Jardel Loeck (2009), discutindo a representação social da noção de “adicção” em trabalho com uma rede de grupos de NA em Porto Alegre, aponta para a escassez de trabalhos nesta área e para a peculiaridade do tema. Contudo, o estudo de grupos de ajuda mútua é um lugar em potencial para a pesquisa antropológica, principalmente por ser um lugar que transita entra a normatividade e o desvio.

 

O grupo NA é uma associação comunitária formada por pessoas que se autodenominam “adictos a drogas em recuperação”. Narcóticos Anônimos derivou do movimento de Alcoólicos Anônimos, tendo suas primeiras reuniões em Los Angeles, Califórnia, no início dos anos 1950. O primeiro grupo de NA estabeleceu-se no Brasil em 1985, no Rio de Janeiro. Então em 1990 uniram-se à irmandade mundial de NA3. O grupo aparece como um espaço de troca de experiências que ajuda os seus membros a encararem a doença através dos relatos, dos Doze passos, Doze tradições e outras publicações disponíveis.

 

O NA tem por princípio proteger o anonimato individual e a auto indicação no andamento das reuniões e do cumprimento das atividades. Para participar do grupo é necessário “o desejo de parar de usar”, pois é em torno da abstinência que as relações do grupo são estabelecidas.

 

Para estudar grupos de ajuda mútua é necessário pensar em relações sociais e experiências, perceber que cada cultura apresenta um leque de concepções do que seja “normal” e o que seja “desvio”. Compreender como sua atual condição pode ser re-significada e reelaborada para ser vista no mundo social.

 

O universo da “adicção”, visto como uma doença crônica plausível de tratamento, este – no grupo NA – oferecido a partir da troca de experiências e da

 

 

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manutenção da abstinência.

 

 

 

DEFINIÇÃO

 

De início, é importante destacar que, conforme o processo básico de funcionamento desses grupos, a denominação mais adequada é a de ajuda mútua (Sanchez Vidal, 1991). O autor propõe uma integração das duas expressões: são grupos de auto-ajuda (GAA) na medida em que mantêm total autonomia em relação as instituições e profissionais (ou seja, o grupo ajuda a si mesmo) e são grupos de ajuda mútua porque baseiam sua atuação na mutualidade (os participantes ajudam uns aos outros).

 

Encontra-se em Richadson e Goodman (1983, citado em Sanchez Vidal, 1991) a mais sucinta definição de GAA: “Grupos de pessoas que pensam ter um problema em comum e se reúnem para fazer algo a respeito” (p. 471).

 

A partir dos trabalhos de Borkman (1976), Jacobs e Goodman (1989), Levy (1976) e Rootes e Aanes (1992), reuniram-se mais informações para melhor definir um GAA. Os critérios mais utilizados são os seguintes:

 

  • autogestão – os próprios integrantes encarregam-se de todos os procedimentos necessários para a manutenção do grupo;

 

  • independência de instituições e profissionais de saúde – GAA são leigos e autônomos;

 

  • participação voluntária – a freqüência ao grupo é totalmente livre;

 

  • nenhum interesse financeiro – GAA não visam lucro; sustentam-se com doações espontâneas dos integrantes;

 

  • dirigidos para um único problema – os grupos têm um foco: alcoolismo, drogadição, problemas emocionais, compulsão alimentar;

 

  • experiências pessoais como principal fonte de ajuda – GAA não utilizam conhecimento científico ou literatura especializada; o conhecimento partilhado é experiencial.

 

Fique claro que esses são os critérios mais comumente utilizados para definir um GAA; entretanto, considerando-se a quantidade e a variedade de grupos existentes (principalmente nos EUA), nem todos se encaixam precisamente nessa definição.

 

 

 

 

“ADICÇÃO”, ADOECIMENTO E CRONICIDADE

 

A questão que permeia o uso de drogas é complexa e envolve muitas condições, como cita Simões (2008): “Drogas” não são somente compostos dotados de propriedades farmacológicas determinadas, que possam ser natural e definitivamente classificadas como boas ou más. Sua existência e seus usos envolvem questões complexas de liberdade e disciplina, sofrimento e prazer,

 

 

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devoção e aventura, transcendência e conhecimento, sociabilidade e crime, moralidade e violência, comércio e guerra.

 

Desta forma há aqueles que em algum momento vão apresentar condutas onde o uso, que pode ser visto como problemático e abusivo, trará implicações sociais.

 

A ideia de doença é colocada primeiramente a partir da concepção do próprio grupo, que entende que assumir a adicção como uma doença é o primeiro passo para conseguir viver em abstinência. Já a perspectiva da cronicidade se entende como uma categoria mais subjetiva que envolve os sujeitos no processo de um tratamento.

 

O crônico aqui está afirmado, sobretudo, pelo cotidiano do grupo, e pelas questões individuais geradas pela busca de uma abstinência longa e duradoura, mas concebida sobre uma determinação e uma manutenção diária do corpo e das normas – “Só por hoje”.

 

Deste modo pensar que a questão de tratar a “adicção” ao uso (abuso) de drogas como uma doença é necessário entender que o NA aborda o tema da seguinte forma: “A nossa experiência com a adicção é que, quando aceitamos que ela é uma doença sobre a qual somos impotentes, tal aceitação fornece uma base para a recuperação através dos Doze Passos. Tratamos adicção como uma doença, porque isso faz sentido para nós e funciona”. Contribuindo com esta questão, Langdon (1995, p.12) diz que “a doença não é mais um conjunto de sintomas físicos universais observados numa realidade empírica, mas é um processo subjetivo no qual a experiência corporal é mediada pela cultura”. Portanto, conceber a “adicção” como uma doença física, social e moral, é fundamental para a compreensão do “adicto em recuperação” e sua busca por uma solução.

 

Então, os Narcóticos Anônimos tem se tornado cada vez mais uma alternativa para aqueles que querem “se recuperar”. Colocando a disciplina como ponto importante para o tratamento e para manter-se em abstinência; como foi dito por um membro do grupo de NA em Natal/RN: “recuperação não é pra neguinho não, é pra negão. O cara tem que ser raçudo”. Esta narrativa apresenta uma ideia de forma e resistência como determinantes para alcançar a recuperação.

 

Isto pode resgatar a ideia de cronicidade se relacionada ao processo de manutenção da abstinência como algo que mesmo partilhado coletivamente, tem um determinante individual. Sobre a ideia de cronicidade e a sua perspectiva individual Adam e Herzlich (2001) citam que: “as doenças crônicas não são acompanhadas de sintomas diretamente visíveis. Às vezes, apenas a própria pessoa sabe de sua condição de portadora de doença e esta situação pode durar anos, ou a maior parte da vida do indivíduo, ou menos a vida inteira. (p.25)”.

 

Articulando essa argumentação com a ideia das técnicas corporais (MAUSS, 2003) é possível visualizá-las como ferramentas de manutenção da abstinência e da vida, sobretudo social. Pode-se perceber a “adicção” como uma doença que pode ser re-significada a partir das experiências vividas e da construção de uma identidade “em recuperação” e “em superação”. Deste modo, frequentar o NA é uma alternativa encontrada por pessoas que, consideravelmente, têm problemas com o uso e abuso de drogas; na tentativa de “manter-se limpo” e reintegrar-se na sociedade.

 

 

 

 

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O GRUPO NARCÓTICOS ANÔNIMOS

 

A rotatividade das pessoas em grupos de ajuda mútua é frequente.

 

A dinâmica de organização e de manutenção dos grupos de NA são regidas por normas indicadas pelos Doze Passos e pelas Doze Tradições, fazendo com que outros grupos sigam o mesmo critério. Então a fundamental importância está na constituição enquanto grupo e na preservação do anonimato. Então constituído de um universo de interpretações e significados sobre a interação social é necessário considerar que o lugar do anonimato permite um controle de impressões e de informações que também se compreende enquanto dado metodológico.

 

Partindo da categoria de outsiders de Howard Becker (2008) entende-se que “quando uma regra é imposta, a pessoa que presumivelmente a infringiu pode ser vista como um tipo especial, alguém de quem não se espera viver de acordo com as regras estipuladas pelo grupo. Esta pessoa é encarada como um outsider” (p. 15).

 

No caso dos membros do NA essa condição se coloca em duas vias; quando

 

  • considerado o problema com drogas e no tipo de tratamento. O anonimato e o lidar com essa situação, envolve uma série de controles e negociações que, por vezes, precisam de suporte para que se sustentem. Assim é necessário compreender a relação entre a manutenção da “recuperação” e a participação no grupo de NA.

 

Aqui, a observação participante (MALINOWSKI, 1976; FOOTE-WHYTE, 1980; VELHO, 2008) é o momento ímpar onde pesquisador e pesquisado encontram-se em um “mesmo” contexto; no caso do trabalho com o Narcóticos Anônimos é possível pensar em como isso tudo é performado (MOL, 2008) e gerenciado de acordo com os interesses mútuos.

 

“Não se pode pensar num trabalho de campo neutro. A forma de realizá-lo revela as preocupações científicas dos pesquisadores que selecionam tanto os fatos a serem coletados como o modo de recolhê-los. Esse cuidado faz-nos lembrar mais uma vez que o campo social não é transparente e tanto o pesquisador como os atores, sujeitos-objetos da pesquisa interferem dinamicamente no conhecimento da realidade”. (MINAYO, 1999, p.107)

 

Aqui está evidenciada a questão do anonimato do grupo NA e da participação de uma pesquisadora outsider do contexto de adicção, mas informada (GOFFMAN, 1975) na perspectiva da familiaridade com o tema. Assim entre si, e etnógrafo e seus sujeitos são, simultaneamente, atores e público. Têm que julgar os motivos e demais atributos de uns e dos outro com base em contato breve, mas intenso, e, em seguida, decidir que definição de si mesmos e da situação circundante desejam projetar; o que revelarão e o que ocultarão, e como será melhor fazê-lo. (BERREMAN, 1980. P.141).

 

Esta citação permite a reflexão acerca do realizar pesquisa etnográfica e, sobretudo, instiga uma análise sobre os caminhos que se pretende tomar e aqueles que são direcionados pelo campo de pesquisa. Aqui é necessário pensar as agruras que o campo nos oferece.

 

As reuniões acontecem em uma sala com cadeiras em forma de um semicírculo, com uma mesa grande onde ficam os folhetos que são vendáveis e os

 

 

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chaveiros com a identificação de quanto tempo se estava limpo (sem usar nenhuma droga). Nas paredes, estão afixados quadros com as 12 tradições e os 12 passos, além da oração da serenidade e do quadro negro, onde está escrito o que se deve evitar (pessoas, lugares, hábitos, procrastinar, mentira, 1º gole, fome, orgulho e medo) e o que se deve procurar (boa vontade, mente aberta, 90 dias – 90 reuniões, honestidade, ter apadrinhamento, humildade, partilhar, trabalhar os passos, ler a literatura e participar e não somente falar). Essas características remetem ao movimento do exercício contínuo pela manutenção da abstinência, pela recuperação de uma doença e pela condição de cronicidade do ser um “adicto em recuperação”.

 

O entendimento que se tem a partir da experiência do tratamento da “adicção” traz uma série de interpretações para a própria condição do estar doente.

 

Langdon (1995), Alves e Rabelo (1999), Adam e Herzlich (2001) trazem discussões fundamentais para entender qual a importância da experiência com a doença para as re-significações da vida, do corpo e do normal. Pode-se trazer para o contexto da “adicção” aquilo que Alves e Rabelo (1999, p.171) dizem sobre a enfermidade, que “não é apenas uma ‘entidade biológica’ que deva ser tratada como coisa; é também experiência que se constitui e adquire sentido no curso de interações entre indivíduos, grupos e instituições.”

 

Então, sendo o grupo de ajuda mútua um lugar de falar e ouvir o outro, uma das formas de entender o adoecimento é analisar as narrativas da experiência e significados da “adicção”. Buscando compreender em que medida o uso de drogas se tornou um problema e, de fato, uma doença precisando de tratamento e, quais as percepções do lidar com a abstinência utilizando-se do corpo e tendo na cronicidade uma condição subjetiva do sujeito em recuperação. Aqui cabe registrar como os indivíduos constituem suas narrativas do adoecimento e da “adicção” e o seu valor para um grupo de ajuda mútua. Neste aspecto, Claudine Herzlich (2004, p. me ajuda a pensar o papel das narrativas quando diz: “Os ‘discursos’ dos pacientes acerca da saúde e da doença narram experiências pessoais e privadas que são, no entanto, ‘socializadas’. Eles esclarecem alguns aspectos das relações entre o indivíduo e seu grupo em contextos biográficos específicos marcados pela doença.”

 

Para compreender como a interlocução entre o grupo é lugar de construção de um processo de tratamento, longo, contínuo e duradouro devemos pensar que o sujeito e a sua experiência com a “adicção” levando em consideração seus significados, relação com a sociedade, com o corpo e o porquê de procurar ajuda no NA.

 

Para isso podemos ver como pensando como as narrativas da experiência com o uso de drogas e suas manifestações são colocadas no processo de concepção das técnicas corporais (MAUSS, 2003), refletindo nas formas de construir um certo corpo para este sujeito vivendo a experiência da abstinência. Partindo do ponto que, para um “adicto em recuperação”, o corpo tem papel fundamental no convívio com a condição de “só por hoje” , aparecendo ora como o termômetro da recuperação, ora como a ferramenta para continuar em abstinência. Le Breton (2008, p.31) elucida esse ponto, mostrando que na contemporaneidade o corpo é julgado e classificado e, que “nossas sociedades consagram o corpo como emblema de si. É melhor construí-lo sob medida para derrogar ao sentimento da melhor aparência.” Lema de alguns

 

 

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grupos de ajuda mútua, entre eles o NA e o AA.

 

Quando se entendo que: estar “adicto em recuperação” é um processo crônico e que nunca se dá por encerrado, pois aquele que teve problemas com as drogas em alguma medida, dia após dia – por mais tempo que se passe – estará em um momento de afirmação e manutenção da condição de abstinência. Nesta perspectiva esse processo pode ser relacionado ao conceito de controle de informações trabalhado por Goffman (1975) e a sua relação com a formação da identidade pessoal, relacionando duas categorias que se encaixam para ilustrar o que está sendo dito: identidades desacreditada e desacreditável.

 

Deste modo: A questão que se coloca não é a de manipulação da tensão gerada durante os contatos sociais e, sim, da manipulação de informação sobre o seu defeito. Exibi-lo ou ocultá-lo; contá-lo ou não contá-lo; revelá-lo ou escondê-lo; mentir ou não mentir; e, em cada caso, para que, como, quando e onde. (GOFFMAN, 1975, p.51).

 

Portanto, a experiência é aquela onde o indivíduo assume ou situa-se frente a essa forma de definir e identificar seu problema, fazendo com que algo, que até então não fazia parte da sua condição, seja interpretado como tal. Essa rede de interpretações dá margem a uma série de significações que são elaboradas em função da formação das referências da cultura e da sociedade. Desta forma é possível dizer que: as concepções, interpretações e explicações de causa são uma forma privilegiada de acesso a outros significados mais complexos no que se refere à experiência da doença em suas explicações mais básicas.

 

Os modelos explanatórios sobre doença não se apresentam de forma coerente e dependem muito da interpretação das pessoas que estão envolvidas no contexto. (CAROSO et al, 2004, p.147).

 

Observa-se então como a experiência se transforma num fator importante para lidar com a recuperação dentro de um contexto social e para pensar um futuro.

 

 

 

 

 

 

CONCLUSÃO

 

De uma forma breve, gostaria de encerrar as considerações feitas nesse texto. Aqui foi fundamental entender que o trabalho exposto partiu de uma série de questionamentos teóricos e metodológicos acerca da realização de pesquisa com um grupo de ajuda mútua Narcóticos Anônimos. Este instigado a partir de um campo realizado no ano de 2018, ainda na ocasião do curso de Formação de Terapeutas em

 

Dependência Química realizado na Clínica Jorge Jaber.

 

A ideia central aqui abordada versa sobre a condição de que o estar “adicto” em uma categoria definida por e para aqueles sujeitos que constituem o grupo NA e procurar ajuda com o grupo para recuperar-se de seus problemas como o uso e o abuso de drogas. De modo que para que isto ocorra a condição latente é que o indivíduo reconheça que está doente e precisa de tratamento.

O tratamento, este, tem como objetivo alcançar a abstinência total às drogas

 

 

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e uma reinserção na sociedade. Então, aqui vemos a categoria de “adicto em recuperação”.

 

Este e/ou aquela pessoa que está constantemente tentando viver livre das

 

drogas.

 

  • exatamente nesta condição que vê-se a questão subjetiva da idéia de cronicidade para pensar no tratamento da adicção. Pois entendendo que as drogas podem voltar a tornar-se problema para a vida daquele indivíduo, ele estará sempre em constante processo de tratamento e em busca de sua abstinência.

 

Aqui a idéia de doença e cronicidade se mostram categorias vindas de uma literatura biomédica, mas que é incorporado pelo grupo para que esse se entenda como tal e alcance os objetivos. Que, pela idéia de processo, nunca são finalizados, mas que acompanham toda a história dos membros do grupo, sua vida, seu corpo e sua saúde.

 

 

 

 

 

 

Os doze Passos

 

1º. Admitimos que éramos impotentes perante a nossa adicção, que nossas vidas tinham se tornado incontroláveis.

 

2º. Viemos a acreditar que um Poder maior do que nós poderia devolver-nos à sanidade.

 

3º. Decidimos entregar nossa vontade e nossas vidas aos cuidados de Deus, da maneira como nós o compreendíamos.

 

4º. Fizemos um profundo e destemido inventário moral de nós mesmos.

 

5º. Admitimos a Deus, a nós mesmos e a outro ser humano a natureza exata das nossas falhas.

 

6º. Prontificamo-nos inteiramente a deixar que Deus removesse todos esses defeitos de caráter.

 

7º. Humildemente pedimos a Ele que removesse nossos defeitos.

 

8º. Fizemos uma lista de todas as pessoas que tínhamos prejudicado, e dispusemo-nos a fazer reparações a todas elas.

 

9º. Fizemos reparações diretas a tais pessoas, sempre que possível, exceto quando faze-lo pudesse prejudica-las ou a outras.

 

10º. Continuamos fazendo o inventário pessoal e, quando estávamos errados, nós o admitíamos prontamente.

 

11º. Procuramos, através de prece e meditação, melhorar nosso contato consciente com Deus, da maneira como nós O compreendíamos, rogando apenas o conhecimento da Sua vontade em relação a nós, e o poder de realizar essa vontade.

 

12º. Tendo experimentado um despertar espiritual, como resultado destes passos, procuramos levar esta mensagem a outros adictos e praticar estes princípios em todas as nossas atividades.

 

 

 

 

 

 

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As doze Tradições

 

1º. O nosso bem estar comum deve vir em primeiro lugar; a recuperação individual depende da unidade de NA.

 

2º. Para o nosso propósito comum existe apenas uma única autoridade – um Deus amoroso que pode se expressar na nossa consciência coletiva. Nossos líderes são apenas servidores de confiança, eles não governam.

 

3º. O único requisito para ser membro é o desejo de parar de usar.

 

4º. Cada grupo deve ser autônomo, exceto em assuntos que afetem outros grupos ou NA como um todo.

 

5º. Cada grupo tem apenas um único propósito primordial – levar a mensagem ao adicto que ainda sofre.

 

6º. Um grupo de NA nunca deverá endossar, financiar ou emprestar o nome de NA a nenhuma sociedade relacionada ou empreendimento alheio, para evitar que problemas de dinheiro, propriedade ou prestígio nos desviem do nosso propósito primordial.

 

7º. Todo grupo de NA deverá ser totalmente auto-sustentável, recusando contribuições de fora.

 

8º. Narcóticos Anônimos deverá manter-se sempre não profissional, mas nossos centros de serviço podem contratar trabalhadores especializados.

 

9º. NA nunca deverá organizar-se como tal; mas podemos criar quadros de serviço ou comitês diretamente responsáveis perante aqueles a quem servem.

 

10º. Narcóticos Anônimos não tem opinião sobre questões alheias; portanto o nome de NA nunca deverá aparecer em controvérsias públicas.

 

11º. Nossa política de relações públicas baseia-se na atração , não em promoção; na imprensa, rádio e filmes precisamos sempre manter o anonimato pessoal.

 

12º. O anonimato é o alicerce espiritual de todas as nossas Tradições, lembrando-nos sempre de colocar princípios acima de personalidades.

 

 

 

 

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VELHO, Gilberto. Individualismo e cultura: notas para uma antropologia da sociedade contemporânea. Rio de Janeiro. Zahar. 2008.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Grupo de Ajuda Mútua