Aluna: Luciana Maria Soares.
Na última semana de dezembro de 2012, um dos principais jornais norte-americanos, o Washington Post, publicou matéria em que afirma que a dependência de crack no Brasil virou uma epidemia. Com o título “Cidades brasileiras são atingidas por epidemia do crack”, a reportagem faz um alerta dizendo que a epidemia acontece em diversas cidades brasileiras em meio aos preparativos do país para a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016.
Em setembro passado, o 2º Levantamento Nacional de Álcool e Drogas, divulgado pela Universidade Federal de São Paulo, mostrou que o Brasil é o maior mercado de crack do mundo e o segundo de cocaína. Os dados mostram que um em cada cem adultos fumou crack, o que representa um milhão de brasileiros acima dos 18 anos. Quando a pesquisa abrange o consumo das duas drogas, cocaína e crack, o número atinge 2,8 milhões de pessoas em todo o país.
2013 começou com a decisão do governo de São Paulo de internar involuntariamente os dependentes de crack. Entre as centenas de crianças, adolescentes e adultos que ocupam as ruas de São Paulo, muitos desistiram do tratamento. Outros nem aceitaram ser internados. Diante desse cenário que se arrasta há anos, o governo resolveu mudar de estratégia e internar os mais debilitados, mesmo contra a vontade deles.
Equipes de abordagem vão identificar os usuários em situação mais grave. Eles serão levados a um centro de referência perto da cracolândia, local onde se concentram os dependentes. Lá, vão ser avaliados por médicos. A equipe terá ainda advogados, promotores e juízes que vão decidir sobre a internação.
A internação compulsória já está sendo aplicada pela prefeitura do Rio de Janeiro desde julho passado. Estudos da Secretaria Municipal de Assistência Social (SMAS) mostram que desde 2005 o número de menores viciados em crack começou a crescer na capital fluminense, quando saltou de 13% para 69% em 2008 – dados do último levantamento.
Posição – A ABP sempre se posicionou favoravelmente a internação involuntária, desde que acompanhada por um psiquiatra, porque entende que o dependente químico tem direito ao melhor tratamento, que pode ser ambulatorial, internação dia, noite ou integral.
A presença do psiquiatra no momento da decisão da internação é necessária porque detêm o conhecimento a respeito dos mais eficazes procedimentos para preservar a vida do dependente químico. “A ABP espera, há décadas, um modelo de atendimento que não supre a demanda, não tem eficiência e resolutividade e, principalmente, não atende a Lei 10.216/2001 que estabeleceu as diretrizes da saúde mental no país, emoldurando uma nova estratégia, fundada na humanização do tratamento e na formação de uma rede, sem nenhum serviço com características asilares. O núcleo deixou de ser o hospital, mas passou a ser outro serviço, o CAPS”, argumenta Antonio Geraldo da Silva, presidente da ABP.
Na imprensa – Antonio Geraldo da Silva, participou da edição desta semana do programa GloboNews Alexandre Garcia. No debate com o secretário de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde, Helvécio Magalhães, o presidente da ABP disse que os psiquiatras encaram com desconfiança a medida de internação involuntária dos dependentes químicos uma vez que, desde 2010, a comunidade médica espera a efetiva aplicação de recursos financeiros governamentais em programas de atendimento e internação de dependentes químicos e políticas públicas efetivas juntamente com diretrizes de tratamento.
Antonio Geraldo da Silva também alertou que a porta de entrada do crack é o alcoolismo que até hoje a sociedade não conseguiu vencer. O presidente da ABP também contestou a informação do secretário de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde que disse que sobram leitos para tratamento dos dependentes químicos. “Somos mais de oito mil psiquiatras em todo o País e diariamente recebemos indicações que faltam leitos”, declarou.
PUBLICADO EM 11 DE JANEIRO DE 2013
Fonte : Associação Brasileira de Psiquiatria